Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Fernando Martins

JORNAL DE NOTÍCIAS

"Em Democracia não há vencedores antes da votação", copyright Jornal de Notícias, 4/11/01

"Honório Novo, deputado da CDU à Assembleia da República e candidato da coligação à presidência da Câmara Municipal de Matosinhos, escreveu à Direcção do Jornal de Notícias, discordando do critério que o excluiu do frente-a-frente publicado na edição de segunda-feira passada e que contou, apenas, com depoimentos de Narciso Miranda e de Montalvão Machado, respectivamente cabeças de lista do PS e da coligação PSD/PP. O assunto é já do conhecimento dos leitores, através da posição da Direcção, divulgada na quinta-feira. O Provedor foi, no entanto, igualmente chamado a analisar a carta de Honório Novo já que, no entender do candidato comunista, ?os assuntos nele versados podem (devem?) mesmo ter uma abordagem do ponto de vista dos leitores? — abordagem que o Provedor pensa dever fazer.

Lamenta o eng? Honório Novo ?que o JN tenha tomado a decisão de fazer entrevistas apenas aos candidatos das forças partidárias mais votadas há quatro anos?, tecendo considerações diversas de que se destacam considerar que o princípio assumido pelo jornal ?não assegura, seja onde for, o pluralismo e a equidistância entre candidatos e candidaturas?. O deputado comunista analisa, naturalmente, os efeitos da opção a nível das candidaturas à Câmara de Matosinhos; o Provedor prefere uma visão mais geral do problema, alargada ao universo das autarquias portuguesas, e ao debate de ideias e de propostas que gera exigências e que cria necessidades enriquecedoras da Democracia.

Defendeu a Direcção JN a riqueza de um trabalho diversificado e plural, necessariamente com limites impostos pelo número de municípios (308) e pela gestão dos meios disponíveis — limites que obrigaram à opção de critérios de natureza exclusivamente jornalística. No fundo, e ainda segundo a Direcção, foi seguida uma linha editorial ?que poderá não agradar a todos, mas seguramente não prejudicará ninguém?.

Reconheça-se o valimento das explicações da Direcção: houve, de facto, um propósito de cobrir, o melhor possível, as envolventes da nova alternância democrática, naquele que é o mais visível e mais enriquecedor dos frutos da Revolução: o Poder Autárquico. A campanha eleitoral começa, apenas, dentro de um mês (4 de Dezembro) — e, no entanto, desde os primeiros dias de Abril (oito meses antes!) que o JN tem uma equipa a trabalhar exclusivamente o terreno das propostas, das necessidades e das expectativas das populações de Norte a Sul do país! Nenhum outro órgão de comunicação social iniciou a cobertura da pré-campanha tão cedo; nenhum outro lhe vem dedicando tanto espaço.

Só que não é da fartura que se queixa Honório Novo, mas da qualidade dos critérios que conduziram a uma segregação. Foram publicadas nesse dia duas entrevistas a outros tantos cabeças de lista — sem, sequer, serem mencionados os outros. Diz Honório Novo que ?a leitura dessas entrevistas até pode contribuir para a conclusão (errada) de que em Matosinhos só há esses dois candidatos, pois o jornal nem sequer diz que existem outras candidaturas?. E nesse dia, de facto, não o dizia — contrariando o velho princípio de que todos os dias qualquer jornal tem, pelo menos, um leitor novo.

Pedido pelo Provedor parecer ao Conselho de Redacção, os membros eleitos desse órgão pronunciaram-se da seguinte forma:

?O Jornal de Notícias é um jornal de importantes tradições de pluralismo, de atenção aos problemas da comunidade onde se insere, e até de jornalismo cívico e de proximidade.

?Numa genuína vocação cívica dos media para a promoção da cidadania, o tratamento jornalístico de candidaturas a quaisquer órgãos democráticos não pode resumir-se à querela entre os campeões potenciais da disputa eleitoral, antes deve contribuir para enriquecer o debate, dando expressão às ideias, críticas e propostas de todas as forças em presença.?

Das tradições de pluralismo do JN não duvida Honório Novo. Só que, segundo o deputado comunista, essas tradições não compaginam os critérios que o segregaram enquanto candidato à Câmara de Matosinhos.

O cerne da questão está, de facto, em que ?o tratamento jornalístico de candidaturas a quaisquer órgãos democráticos não pode resumir-se à querela entre os campeões potenciais da disputa eleitoral? — como observa o CR.

Em Democracia, todos os candidatos a uma eleição são potenciais vencedores e deve atribuir-se-lhes o mesmo tratamento, dar-se-lhes as mesmas oportunidades. Preterir, na linha de partida, um ou mais concorrentes é, no entender do Provedor, uma segregação que nenhum critério jornalístico consegue justificar.

Diz Honório Novo na sua carta, com ironia, que ?seria, então, mais avisado entrevistar apenas o vencedor antecipado, ou, quem sabe, defender que nem sequer se fizessem eleições neste ou em concelhos semelhantes?.

Não cabe ao Provedor, naturalmente, sugerir critérios editoriais ? baseados no princípio da proximidade ou em quais quer outros. Mas compete-lhe apontar falhas que podem, ainda, tentar-se corrigir, com a mesma humildade com que o Provedor reconhece que deveria, ele próprio, ter-se apercebido, há muito, da metodologia usada, de forma a ter podido sugerir, em tempo mais útil, uma mudança de critérios."

    
    
                     

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