Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O varejo anuncia, o varejo é notícia

O Jornal de Santa Catarina e o Diário Catarinense acompanharam as transações na venda das Lojas Base com informações das assessorias das empresas envolvidas. No dia 1º de abril, o diário de Blumenau trouxe matéria intitulada ‘Base cancela tentativas com Casas Bahia’. No dia seguinte, é a vez de DC publicar a ‘reviravolta na venda’. ‘A novela da Rede Base’ começou no dia 21 de março. Na edição conjunta de 2 e 3, o Santa trouxe ‘Magazine Luiza compra Rede Base e Lojas Madol’. No DC, essa informação apareceu no dia 4. Para fechar a cobertura, os dois jornais ainda publicaram entrevista com o proprietário da rede em disputa.

Mas essa não foi a única empresa que recebeu atenção dos jornais do Grupo RBS. A inauguração de uma nova loja das Casas Bahia apareceu em duas edições do Santa (2-3 e 5) e do DC (2 e 5). Os textos continham informações que pareciam ter sido retiradas de uma peça publicitária. Exemplo é o trecho ‘A nova Casas Bahia contará com uma grande variedade de produtos (…)’ e ‘a loja possui três pisos, é totalmente climatizada e tem estacionamento próprio’. O diário da Capital trouxe ainda no dia 6 matéria intitulada ‘Casas Bahia anuncia mais lojas em SC’. E a empolgação com o comércio varejista não parou por aí. Matéria com dados otimistas foi publicada no dia 10 no DC e dois dias depois, com algumas alterações, no Santa. O texto, intitulado no DC ‘Guerra do varejo anima comércio’, veio com declarações do diretor corporativo da Salfer, do presidente da Rede Koerich, do diretor de marketing e vendas da Colombo e do diretor regional para a região Sul da Ponto Frio.

O que chamou a atenção deste Monitor de Mídia é que todas as empresas ouvidas são grandes anunciantes dos jornais, seja na compra de generosos espaços publicitários seja no encarte de seus folhetos de ofertas. No Santa, em dez dias de análise, foi possível encontrar duas propagandas da Koerich, cinco da Salfer e duas da Colombo. Todos os anúncios ocupavam uma página inteira e eram coloridos. No DC, a situação não é diferente: foram publicados onze anúncios que ocupavam toda a página. As empresas que apareceram são as mesmas que ganharam voz na matéria: Salfer, Koerich, Colombo e Ponto Frio. Seria isso uma grande coincidência? Ou estariam os jornais deixando de lado o pressuposto de que a redação deve trabalhar sem interferências do comercial?

Isso é que é imparcialidade!

Só não percebeu quem não quis: A Notícia torceu para que o Joinville Esporte Clube (JEC) fosse à final do Campeonato Catarinense de Futebol. Tanto é que quando a equipe local perdeu a vaga na decisão, o resultado heróico do Atlético de Ibirama – que empatou a partida em 2 a 2, aos 45 do segundo tempo – foi desprezado pelo jornal. No domingo, 3 de abril, A Notícia veio com ‘De repente, a festa na Arena silenciou’, ‘Ele calou 10 mil vozes’ e ‘Após o jogo, sobraram lamentações’. O resultado vitorioso do time de fora foi silenciado, como se ele não tivesse vencido, mas a vitória tivesse escapado ao JEC. A imparcialidade do AN voltou à tona na edição do dia seguinte no novo suplemento ‘ANEsporte’. Na capa, a chamada ‘Quem diria!’, referindo-se ao fato de que nenhum dos ‘favoritos’ estava na final do Catarinão.

Anúncios invadem matérias no DC

No início do mês de abril, os leitores do Diário Catarinense foram surpreendidos com cadeiras, sofás e latas de tinta bem próximos das notícias que liam. Sobre os objetos a frase: ‘Vem aí a maior mostra de arquitetura e decoração de Santa Catarina’. Assim, num primeiro momento, não foi fácil diferenciar o que era conteúdo jornalístico e o que era publicitário. Na edição do dia 4, por exemplo, a assinatura do repórter na matéria ‘Santa Catarina no mapa da história’ acaba ficando abaixo do sofá que ocupa parte da página 12 e 29. No dia seguinte, o mesmo tipo de anúncio se mistura ainda mais com o material jornalístico. O leitor encontrou, no canto inferior esquerdo da página 20 uma lata de tinta e um pincel. Embaixo de um box com informações sobre a Polícia Rodoviária Federal uma mancha de tinta vermelha. Mancha que se repetiu ao lado do título e no meio da matéria ‘Rios começam a se recuperar’ da p. 21. A ‘pintura’ das páginas acaba com a imagem de um pincel sujo no canto superior direito da p. 21. As manchas são vermelhas, chamativas, e facilitam um percurso com o seu olhar do leitor: da lata de tinta ao pincel…

O jornal publicou anúncios semelhantes nos dias 2 (p.17), 4 (pp. 12 e 29), 5 (p.20) e 6 (pp.20-21). Criativa do ponto de vista publicitário, a campanha se destaca das demais, mas provoca grande confusão no mar de informações que é uma página de jornal. Isso porque interfere no conteúdo jornalístico, mistura-se a ele, perigosamente.

Trocando as bolas

A Notícia de 20 de março, página A16. Na matéria que relatou a goleada do São Paulo sobre o Marília no Paulistão, o jornal escorregou no texto. Confira: ‘E como diz o refrão da música dos mineiros do Skank, ‘fácil, extremamente fácil’, a partida…’. O Skank é mesmo uma banda de Minas Gerais, mas o refrão é dos conterrâneos do Jota Quest…

Mas que beleza de título!

Alguns títulos são verdadeiras pérolas nos jornais catarinenses. Alguns desinformam, confundem, deformam a informação. Nesta edição, este Monitor pinçou apenas dois exemplos que, se não provocam gargalhadas, podem gerar risos nervosos na redação. Exemplos do Diário Catarinense, em dias consecutivos: ‘Elias anuncia venda da prefeitura’ (6 de abril, p. 12); ‘Caldos de cana vão reabrir, mas sob novas regras’ (dia 8, chamada de capa).

Demorou, mas chegou!

A idéia já estava caindo de maduro: editar um caderno de esportes nas segundas, com toda a cobertura do final de semana. A Notícia lançou o ‘ANEsporte’ no começo de março, em formato tablóide com 16 páginas, quatro delas em cores. O caderno tem um cuidadoso projeto gráfico, com fartura de fotos e infográficos. Um alento para os leitores no começo de semana.

Fora das bancas

O Jornal de Santa Catarina suspendeu a circulação do caderno ‘O Litoral’, que saía às sextas-feiras, e trazia notícias sobre a porção litorânea do Vale do Itajaí. A última edição do caderno de 8 páginas foi às ruas em 18 de março. Segundo nota de redação do Santa, ‘O Litoral’ deixou de circular ‘com o objetivo de reforçar o noticiário da região litorânea ao longo de todos os dias da semana’. Os leitores das cidades cobertas pelo suplemento perdem um caderno semanal, mas ganham mais espaço nas edições diárias do jornal blumenauense, explica a nota.

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Projeto de acompanhamento da imprensa catarinense, criado e alimentado por professores e alunos da Univali, coordenado pelo professor Rogério Christofoletti, (www.univali.br/monitor)