Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Terrorista na telinha

CNN & BIN LADEN

Só a idéia de fazer uma entrevista com Osama bin Laden causou debate interno fervoroso na CNN. A emissora disse que pensou bem alguns dias se faria a "quase-entrevista", antes de decidir ir em frente. A decisão sucedeu a garantia de representantes de bin Laden de que não haveria restrições a perguntas.

A possibilidade da entrevista surgiu quando um representante da al Qaeda, organização de bin Laden, esteve na emissora árabe al-Jazira. Logo, no entanto, passou-se a questionar se se tratava de uma entrevista de fato, uma vez que a principal condição imposta à CNN pelo Talibã era não haver uma conversa pessoal, mas uma lista de perguntas a que bin Laden responderia.

A CNN também temeu parecer uma peça a favor dos terroristas, de acordo com Elizabeth Jensen [The Los Angeles Times, 18/10/01]. Walter Isaacson, diretor da CNN, reuniu seus principais rivais no dia 16 de outubro para falar sobre os possíveis comentários de bin Laden, prometendo compartilhar imediatamente as imagens com outros veículos de comunicação.

Na opinião de Andrew Heyward, presidente da CBS News, a atitude da CNN levanta duas questões. "A CNN não deveria negociar com terroristas nem fornecer-lhes uma plataforma para propaganda ideológica", disse. Para ele, a CNN não fez nenhum dos dois. No entanto, "no caso de Osama bin Laden, não se está lidando com um entrevistado comum. Ele é o homem mais procurado do mundo. É isso ou nada e deve-se considerar as circunstâncias excepcionais".

ORIENTE MÉDIO

Analistas afirmam que a mídia israelense voltou-se para si mesma e pendeu para a direita desde a nova intifada. "Cinco palestinos são mortos em Gaza", diz manchete recente de um jornal internacional. Em Israel, os jornais se ativeram à história dos jovens israelenses mortos na noite anterior em tiroteio fora da Faixa de Gaza.

Programas de comportamento e de notícias na TV israelense, que antes noticiavam processos de palestinos em horário nobre, agora mal tocam no assunto. Ao mesmo tempo, diz Ilene R. Prusher [The Christian Science Monitor, 16/10/01], as rádios de Israel voltaram a cobrir o conflito como nos anos antes dos esforços de paz.

Um ano após o início da nova intifada, uma das causas é a perda de interesse em entender como as coisas são vistas pelo outro lado. "Sei que o que escrevo atinge cada vez menos pessoas. Sei que não querem ler", diz Amira Hass, repórter israelense do jornal liberal Haaretz, que cobre o cotidiano dos palestinos vivendo entre eles.

É compreensível a retração da mídia de uma região que vive um conflito como o de Israel e Palestina, mas especialistas estão preocupados. O efeito patriótico não é diferente da reação da mídia americana aos ataques terroristas de 11 de setembro. Quando uma nação está cercada por inimigos, a tendência é lutar em apoio à liderança e perder qualquer empatia pelo inimigo, afirmam o analistas. Mas, no Oriente Médio, o "inimigo" é um vizinho, e a disposição da mídia israelense para desempenhar o papel conciliador parece ter chegado ao fim, segundo Yoel Cohen, especialista de mídia da Faculdade de Comunicação da Universidade Netanya, em Israel.

    
    
                     

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