NO LIMITE
"?No Limite? à beira do limite", copyright Folha de S. Paulo, 28/10/01
"Em sua reestréia, hoje à noite, o ?reality show? da Rede Globo, ?No Limite?, assume o risco de se reduzir a uma gincana ginasial. Será difícil excitar a platéia com os mesmos apelos de anteontem: remar as pranchas precárias contra o vento, carregar pedras no meio da areia, comer insetos, ter crises de choro. Seria o tédio, e tédio é o único pecado que existe no código ético da televisão comercial. ?No limite? está no limite. Mais do que os candidatos, é o programa que terá de se mostrar capaz de ultrapassar suas próprias barreiras.
Um mínimo de renovação estilística terá de acontecer. Pelo menos na cenografia e nos figurinos. As edições anteriores lembravam por demais uma farofada em Praia Grande, com chinelos de couro gastos dormindo ao lado de caldeirões de alumínio, banquinhos de plástico escorando caixas de isopor, varais improvisados em torno do acampamento. As locações ?paradisíacas? foram corrompidas pela miséria humana. E pela miséria comercial: no meio do purgatório tropical, eis que surgia um automóvel zerinho puxando um pedaço de tronco de bananeira. Em vez da aventura, o merchandising. Em vez do éden, a várzea. Em vez do espírito desbravador, como aquele mítico da ?terra de Marlboro?, o espírito da verminose, como num filme de Mazzaropi.
?No limite? virou um argumento selvagem contra qualquer forma de alegria erótica. Suas vítimas foram a beleza, a libido e a fantasia. De que modo, agora, poderá seduzir a audiência?
Leve-se em conta, em acréscimo, que existem agora competidores imbatíveis. De um mês e meio para cá, a TV mudou de lugar. Mudou de função. Em todos os países, ela promove um ?reality show? intercontinental sem precedentes, em que o presidente do mundo, George W. Bush, faz as vezes de protagonista. Ali estão seres de carne e osso morrendo em explosões, ali estão os diplomatas atarantados, correndo de aeroporto em aeroporto ao sabor das notícias veiculadas pela CNN. Estamos assistindo a um ?Survivor? atômico. A proporção das tragédias reais, feitas de cadáveres de verdade e agressores idem, mudou de escala e muito rápido. Até o dia 11 de setembro, o Brasil ainda achava que a pior forma de violência real que caberia na TV era a cobertura ao vivo do seqüestro de Silvio Santos. Depois de Bin Laden, Fernando Dutra Pinto, o sequestrador do dono do SBT, não daria ibope nem no ?Topa Tudo por Dinheiro?. Num tempo em que o crime, o terror e a guerra se articulam como show, como tornar ?No Limite? uma experiência marcante?
No quesito provações e privações, o programa já perdeu feio para o Afeganistão. Só lhe resta, pois, a saída cínica de sempre: sexo. Ou ele se reconcilia com a luxúria ou as chances de um fiasco desconcertante subirão exponencialmente, junto com as taxas de risco da Argentina. A televisão é mercado, para desgraça da humanidade, e seus anabolizantes são duas ferramentas macroeconômicas: violência e sexo (em situações ultra-excepcionais, apela-se para uma terceira ferramenta, os enigmas do outro mundo, mas não é esse o caso presente).
Há poetas que acreditam que a vida vem em ondas como o mar, o que é um problema deles, poetas. Há engenheiros para os quais a televisão também, a exemplo da vida segundo os poetas, vai em ondas como o rádio. Problema dos engenheiros. A televisão vem em doses como a heroína. Se a dose não for mais intensa e mais letal a cada novo fôlego, passará pela circulação sem ser notada. Por isso, é provável que o aumento da dose de ?No limite? seja de ordem sexual: bíceps à contraluz, curvas glúteas ao pôr-do-sol, lábios melados em close. O elenco, que foi recrutado segundo critérios fisiculturistas, parece indicar que é por aí mesmo que a gente vai. De resto, isto aqui não é uma profecia. É apenas uma especulação, e a especulação é irmã gêmea do espetáculo."
"TV BONI"
"TV de Boni deve transmitir Globo de Santos", copyright Folha de S. Paulo, 23/10/01
"Afiliada da Globo em Santos (SP), a TV Tribuna negocia com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a aquisição de parte da concessão do canal de TV que o ex-vice-presidente de operações da rede conquistou em Taubaté (SP), via concorrência, em 2000.
A negociação faz parte de pacote que inclui a renovação do contrato de Boni com a Globo, vencido em maio passado. Se Boni renovar com a Globo, a Tribuna leva o canal de Taubaté.
O ex-executivo da Globo também negocia com Silvio Santos a retransmissão do SBT, mas a Globo tem preferência na transação. Silvio Santos ainda ofereceu a Boni o controle da programação de segunda a sexta do SBT, com um salário de R$ 2 milhões mais participação nos lucros.
A TV Tribuna é controlada pelo empresário Roberto Santini, mas a TV Globo detém 49% das cotas da sociedade. Para a Tribuna, o canal de Taubaté é estratégico. Com ele, a afiliada atingiria todo o Vale do Paraíba e o litoral norte. Atualmente, o sinal da Tribuna cobre apenas a litoral sul. O litoral norte é coberto pela TV Vanguarda, emissora da família Marinho em São José dos Campos (SP).
Se a negociação se concretizar, o canal de Boni entra no ar em março de 2002. Vai dividir o mercado publicitário do Vale com a TV Vanguarda. Para a Globo, é melhor ter duas retransmissoras numa mesma região do que compartilhar o mercado com o SBT".
AOL / CHINA
"AOL Time Warner será o primeiro canal de TV estrangeiro na China", copyright Folha de S. Paulo, 23/10/01
"A AOL Time Warner selou um acordo com o governo da China para ter o primeiro canal estrangeiro que poderá ser sintonizado pelos chineses. Em troca, a companhia de mídia norte-americana transmitirá um canal estatal chinês. A AOL vai apresentar programas falados em mandarim, língua oficial do país. Já os programas produzidos pela chinesa CCTV para serem exibidos nos EUA serão falados em inglês.
O convênio assinado permite à AOL Time Warner um lugar no cobiçado mercado televisivo chinês. Quase todos os domicílios na China, país mais populoso do mundo, têm TV. Já existem emissoras do exterior transmitindo programas na China, mas somente em hotéis ou lugares frequentados por estrangeiros.
A AOL Time Warner anunciou que seu canal na China, CETV, será transmitido por cabo a partir da Província sul-oriental de Guangong, fronteira com Hong Kong. As transmissões deverão começar em janeiro de 2002.
Em troca, o governo chinês receberá acesso de 24 horas diárias ao público de Nova York, Los Angeles e Houston, segundo Tricia Primrose, porta-voz da AOL Time Warner. O canal chinês CCTV é especializado em notícias.
O canal norte-americano que será transmitido na China é de variedades, e conta em sua programação com seriados como ?Miami Vice? e ?La Femme Nikita?.
Não foram divulgados detalhes financeiros do convênio entre os dois países. A News Corp., da Austrália, estaria negociando um acordo similar com a China."