Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Le Monde assume que mudou

ENTREVISTA / THOMAS FERENCZI

Leneide Duarte, de Paris

O jornalista Thomas Ferenczi, um dos três diretores de redação do diário Le Monde, se desculpa ao marcar a entrevista. Como quase todos os prédios muito freqüentados de Paris, a porta principal do jornal está bloqueada e a entrada terá que ser pela rua ao lado, como conseqüência do plano Vigipirate, de segurança máxima, em vigor na cidade desde o atentado de Nova York. Em entrevista ao Observatório da Imprensa, Ferenczi fala com prazer e orgulho sobre o mais importante jornal francês, respeitado e copiado em todo o mundo, modelo de jornalismo de análise e de reflexão. Conta como seu jornal se transformou com o tempo e, por influência americana, passou também a praticar a investigação jornalística.

O jornalista é autor de vários livros, entre eles A invenção do jornalismo na França: nascimento da imprensa moderna no fim do século 19 e Eles o mataram: o caso Salengro, ambos pela Editora Plon. No primeiro, em exame que faz da imprensa francesa, Ferenczi diz que ela "é mais sensível às seduções da análise política ou do debate ideológico do que ao rigor da informação". Diz também que a imprensa na França, sobretudo sob os governos de Giscard d?Estaing e de Mitterrand, conheceu um enorme progresso "ao permitir um melhor conhecimento pelos cidadãos dos atos dos politicos". E acrescenta: "Essa vontade de transparência ajuda a fortalecer o exercício da democracia, permitindo um controle mais eficaz das decisões tomadas pelas autoridades".

Sobre caso Salengro, ele explica: L?affaire Salengro foi uma campanha feita por dois jornais de direita, Gringoire e L’Action Française, contra o então ministro do interior Roger Salengro. O presidente do Conselho (como se chamava o primeiro-ministro de então) era Leon Blum, do Front Populaire (uma união de partidos de esquerda). Deprimido pela campanha que misturava denúncia e difamação, Salengro suicidou-se em 17 novembro de 1936. Os jornais o denunciavam de ter sido desertor durante a Primeira Guerra Mundial, o que não era propriamente verdade, pois ele havia sido, sim, condenado à morte como desertor, mas, em julgamento subseqüente, fora inocentado. Este caso é exemplar de como a imprensa, pelo poder que detém e, muitas vezes, por precipitação e por paixões políticas, pode condenar um inocente à morte.

Na entrevista a seguir [clique Próximo Texto], Thomas Ferenczi explica a decisão do jornal em publicar uma página diária do New York Times, em inglês. Comenta, também, o quase sagrado respeito que a imprensa francesa tem pela vida privada de seus homens públicos ? o que levou seu jornal a nada publicar sobre o câncer que mataria François Mitterrand. "Nós nos enganamos. A doença de um chefe de Estado é de interesse público", admite.

    
                         

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