Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Orlando Carneiro

JORNAL DO BRASIL

"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 15/9/01

"Marco de uma nova era

O atentado que abalou o mundo na última terça feira, que este jornal considerou, em editorial, ?uma espécie de linha divisória entre duas épocas?, provocou uma avalancha de manifestações de leitores, veiculadas durante a semana nas três colunas adjacentes dos editoriais. Selecionamos, para abrir esta seção, uma carta que tece comentários a partir de artigos do jornalista Osias Wurman e do sociólogo Emir Sader, publicadas nesta página.

Atentado

?O truísmo ?cada cabeça uma sentença? será comprovado nas próximas edições do JB, como já é aparente na edição de 12/9, The Day After. Leio o artigo de Osias Wurman que, sem muita argumentação, elimina a hipótese (minha) de que esses e outros atos terroristas contra os Estados Unidos e seus aliados ocidentais têm tudo a ver com o confronto Israel-Palestinos. Digo palestinos porque ainda não existe o Estado Palestino, recusado pela intransigência paranóica do Estado de Israel, com o constante e invariável apoio de todos os governos americanos. As pessoas costumam confundir os palestinos com os árabes. Todos os árabes têm Estados nacionais. O artigo de Emir Sader dá a entender que a história está em movimento mas não se sabe para onde. Espero que o horror do dia 11 permita uma reflexão mais aprofundada e mais inteligente sobre o barril de pólvora que representa a frustração palestina. A solução está à vista, não é impossível e deve ser tentada com honestidade e firme propósito. Os palestinos precisam ser incorporados à comunidade internacional, precisam de um Estado, de suas terras. A mesma reivindicação dos terroristas judeus de 46 e 47. Os fatos estão aí, a causa ou as causas é o que importa conhecer, isto é admitir. Excelente também a matéria de Arthur Omar no Caderno B da mesma edição. A guerra é no campo simbólico, embora os danos sejam tragicamente reais. Os americanos adoram o ?cinema catástrofe?. No dia 11 tiveram em seus televisores um espetáculo ao vivo. Lamentável, pavoroso. Precisamos impedir que o presidente Bush realize seus sonhos de Apocalipse Now, já anunciados no terreno da ecologia. Explorar petróleo no Alaska e caçar palestinos no deserto, ou embaixo das camas americanas? Será que Bush tem condições de ser o presidente da maior potência mundial?? Marco Aurélio Chaudon, Rio de Janeiro.

JB ? Uma pequena correção histórica com relação ao Estado palestino: as Nações Unidas (ONU) aprovaram, em 1947, a divisão da Palestina em um Estado judeu e outro árabe. Israel tornou-se um país independente em 14/5/48. Os árabes rejeitaram a partilha, e Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque e Arábia Saudita invadiram o território israelense, na primeira de muitas guerras, escaramuças e atos terroristas no Oriente Médio.

Crime

?Desde terça-feira me encontro indignada com o que leio nos jornais e vejo na TV. É realmente incrível como um país soberano como os Estados Unidos se tornaram tão vulneráveis e tornaram mais vulneráveis seus cidadãos comuns que trabalhavam em prédios que demoravam quatro horas para ser evacuados num caso de emergência. Mas, honestamente, não tem sido essa a notícia que mais tem me indignado, já que todos os jornais e televisões do mundo ficaram 24 horas no ar mostrando e repetindo o atentado terrorista aos EUA. O que mais me aterroriza é a falta de uma notícia em sua devida proporção, o assassinato do prefeito de uma das maiores cidades do país, Campinas. Será um azar os dois acontecimentos ocorrerem quase simultaneamente? E com isso a notícia da morte do refeito passar quase despercebida? Sinceramente, não acredito. O que eu acredito é que a violência no Brasil está banalizada de tal forma que uma noticia dessa ordem seja quase um rodapé de primeira página nas duas últimas notícias nos principais jornais do país que acessei pela internet (Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo). Alguns dizem ?Acredita-se na hipótese de crime político?. Outros dizem: ?Muito pouco provável. A polícia acredita na hipótese de assalto?. Transmitindo a sensação ao leitor, a mim pelo menos, de que a teoria do assalto seria até aceitável. Isso é um absurdo e de fato um verdadeiro atentado à democracia brasileira! Entramos na era do Bem Amado, de Dias Gomes. O crime organizado é quem manda. E está aí para quem quiser comprovar. Vejo-me envergonhada de ver que a imprensa brasileira vê o assassinato do prefeito com essa ordem de prioridade. Sinto nojo de ver a notícia de que FH enviou uma carta ao presidente Bush. Não que ele não devesse ser solidário. Mas porque ele não sente vergonha de ver assassinatos de cidadãos comuns em seu país e agora um mais agravante, que é o caso do assassinato do prefeito Toninho. Não vi qualquer pronunciamento de sua parte em relação à morte do prefeito nesses jornais. Uma das suas preocupações é a imagem do Brasil no exterior. Ele que venha morar no exterior, mas não para conversar com os grandes pensadores e educadores europeus ou americanos, mas com os cidadãos comuns que pensam que qualquer mulher brasileira no exterior é prostituta. Venha explicar o porquê de as pessoas viverem em favelas, o porquê da fome e da miséria. Porque nós brasileiros que aqui moramos não encontramos palavras no dicionário que possam dar tal explicação. Espero pelo menos que seja feita alguma justiça quanto à morte do prefeito, já que quanto à de cidadãos comuns praticamente se perdeu a esperança.? Janaína Oliveira Pamplona da Costa, Brighton (Inglaterra).

JB ? Embora a leitora tenha razão quando fala da ?banalização? da violência no Brasil, o que ocorreu nos Estados Unidos foi a maior série de atos terroristas de todos os tempos, e fato histórico mais grave do que o bombardeio de Peal Harbor, segundo consenso generalizado. Quanto ao assassinato do prefeito de Campinas, Antonio Costa dos Santos, Toninho do PT, o JB publicou, na edição de quarta-feira: ?A autópsia (…) indica que ele foi vítima de um crime político. Toninho morreu às 23 h de Segunda-feira, com um tiro que perfurou o braço esquerdo e acertou o coração, quando dirigia seu carro na saída de um shopping. O disparo foi feito com uma arma militar, de um carro em movimento, a menos de dois metros do prefeito?.

Risco

?Discordo do título ?Brincadeira causa risco para aviões? (JB, 8/9) assim qualificada essa coisa de um punhado de jovens deitarem-se na pista do aeroporto de Boa Vista. Confundir ato delituoso, de primarismo doloso e cafajestismo subdesenvolvido com ?brincadeira?, não passa de leviandade. Guilherme da Silva Campos e seus amiguinhos revelam índole deliqüencial e merecem um bom xilindró, compartillhando cela com outros presos, para verem o que é bom para tosse?. Arnaldo Carrilho, Rio de Janeiro."

    
    
                     

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