MUDANÇAS NO JB
"Jornal do Brasil: fim de linha para sucursal São Paulo", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/10/01
"A notícia é, deveras, triste: os últimos vestígios da presença física da empresa Jornal do Brasil em São Paulo vão desaparecer neste dia 15 de outubro, quando o último empregado de plantão entregar as chaves do sobrado na Av. Dr. Arnaldo, no elegante bairro do Sumaré, à imobiliária. Poucos dias depois de anunciar o primeiro corte, veio a notícia definitiva: a sucursal será fechada.
Apenas dois dos quatro jornalistas remanescentes vão ficar, tendo como ponto de apoio o escritório do site de notícias NO.. São eles Jorge Henrique Cordeiro (do próprio JB) e Josuan Xavier (da Agência JB). Todos os outros funcionários, incluindo o repórter Vasconcelos Quadros, foram dispensados. Vasco contabilizava 13 anos de casa e, em tese, não deverá enfrentar grandes problemas para se recolocar. Há pelo menos dois grandes jornais da capital paulista interessados no seu passe, e sua ida dependerá apenas de acertos salariais e da existência de vaga.
A descontinuidade da sucursal não pode ser considerada, no entanto, definitiva. O novo vice-presidente editorial do JB, Augusto Nunes, sabe da importância de ter uma presença forte no maior Estado da nação, além de já ter sido seu chefe por uma temporada, nos bons tempos do diário.
Ocorre que a prioridade da atual adminstração é colocar o jornal no azul e isso, pelo andar da carruagem, pode ser obtido já em novembro. Os cortes já feitos (32 demissões, sendo 17 espontâneas), aliados a outras medidas, como a mudança no regime de contratação dos altos salários de pessoa física para pessoa jurídica, redução de custos administrativos etc., atingiram as metas definidas. A boa notícia é que a área comercial vem reagindo bem e já fez entrar no caixa da empresa, em setembro, cerca de R$ 4,5 milhões.
Ocorrendo efetivamente esse equilíbrio, a torneira volta a se abrir, sobretudo para investimentos na contratação de pessoal. Não é segredo para ninguém o desejo de Augusto Nunes levar para o JB alguns dos profissionais de Época, entre eles Ariovaldo Bonas (ex-secretário de Redação) e José Casado (ex-editor de Economia) que deixaram a revista com a chegada de Paulo Moreira Leite. Como no entanto ele ainda não tem margem de negociação e o jornal, ao contrário, vem de um duro ciclo de demissões, não há como fazer isso agora, no curto prazo.
Janeiro é considerado o mês de redenção do JB. Marcará a volta para a Av. Rio Branco e a chegada de um novo projeto gráfico e editorial, mais consentâneo com os tempos modernos. É o prazo também de Augusto para investir em equipe e em novas parcerias que lhe permitam fazer um JB forte e brigando novamente entre os líderes."
"Assim é se lhe parece", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 6/10/01
"A amarga ironia pirandelliana do título parece cada vez mais atual neste mundo maluco e fragmentado (ou maluco por fragmentado). Assim, o atentado ao World Trade Center, que faz um mês nesta semana, criou, entre outras coisas como uma florescente indústria de invasão de privacidade, um novo – e insuspeitado – teórico do jornalismo: Nélson Tanure.
O atentado e os seqüestros de Patrícia e Senor ?Sílvio Santos? Abravanel fizeram Tanure crer ter encontrado uma parte importante da solução para acabar com os seguidos prejuízos que sofre desde que assumiu o JB (fala-se em R$ 1 milhão por mês). Na teoria tanuriana do jornalismo, não é mais importante obter informação primária – ou seja, ter um repórter no local em que ocorre o fato que se transformará em notícia. A idéia do dublê de empresário e teórico de comunicação é que bastaria ter um grupo de jornalistas mais experientes e de bom texto, cuja missão seria reescrever e consolidar as notas recebidas por TVs all news e agências nacionais e internacionais, ou obtidas pela internet, e dar-lhe um sentido por meio de artigos analíticos. Uma ?cozinha industrial? em outras palavras.
O interessante é que esta idéia de Tanure encontra uma certa justificativa teórica entre aqueles que defendem que os jornais, em pouco tempo, se tornarão supérfluos como veículos de ?primeira informação?, sendo batidos neste campo pela TV e pela internet em suas diversas facetas (web, WAP, 3G, etc). Restaria, assim, aos jornais de papel ficar mesmo com essa função de análise e contextualização. É uma maneira de ser ver as coisas, sem dúvida. O problema é que o leitor tem algumas necessidades – práticas e psicológicas – que, pelo menos num futuro próximo, teriam que ser supridas pelos jornais de papel.
