Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Orlando Carneiro

JORNAL DO BRASIL

"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 22/9/01

"O mundo em clima de guerra

Os artigos publicados nesta pagina, durante a semana , sobre o clima de terror que o mundo vive desde o trágico 11 de setembro provocaram uma enxurrada de reações. O artigo de autoria de Fritz Utzeri recebeu o maior número de manifestações de apoio. Foram também comentados os artigos de Teodomiro Braga e do deputado federal Milton Temer (PT-RJ). A seleção abaixo, da correspondência destinada a esta página, mostra que Opinião atinge o seu objetivo ? o de uma aberta tribuna de debates.

Terror

?O excelente artigo Quem cria lobos…, de Fritz Utzeri, de 17/9 expressou com objetividade e profunda emocionalidade tudo o que sinto a respeito da louca e injusta conjuntura sociopolítica mundial. E mais: acredito que expressa também a emoção e a lógica de quase todos neste país e em todos os países do Ocidente e do Oriente. Espero estar errado, mas me parece que apenas os norte-americanos não conseguem ? ou não querem ? aceitar que a solução para a sua segurança interna e a do resto do mundo não depende da força, das coalizões e de hipertróficas, e até ridículas, medidas de autoproteção e de ataques militares hollywoodianos, mas sim de deixarem de ser um monstruoso aspirador que suga impiedosamente a vida de nações e de indivíduos em todo o planeta. Tampouco constatam que se continuarem a agir assim estarão iniciando o seu lento mas inevitável fim como a maior potência da história. Emmanuel Nery, Rio de Janeiro.

?Acho que o jornalista Fritz Utzeri, em meio a esse ?oceano? de opiniões divulgadas pela imprensa a respeito de acontecimentos do dia 11, fez a melhor análise dos fatos, apresentando um relato conciso e verdadeiro dos acontecimentos, verdade essa de uma forma geral omitida pela mídia ? que prefere o lugar-comum de culpar apenas a insanidade humana como responsável pela barbárie, esquecendo-se de apontar, como bem disse Fritz Utzeri em seu artigo, quem cria esses lobos?. Cláudio Fernando Lopes do Nascimento, Rio de Janeiro.

?O artigo Quem cria lobos… deveria ser publicado no Primeiro Mundo, como ajuda aos governantes, para que reflitam antes de apertar o gatilho da resposta, e juntem a eqüidade à Justiça, para poupar a vida de milhares de jovens militares e de civis inocentes?. Milton Xavier de Carvalho Filho, Rio de Janeiro.

?Medíocre, o artigo do jornalista Fritz Utzeri não condiz com a sua estatura intelectual (por certo ele vai argumentar que não entendi o texto). Na tentativa de parecer diferente, independente e de cultura enciclopédica, recaiu na ingenuidade e no lugar comum de comparar fatos históricos fora de seu contexto, igualando situações absolutamente desiguais, chegando ao extremo de tratar o islã como uma religião de paz e tolerância. O mesmo erro de um cantor, vaiado ao afirmar que o fato não teria a mesma repercussão se apenas ?negros? fossem atingidos por aquele ato terrorista. Não se pode nivelar o que aconteceu em Berlim durante a Segunda Guerra com o conflito no Oriente Médio ou a guerra civil na África. Se o Brasil assinou decreto apoiando as sanções da ONU contra o Afeganistão, então devemos esperar, resignados e conformados, atos terroristas contra prédios públicos e privados no Rio e em Brasília. A ditadura implantada no Brasil foi apoiada no início por quase todos os jornais. E não os atos terroristas restabeleceram o Estado de direito, mas sim os mesmos jornais e a sociedade civil organizada, com o apoio de organizações estrangeiras (principalmente do presidente Carter)?. Elias Nogueira Saade, Belo Horizonte.

?Passada a primeira semana do choque e da dor do dia 11, parece que vamos retomando contato com a normalidade. A vida continua, como sempre, mas os danos já podem ser contabilizados. Concordo com Teodomiro Braga (JB, ed. 18/9) em que o Brasil foi economicamente atingido. É claro, fazemos parte da economia internacional. Estamos intimamente ligados aos mercados mundiais e aos fluxos de capital, mas não por falta ou perversão do governo FH, como diz a oposição. Concordo também em que os Boeings terroristas reduziram as possibilidades do candidato governista, seja quem for, nas eleições de 2002. Excelente a avaliação de Teodomiro Braga, mas nada pode ser feito no calendário eleitoral para minimizar os inevitáveis danos causados pela incerteza nos mercados mundiais, já afetados pela recessão americana. O Brasil é grande e rico, mas não é uma ilha. Receio que a engenharia bem-sucedida do Plano Real venha a ser afetada pelos acontecimentos do dia 11. Estou certo de que Malan, Armínio Fraga e os agentes econômicos brasileiros tentarão evitar o pior. As crises são a maior alavanca do progresso. Não devemos entrar em pânico?. Marco Aurélio Chaudon, Rio de Janeiro.

?Li, estarrecido, o artigo de Milton Temer (Opinião, 16/9). Só faltou terminar dizendo: bem feito! Dei-me ao trabalho de contar o número de linhas em que abominava o terror (15 meias linhas mais duas linhas completas ? vamos dizer, ao todo uma 10 linhas), contra as 111 linhas nas quais acusava os Estados Unidos das mais diversas atrocidades e cinco linhas em que propunha como solução que se alterem as atuais relações de poder internacional. Dar mais poder ao Sudão, por exemplo, como fez recentemente a Comissão de Direitos Humanos da ONU? Qual o modelo de distribuição de poder do Sr. Milton Temer? O da Antigüidade grega? Dos romanos? Dos hunos? De Gengis Khan? Da Igreja, na Idade Média?> Da Inglaterra colonial? De Hitler? De Stalin? Dos aiatolás? De Augusto Pinochet? De Saddan Hussein? De Fernando Collor? Lembro-me de um velho amigo nicaragüense dos tempos de juventude, que no meio de uma discussão disse-me algo assim: pare con esto, esto es amor con pero. Faz mais de 40 anos, mas jamais esqueci do comentário. Amor com pero é quando dizemos te amo, mas…, e aí vem um monte de coisas que não têm nada a ver com o amor. Lamentavelmente, o que estamos vendo nesse episódio da tragédia nos Estados Unidos é o velho amor com pero. Como não dá para aprovar o que aconteceu, começa-se com um discurso como o de Milton Temer, para logo depois passar para a acusação aos Estados Unidos. E ninguém tem coragem de no fim dizer ? bem feito! Felizmente, ainda podemos encontrar cabeças sensatas, como a de Alfredo Valladão, em entrevista também ao JB de Domingo, 16 de setembro (página 7)?. Gabriel G. da Fonseca, Rio de Janeiro."

    
    
                     

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