Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

A imprensa acordou

CORRUPÇÃO

Chico Bruno (*)

Finalmente a imprensa brasileira começa a revelar como funciona a promiscua relação entre lobistas e o poder central em Brasília. Quem deu partida ao processo foi uma jornalista, que confidenciou ao ministro José Serra um possível suborno a assessores graduados do Ministério da Saúde. Incontinente, o ministro acionou a Polícia Federal, que iniciou as investigações, conseguindo da Justiça autorização para vasculhar o escritório do maior lobista brasiliense, um tal APS. No escritório, o maior achado foi a agenda do lobista, recheada de figurinhas carimbadas do parlamento e da burocracia brasileira.

No fim de semana retrasado, todas as revistas traziam matérias sobre o esquema do lobista. A mais apimentada delas ficou a cargo de Veja, e resultou numa troca de insultos com o JB, tendo como pano de fundo anotações encontradas na agenda sobre o controlador do jornal. Além dessa matéria, Veja trouxe outras duas, com casos de suspeitas de corrupção envolvendo um ex-ministro e um cineasta, envolvidos, também, com lobistas.

A IstoÉ, além de matéria sobre o lobista APS, centrou fogo em assessores do Ministério dos Transportes, suspeitos de envio de dólares para contas em bancos dos Estados Unidos, apresentando de quebra os nomes dos maiores doleiros da capital federal e insinuando uma relação promíscua entre esses senhores, parlamentares e burocratas. Ainda apresentou um novo escândalo, envolvendo a Dataprev e uma multinacional de informática, provavelmente cliente de algum lobista brasiliense.

Época trilhou o mesmo caminho. Trouxe matéria com o tal lobista APS e, em outra, antecipou o depoimento de um ex-assessor da Força Sindical no caso de suspeita de desvio do dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Aliás, justiça se faça, com a mesmice do noticiário sobre o conflito Estados Unidos versus Afeganistão, a mídia retomou a cobertura aos escabrosos casos de suspeita de corrupção. Um avanço que merece ser registrado, pois demonstra que o bom senso voltou a prevalecer nas redações. Talvez esse bom senso seja resultado da leitura das matérias publicadas pelo Observatório sobre o tema.

Agora é torcer para que a imprensa continue a perseguir o fio da meada desse escabroso relacionamento entre lobistas, doleiros, alguns parlamentares e burocratas que enseja o assalto ao dinheiro público brasileiro. A tarefa não é difícil, basta conferir os sinais de riqueza que alguns parlamentares e burocratas apresentam e que não condizem com seus salários.

Aliás, por apresentar sinais de riqueza não-condizentes com os salários é que um secretário do governo baiano, denunciado pelo jornal A Tarde, foi exonerado e agora, por sentença judicial, teve seus bens e os de parentes e amigos apreendidos para ressarcimento dos cofres públicos.

Essa é uma tarefa árdua e trabalhosa, que requer muita paciência e, principalmente, uma avaliação correta para que não se repita o bate boca entre JB e Veja, o que, infelizmente, tira um pouco da credibilidade das denúncias. Felizmente, os apelos do Observatório não foram em vão.

(*) Jornalista


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