Exemplo com um caso pessoal envolvendo exatamente o JB. Há coisa de três anos – ainda estava na assessoria no sindicato – saí de casa mais cedo para resolver problemas no centro. Calculei a hora de sair daqui da Ilha com folga para fazer tudo e chegar a tempo no sind. No entanto, peguei um bruta engarrafamento na Linha Vermelha. É que estavam sendo feitas obras no elevado Mário Henrique Simonsen, que liga a LV à Perimetral. Resultado: meu dia ficou todo atrasado. Quando cheguei ao trabalho, fui dar a tradicional olhada nos jornais e estava lá no Globo a nota sobre as obras e até a previsão de que haveria engarrafamento. No JB, que eu lera pela amanhã, não havia nem menção. Peguei o telefone e cancelei minha assinatura do JB na primeira ligação e fiz a minha do Globo na segunda. Adendo ao pessoal off-Rio ou aos cariocas mais distraídos: o elevado que leva o nome do ex-ministro da Fazenda do Governo Geisel fica quase em frente ao JB…
Este me parece o calcanhar de Aquiles da teoria do Tanure. O jornal agrega um monte de leitores por atender vários interesses de diferentes pessoas. Eu não gosto de carros – nem sei dirigir – e por isso sempre jogo fora o suplemento. Em compensação, fico com o suplemento de livros em casa até lê-lo completamente. Algumas partes do jornal, porém, têm um público não específico, mais abrangente – Geral, Economia, Política, Esporte – e nelas o grosso dos leitores quer a visão de ?seu? jornal, que é a ?sua? visão. Ora, a visão é um sentido primário, é ela a responsável pela maior parte de nossa percepção do mundo. E os olhos de um jornal – e de seus leitores, portanto – são os repórteres. Eles é que fazem a primeira seleção, lá, na Hora H, segundo normas – escritas ou não – que os jornais construíram ao longo de suas histórias. Me parece óbvio que o repórter de uma agência, diante dos fatos, faria a seleção de acordo com a empresa para a qual ele/ela trabalha e os encadearia de uma maneira diferente daquela de um repórter do JB diante do mesmo fato. E essa primeira versão da notícia modifica toda a cadeia de edição que se segue.
Será que o leitor do JB aceitará que o ?seu? jornal enxergue os fatos de uma maneira diferente da qual estiveram acostumados por tanto tempo? Será que um jornalista da ?cozinha?, por melhor que seja, poderá dar uma visão rica de um fato do qual só terá notícia de segunda ou terceira mão? Essa são perguntas – entre outras – que o novel teórico teria que responder antes de pôr suas idéias em prática. Eu, como leitor, gostaria muito de saber quais seriam as respostas."
"Demissão de Danusa é ?irrevogável?", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 5/10/01
"Danusa Leão disse a José Antonio Nascimento Brito, numa conversa a dois hoje (5/10) pela manhã, que iria pensar no fim de semana sobre o pedido de demissão entregue ontem à direção do Jornal do Brasil, alegando ?cansaço? após oito anos no comando de uma das mais lidas e prestigiadas colunas da imprensa brasileira. José Antonio (Jôza) pediu a Danusa que ?esfriasse a cabeça? dois dias enquanto ele mesmo iria pensar em algumas opções que reduzissem a carga de trabalho na coluna.
?Mas agora que de volta à minha mesa? – disse Danusa a Comunique-se após essa reunião – sei que essa decisão é irrevogável. Jôza foi atencioso mas estou realmente cansada.?
Uma fonte do JB disse que o motivo da saída de Danusa chama-se Marcelo Camacho. Ela se irritou porque a primeira medida de Belisa Ribeiro como nova editora de Cidade foi pedir a nomeação de Marcelo como subeditor. Danusa teria reclamado a Augusto Nunes, vice-presidente responsável pela área editorial, que se trataria de ?medida de economia? e, por isso, não poderia permitir a admissão de um novo bom auxiliar para a coluna. Outra fonte do JB afirma que a saída de Camacho teria sido apenas a gota dágua e que ?Nunes e Danusa seguramente não são amigos inseparáveis?.
Danusa ainda não sabe o que vai fazer: ?Já fiz de tudo na vida. Fui dona de discoteca, de restaurante, produtora e apresentadora de TV, mais uma porção de coisas. Talvez esteja na hora de inventar outras coisas mais leves. Vou pensar.?
Ela combinou com Nunes que ficará ?um tempinho até ser indicado um novo colunista?."