Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Fernando de Barros e Silva e Sandra Brasil

MÍDIA & ELEIÇÕES

"Disputa entre Serra e Tasso chega à TV", copyright Folha de S. Paulo, 4/11/01

"A guerra interna no PSDB pela definição do nome que deverá disputar a sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso chegou ao programa de TV do partido, que deve ir ao ar em cadeia nacional no próximo dia 15.

O programa é um só, mas os publicitários nele envolvidos, como os pré-candidatos mais fortes do partido, são dois. Marqueteiro do PSDB até pelo menos janeiro, quando vence seu contrato, Paulo de Tarso Santos é o responsável oficial pela peça publicitária.

Ocorre, porém, que a participação do governador Tasso Jereissati (CE) no programa está sendo orientada e dirigida por Nizan Guanaes, cuja influência sobre FHC e o PSDB é enorme hoje e deve aumentar até 2002.

Paulo de Tarso gravou a participação de FHC no programa anteontem, Dia de Finados. Deve fazer o mesmo nos próximos dias com o ministro José Serra (Saúde), principal adversário de Tasso na disputa pela vaga para 2002.

A confusão no PSDB está armada: ninguém sabe ao certo como, e por quem, será editada a parte de Tasso, assinada por Nizan. Serra está furioso. Atribui a José Aníbal, presidente nacional do PSDB, o facilitamento da presença de Nizan no programa. Nos bastidores, avalia que Aníbal está fazendo o jogo de Tasso, o que pode ser decisivo na definição do candidato.

Há um detalhe importante que contribui para azedar ainda mais o ambiente no ninho tucano: Serra e Nizan não se bicam. Em 1996, Nizan foi chamado às pressas para salvar a candidatura de Serra à Prefeitura de São Paulo. Os dois se desentenderam antes da eleição. Serra terminou em terceiro, atrás de Celso Pitta (então no PPB) e Luiza Erundina (então no PT).

Desde então, os dois mal se falam. No início deste ano, Serra chegou a dar meia volta e deixar um jantar para poucos convidados em Brasília quando viu que Nizan estava entre os presentes.

Aposta-se no PSDB que o pragmatismo político ainda acabe reaproximando ambos. Mesmo que Serra venha a ser o escolhido da base governista para a sucessão, Nizan avisou que estaria disposto a ajudar na campanha. Dificilmente, porém, seria convidado ou aceitaria assumir o posto de marqueteiro-chefe.

Garoto propaganda

Se com Serra o publicitário Nizan Guanaes mantém péssimas relações, ocorre o oposto com FHC. O presidente o tem como um de seus maiores conselheiros. Foi de Nizan, por exemplo, a idéia do encontro do presidente com os jogadores ?estrangeiros? da seleção brasileira, na última semana, em Madri, na Espanha.

O poder de Nizan no Planalto e em amplos setores da aliança governista, no entanto, é bem maior. O publicitário atropelou o colega Paulo de Tarso e assinou as recentes inserções publicitárias do PSDB na TV. Na propaganda, um cunhado do tipo folgadão abre a geladeira, deita-se no sofá, liga a TV e coça a barriga, indolente e reclamão. O locutor então fala: ?Com certeza, alguma coisa ele tem de PT?. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tirou a propaganda do ar, por julgá-la ofensiva.

Nizan também é um dos responsáveis pelo programa do PFL que foi ao ar em cadeia nacional na última quinta-feira. Nele, Roseana Sarney (MA) monopolizou o tempo, de 20 minutos, e se lançou à Presidência enaltecendo seu governo e os atributos da mulher.
Além de servir a dois patrões da base governista, Nizan passou a cuidar informalmente da imagem do presidente e da Presidência. O publicitário tem ido pelo menos dois dias por semana a Brasília. Com a nomeação de Andrea Matarazzo para a embaixada de Roma e a sua substituição pelo publicitário Luiz Macedo à frente da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo), o poder de Nizan junto a FHC será amplificado (leia texto ao lado).

?Empresário não doa dinheiro para campanha? Eu estou doando o meu tempo e talento para algo em que acredito?, diz Nizan, acrescentando que, por ora, tem trabalhado de graça para o PSDB, o governo FHC e a governadora Roseana Sarney.

Paulo de Tarso sentiu o golpe. Contrariado com o que está vendo, pediu um encontro com FHC, que o recebeu num jantar a dois em Brasília, há três semanas. Bem ao seu estilo, o presidente elogiou o trabalho do publicitário e disse que ele seria importante para o governo no ano que vem. Apesar dos afagos, se depender de FHC, no entanto, o homem do marketing governista da sucessão já está escolhido: Nizan. É preciso ainda combinar com Serra.

Pagode da barata tonta

Nizan deve enfrentar em 2002 seu amigo Duda Mendonça, que muito provavelmente será confirmado como o marqueteiro de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidenciável do PT.
O filme do cunhado é apenas o primeiro round de uma série na batalha contra o PT. Já estão criadas duas novas propagandas para TV com sátiras ao partido de Lula, além de um pagode que está sendo concluído para o rádio.

Uma das novas peças de TV explora a imagem de uma sogra rabugenta para compará-la ao PT, o ?partido do contra?. O jingle do rádio tem nome provisório de ?pagode da barata tonta? -alusão à crítica feita por FHC à oposição. Diz a letra da música: ?Olha o pagode da barata tonta, são do contra, são do contra?.

Prevendo a possibilidade de que o jingle venha a ser tirado do ar, Nizan antecipa-se e chega a comparar o PT ao Taleban. ?Vamos bombardear Cabul. Contra o Taleban, vamos usar a música e o humor. O Taleban começou proibindo a música?, diz, irônico.

