CNN & AL-JAZIRA
Na noite de 21 de outubro, um comboio de caminhões atravessava o território afegão do Talibã com uma carga impagável: equipamento de satélite que promete fornecer a primeira imagem clara de Kandahar, cidade do Afeganistão duramente atingida pela ação militar americana desde 7 de outubro, quando começaram os bombardeios.
O equipamento é da CNN, mas será compartilhado com a emissora árabe al-Jazira. Em troca, a CNN obterá entrevistas exclusivas em inglês com um correspondente da al-Jazira baseado em Kandahar. Numa guerra de poucas imagens e informações, o acordo envolve trocas de ouro jornalístico em potencial, segundo Jim Rutenberg e Bill Carter [The New York Times, 22/10/01].
Trata-se de um típico acordo da CNN, ávida por tornar-se uma emissora global, desbancando seus competidores domésticos. Mas o gesto da emissora envolve aspectos geopolíticos contra os quais seus concorrentes estão se posicionando. Ética e aproximação com inimigos de guerra são algumas das questões que a CNN está pondo a perder, na opinião dos dois jornalistas, ao tentar alcançar seu objetivo comercial de vantagem competitiva.
"A CNN aceitaria fitas de vídeo de qualquer um, incluindo o Iraque, e as exibiria na íntegra, mesmo que fosse propaganda explícita", disse Reese Schonfeld, presidente fundador da CNN. Os concorrentes da emissora não fizeram acusações específicas, mas ao competirem por reportagens exclusivas no Afeganistão estão levantando acusações de outros tempos, na esperança de que a CNN interrompa os acordos que as emissoras rivais não conseguem e dizem não poder.
Eason Jordan, executivo-chefe da CNN, afirmou que "opera nos limites da excelência jornalística", e que sua equipe "joga conforme as regras, e ponto-final". Jordan disse que os concorrentes invejam as relações legítimas que a emissora firma com forças estrangeiras.