Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O cuidado com a notícia

THE WASHINGTON POST

Na coluna do dia 30/9, Michael Getler, ombudsman do Washington Post, atenta para o fato de que, apenas duas semanas após os ataques, o fluxo de notícias importantes porém aflitivas permanece estável. As histórias de coragem, solidariedade e heroísmo publicadas parecem repetitivas e não conseguiram animar as pessoas. Nos jornais, há quem questione se a publicação dessas más notícias é algo que os editores deveriam refletir e discutir mais. Mas estes não são tempos normais, alerta Getler. Os repórteres precisam continuar a investigar. "Mas são os editores quem decidem o que é impresso e como isto é apresentado."

Getler comenta a repercussão de duas matérias publicadas pelo Post sobre bioterrorismo. Alguns leitores reclamaram que as reportagens, além de enervantes, podiam assustar pessoas ou "dar idéias" a potenciais terroristas.

A primeira matéria, intitulada "Bioterrorismo: uma ameaça ainda mais devastadora", publicada cinco dias após os atentados, foi escrita por Rick Weiss, "excelente redator científico do jornal", explica o ombudsman. É um artigo assustador, mas importante, argumenta Getler, por alertar os leitores das reais vulnerabilidades a ataques químicos ou biológicos. O problema é que o jornal acrescentou um mapa de Washington (não mencionado na matéria) com flechas mostrando qual a direção do vento e a rota apropriadas para um avião liberar esporos [segundo o Aurélio, célula reprodutora capaz de germinar, dando novo organismo]. Os terroristas provavelmente não se baseariam neste mapa, pondera o ombudsman, mas sua inclusão surpreendeu a ele e aos leitores pela falta de julgamento editorial e de senso comum.

A segunda matéria informava a descoberta do governo de que os terroristas estavam interessados em aviões pulverizadores (usados para semear). Dentro da reportagem havia a citação de um diretor de uma companhia de helicópteros explicando que "para causar estrago" alguém precisaria de um "bocal" maior do que o utilizado nestes aviões. Esta informação está disponível para especialistas, observa Getler, e pode-se alegar que o artigo mostrava que não era fácil converter um avião deste tipo. Os leitores, no entanto, argumentam que este detalhe alarmante era desnecessário e deveria ter ficado de fora, com o que o ombudsman concorda.

Para Getler, o que distingue jornais como o Washington Post é seu investimento em correspondentes estrangeiros, que trazem reportagens valiosas ? em especial após os atentados ? que os leitores apreciam. Mas isto é o que os leitores esperam do jornal, admitem como certo. "O que alguns leitores não gostam, e nos informam disso, é quando o jornal parece não dar muito valor à questão."

    
    
                     

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