BÊNÇÃO DE DEUS
A melodia simples de God bless America, escrita por Irving Berlin em 1918 para um show da Broadway, substituiu o hino nacional nas últimas semanas.
De acordo com Celestine Bohlen [The New York Times, 19/9/01], a versão de Ray Charles se tornou um hit nas estações de rádio, e a canção foi tocada na cerimônia de sexta-feira na Catedral Nacional, em Washington, e na reabertura da Bolsa de Valores de Nova York.
MERCADO EDITORIAL
A ansiedade de entender o porquê dos atentados e de tentar prever um futuro ainda incerto levou os americanos às livrarias em busca de títulos sobre o Oriente Médio, o World Trade Center, o Islamismo, Nostradamus e terrorismo. Nas listas de best-seller, livros há muito esquecidos: Twin Towers: The life of New York City’s World Trade Center, de Angus Kress Gillespie, e The new jackals: Ramzi Yousef, Osama Bin Laden and the future of terrorism, de Simon Reeve, estão entre os cinco mais vendidos da livraria virtual Amazon.
Linton Weeks [Washington Post, 19/9/01] conta que, cientes desta nova tendência, muitas editoras lançarão títulos relacionados à tragédia. Judith Regan, da ReganBooks, está montando uma coleção de ensaios, histórias e poesia sobre os ataques, intitulada God bless America. Os lucros obtidos com a venda serão doados a instituições de caridade. A Free Press está preparando a publicação de Holy War Inc.: Inside the secret world of Osama bin Laden, do analista da CNN Peter Bergen.
A editora Prima publicou em 1999 o livro Bin Laden: The man who declared war on America, de Yossef Bodansky. Até então esquecido numa lista de títulos velhos que não vendem bem, o livro ganhou nova edição e Bodansky foi subitamente eleito um expert em terrorismo pelos canais de TV, que o convidam para participar de programas.
A Associated Press anunciou um projeto conjunto com duas editoras online, BookSurge.com e BlueEar.com para lançar o livro 09/11 8:48 AM: Documenting America’s greatest tragedy em versão eletrônica e impressa (sistema de impressão-por-demanda). O primeiro livro a fazer a crônica dos atentados sairá em 30 de setembro, apenas 19 dias após os eventos. Todo o lucro, garantem as companhias, será doado à Cruz Vermelha. O livro deve ser uma espécie de registro das histórias de testemunhas, sobreviventes e suas famílias, que são estimulados a contribuir com a publicação enviando textos. "É importante para todos nós conhecer o elemento humano de grandes tragédias como esta. Ouvimos muitas histórias impressionantes na TV e no rádio, e este será um jeito de reunir e preservar a história oral do acontecido", declarou o executivo da BookSurge, Jeff Schwaner. Segundo release da BlueEar, os colaboradores do livro terão suas histórias verificadas para proteger a integridade do projeto, e os que tiverem seus textos incluídos receberão uma cópia.
ENTRETENIMENTO
As revistas americanas de entretenimento já elegeram seu novos ídolos em tempos de guerra declarada ao terrorismo. Deixando de lado as celebridades de Hollywood, as revistas escreveram sobre vítimas, sobreviventes, bombeiros e voluntários empenhados no resgate ? pessoas comuns que se envolveram em eventos excepcionais. Na capa da People, que há duas semanas destilava veneno com a lista dos mais mal vestidos do ano, a manchete: "América se une: histórias extraordinárias de heroísmo, tristeza e esperança". A rival US Weekly, que na semana passada explicou aos leitores "como as estrelas perdem peso rápido", também dedicou páginas a relatos da tragédia. Entertainment Weekly reservou toda sua nova edição para discutir "o desafio à nossa cultura" exposto pelos ataques.
Por um tempo, prevê Susan Toepfer, vice-editora geral da People, cairá a ênfase na cobertura de celebridades, "porque o assunto parece banal comparado a isto… digo, quem é que se importa com quem se veste mal nestes dias?", pergunta. O editor da Vanity Fair, Graydon Carter, acredita que "haverá uma mudança sísmica". "Acho que é o fim da idade da ironia. O que era considerado decorativo e frívolo desaparecerá", exagera. Para a porta-voz da Entertainment Weekly, Sandy Drayton, é muito cedo para prever até quando estas revistas manterão seu foco em pessoas comuns. Mas que ninguém se iluda achando que a frivolidade perdeu seu espaço na mídia. "Os americanos enfrentaram grandes crises antes, e isto não os impediu de voltarem a se ocupar com coisas mais triviais, assim como estas demandas banais não os impediram de reagir seriamente quando as circunstâncias assim o pediram", pondera Carolyn Marvin, da Escola de Comunicação da Universidade de Pensilvânia. As informações são de Jill Serjeant [Reuters, 20/9/01].
PROPAGANDA
Desde os ataques terroristas, as companhias estão procurando uma maneira apropriada de anunciar seus produtos sem parecerem insensíveis à tragédia. Algumas reformaram seus comerciais, outras os suspenderam, como a Coca-Cola (com o slogan "Life tastes good", traduzida no Brasil como "Gostoso é viver"), em respeito às famílias.
Segundo Caroline E. Mayer e Ariana Eunjung Cha [The Washington Post, 20/9/01], a maioria dos anúncios e das lojas estão sendo decorados com as cores da bandeira americana, numa tentativa de fazer com que seus produtos pareçam menos fúteis, para que, quem sabe, os consumidores se sintam menos culpados em comprá-los.
As empresas de mídia também se esforçaram para ajustar anúncios em sua programação. De acordo com Stuart Elliott [The New York Times, 21/9/01], a revista People foi bombardeada com mensagens furiosas pelos anúncios publicados na edição dedicada aos ataques ? alguns, ao lado de fotos da tragédia, faziam piadas sobre companhias aéreas. Como a edição foi mudada em cima da hora, explicou a presidente do grupo, Nora P. McAniff, os anunciantes não foram avisados da mudança de conteúdo. "Nem me ocorreu a idéia de ligar para alguém; talvez eu estivesse em choque. Nós ligamos o piloto automático e fizemos o que fazemos sempre", disse Nora, que declarou que "fará o que puder" para indenizar os anunciantes.
Analistas do setor estimam que os canais de TV abertos e pagos perderam de 40 a 100 milhões de dólares por dia desde terça-feira, quando começaram a cobrir ininterruptamente os ataques e os esforços de resgate, até o sábado de manhã, quando a primeira rede começou a veicular comerciais. O problema vai além deste período excepcional: "Enquanto esperamos ansiosamente por estes próximos meses de guerra, teremos contínuas interrupções da programação, o que deixa os anunciantes relutantes em lançar campanhas sabendo que, a qualquer hora, as redes podem ter cobertura 24 horas, sem comerciais", disse Jack Myers, economista-chefe da editora Myers Reports.
Lembram David D. Kirkpatrick e Stuart Elliott [New York Times, 17/9/01] que são em tempos de guerra e crise que se estabelecem reputações jornalísticas. De fato, os americanos raramente se interessaram mais pelos noticiários do que nos dias após os ataques. "Você consegue vender tudo o que conseguir imprimir", afirmou W. Dean Singleton, executivo-chefe do Media News Group, proprietária do Denver Post. Mas o aumento de leitores não encorajou os anunciantes, o que Singleton compreende: "Quem é que vai comprar um carro neste fim de semana? Quem quer que tenha pensado em contratar alguém e divulgar um anúncio de ?precisa-se? não vai fazer isto nesta semana".