As intrigas na cozinha do marketing governista e o teor das peças publicitárias em curso contrariam a expectativa de que a sucessão de FHC será disputada civilizadamente, no campo das idéias."

 

"Cresce influência de Nizan sobre governo e FHC", copyright Folha de S. Paulo, 4/11/01

"Com a nomeação do publicitário Luiz Macedo para a Secretaria de Comunicação de Governo (Secom), a imagem da administração do presidente Fernando Henrique Cardoso volta às mãos do publicitário Nizan Guanaes, responsável pelo marketing tucano nas campanhas de 1994 e 1998.

A Secom terá poderes reduzidos e Nizan ganhará espaço no governo. Deve repetir a estratégia que usou na campanha da reeleição, quando deu as linhas gerais da imagem do governo e cuidou dos programas do candidato FHC.

Nizan já anunciou que se licencia em dezembro do portal da internet IG, do qual é presidente, para dedicar-se às eleições. Sai da direção, mas continua como sócio.

As conversas do publicitário com o presidente se intensificaram após o anúncio da saída de Andrea Matarazzo da Secom -ele será o novo embaixador em Roma.

O relacionamento de Nizan com Luiz Macedo, o sucessor de Matarazzo, é bom, segundo o relato de amigos. Desde o último mês, Nizan passou a ser visto com maior frequência no Palácio do Planalto e em solenidades com FHC, como a do Dia da Criança, no Alvorada, e do Dia do Diplomata, comemorado no Itamaraty."

 

"A arte de vender político e manter voto em segredo", copyright Jornal do Brasil, 4/11/01

"Eles vendem política. Ou melhor, políticos. Duda Mendonça, Nizan Guanaes e Paulo de Tarso da Cunha Santos são os três marqueteiros mais cobiçados do país para campanhas eleitorais. Um mercado concorrido, onde a troca de lado é compreensível. Famoso por ter reinventado a imagem de Paulo Maluf, Duda hoje trabalha para o antigo adversário, Luiz Inácio Lula da Silva. O mesmo Lula que fez campanha embalado pelo jingle Lula lá, criado por Paulo de Tarso, que hoje cuida do PSDB.

Assim como o publicitário que vende cerveja não gosta de contar qual marca bebe num churrasco, eles evitam se comprometer ao falar em política. Ainda mais sem cachê. ?Quando me pedem esse tipo de palpite, cito Cacilda Becker – não me peça de graça o que tenho para vender?, diz Nizan Guanaes. Ainda criticado por setores do PT por seu passado com Maluf, Duda Mendonça é o mais arredio a revelar em quem vota. ?Sou um marqueteiro inteligente demais para isso?, corta.

Lá e cá – Nizan Guanaes, de 43 anos, adota a posição mais cautelosa possível. Nem esquerda, nem direita. ?Sou de centro?, define. Nas entrevistas, não poupa elogios. Acha o presidente Fernando Henrique ?o máximo?. A governadora Roseana Sarney (PFL) é ?uma mulher extraordinária, com muito carisma?. O tucano José Serra ?tem muita experiência administrativa?. Sobram elogios para os petistas Lula, Aloízio Mercadante e José Genoino.

Há poucos dias, em um jantar com jornalistas, ele fez um discurso bem mais afiado. ?O governo é especialista em puxar o próprio tapete?, avaliou, ao comentar os estragos causados pelo apagão. Sobre Serra, disse que ?ninguém pode dizer que ele é o rei da simpatia?, embora ressalte que, com um bom trabalho de marketing, o ministro da Saúde pode ter desempenho melhor na televisão.

Nizan odeia o rótulo ?marqueteiro?. Faz questão de se apresentar como ?profissional de publicidade?. ?Marqueteiro é o Duda?, diz em tom que mistura elogio e provocação. ?Eu só trabalho com campanhas fáceis, candidatos que eu acredito. Quando o caso é mais complicado, chamam o Duda?. Caso complicado, em marketing político, tem nome e sobrenome – Paulo Salim Maluf ou Celso Pitta. Ambos, ex-clientes de Duda Mendonça.

Duda jura que mantém a coerência, apesar da ampla carteira de clientes. ?Tenho um estilo. Não faço baixarias, sujeiras e nem mentiras. Me reservo o direito de não trabalhar com certos candidatos?. Quais seriam eles? Isso ele não revela.

Prestígio – Depois de ter ganho fama ao mudar a imagem de Maluf, dos óculos ao discurso, Duda enfrentou uma série de derrotas. Nas eleições de 98, seus clientes foram derrotados no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio, Minas Gerais e Goiás. Nada disso abalou o prestígio do marqueteiro. As peças que ele produziu para o PT, em tom bem mais leve e moderado que a propaganda tradicional do partido, chamaram tanta atenção entre os políticos quanto as propostas de campanha.

Autor do jingle Lula-lá, Paulo de Tarso também mudou de time, do PT para os tucanos. Como Duda, evita falar de suas escolhas pessoais nas eleições, mas revela aos amigos que, pelo menos em 1998, não votou em Lula. Da convivência com o petista, guarda um hábito. Fuma três ou quatro charutos cubanos por dia.

Ao falar sobre o próprio trabalho, os três adotam o gênero politicamente correto. ?É estupidez dizer que se pode vender um candidato como uma marca de cerveja ou de margarina?, diz Nizan. ?Se eu não concordar com as idéias do candidato, eu não as veiculo?, afirma Duda. ?Sou contra a mágica e a favor do encantamento?, define Paulo Tarso."

    
    
                     
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