Na quarta-feira (23/7), o Jornal Nacional abriu com uma matéria dando como boa notícia o fato de que milhares de estágios estavam superando as ofertas normais de empregos no Brasil e assim mais jovens teriam realizado o sonho de seu primeiro emprego.
Mas um fato às vezes pode ter duas leituras possíveis, uma boa e outra ruim. E a ruim, neste caso, é que quanto mais jovens estagiários, menos profissionais formados estão no mercado.
Outra conseqüência é o efeito perverso de que a idade máxima no mercado vai caindo de 50 para 40 anos e de 40 para 30 anos. Já ouvi um professor da Escola de Comunicação e Artes, da USP, dizer a seus alunos que o estagiário de hoje é o desempregado de amanhã.
Voltando ao Jornal Nacional, parece masoquismo certas informações que veiculamos com óculos cor-de-rosa. Claro que não queremos ver só Observatórios da Imprensa veiculados pelo JN, mas seria necessário contrabalançar e mesclar as informações.
Rindo e chorando
A categoria profissional dos jornalistas foi uma das primeiras a testar a terceirização, uma das principais na alta rotatividade do emprego. Em um ambiente de pequena oferta e grande procura, o que ocorre é que o desemprego dos mais velhos se torna uma sentença mortal.
Estou à margem do mercado desde os 43 anos, quando deixei para trás um emprego e uma carreira em que estava decolando para mergulhar nos baixos salários e nos trabalhos rarefeitos. Isso sem falar que nunca mais encontrei redação que me desse acolhida por mais de um ano e salários condizentes com aquele que deixei para trás.
Minha filha é meu atestado de competência e, como eu, escolheu o jornalismo por profissão. Porém, costumo dizer-lhe que tenha cuidado e faça um bom pé-de-meia até os 30 anos, do contrário poderá sofrerá o ostracismo, como eu.
Até quando nós, jornalistas, faremos como o palhaço, rindo para fora e chorando por dentro as mazelas da vida? Tenhamos consciência crítica de que o famoso mercado nos odeia e gostaria de exilar alguns de nós – o quanto antes e mais cedo.
******
Jornalista, São Paulo