NOTÍCIAS DA HISTÓRIA
Angelo de Souza (*)
A guerra feita para movimentar economias, difundir ideologias e acomodar populações é também capaz de incomodar, confundir e matar pessoas. Essas noções não estão na superfície da cobertura da nova guerra dos EUA; mas nada impede que surjam das entrelinhas até das tevês e revistas semanais brasileiras.
Sem mal-estimar a compreensão do público, ficou igualmente claro que cidadãos como os que têm dominado o noticiário político nos últimos anos ? e não estamos falando de nenhum Hildebrando Paschoal ? não merecem a atenção que recebem de leitores, ouvintes e telespectadores, para não dizer que não falei de eleitores.
A ditadura da pauta que nos impinge tragédias pessoais de celebridades e anônimos comporta-se de forma mais ou menos igual em situações de paz ou de guerra. Pena que, na paz, seqüestros e atentados ? quase tanto quanto fraudes e renúncias ? tendam a ficar cada vez mais espetaculares. Culturas se desafiam, estado e crime fingem duelar, o mundo é todo um grande alvo, nós outros somos todos otários ? ainda bem. Pouco antes, tínhamos acesso à doença de uma e à gravidez de outra apresentadora, sem esquecer as aventuras de jogadores, modelos, pagodeiros ? e políticos.
Era do mercado
Aí estaria a síntese das responsabilidades sociais dos meios de comunicação e de quem neles trabalha: fazer pensar. Em nos deixar pensar. E nem seria preciso tantos zeros nas contas de corpos, refugiados, ameaçados, prejuízos. Bastaria um pequeno ajuste no enfoque das publicações e lugar, na agenda dos jornalistas, para a análise responsável de assuntos realmente importantes.
Sem essas atenuantes, continuaremos a ser vítimas perpétuas de um único e compulsório show de horrores. Entre uma tragédia e outra, nossa capacidade de entender o mundo segue soterrada por gravações de telefonemas desesperados, grampos negociados, dossiês requentados, novelas parlamentares com roteiros inverossímeis e personagens insalváveis, campanhas de desnacionalização do Cáucaso à América do Sul, guerras religiosas na família e na geopolítica, e a cobertura da resistência a "tudo o que está aí" (na forma de greves e protestos em geral) perfeitamente moldada à telecracia.
Vivemos um tempo em que o mercado pontifica, a audiência é uma profusão de aldeias e a mensagem é um meio sem fins nem princípios (no caso brasileiro, é também parte de projetos políticos paroquiais e mesquinhos). Que bom que a história não acabou. Mas jornalistas e empresários de comunicação têm o dever de nos ajudar a sobreviver a esta era medíocre.
(*) Jornalista em Belém do Pará