O fotógrafo Zoriah Miller foi proibido de cobrir a marinha americana no Iraque após ter publicado em seu sítio, no final de junho, imagens de vários de seus membros mortos. Muitos jornalistas viram a sanção como mais uma mostra da crescente pressão do exército americano de controlar imagens da guerra. O general John Kelly, comandante da marinha no Iraque, pretende barrar Miller de todas as facilidades militares dos EUA no mundo todo.
Se a guerra do Vietnã ficou famosa pela ampla abertura de acesso a jornalistas (até excessiva segundo alguns), a do Iraque está sendo o extremo oposto: após cinco anos e mais de quatro mil americanos mortos em combate, entrevistas e pesquisas foram se tornado escassas e registros fotográficos resumem-se em meia dúzia de imagens de soldados americanos mortos.
Imagens polêmicas
O assunto é complexo: em tempos de informação em alta velocidade, imagens de mortos podem ser um peso adicional e imediato nas famílias e nos soldados ainda no campo. Comandantes locais preocupam-se com a segurança em publicar imagens de americanos mortos, assim como julgam ser uma afronta à dignidade dos camaradas mortos. A maioria dos jornais tem uma política em que se recusa a publicar tais imagens.
Opositores à guerra, defensores das liberdades civis e jornalistas em geral, no entanto, acham que o retrato público da guerra está sendo ‘sanitarizado’ e que os americanos que querem ver imagens da guerra deveriam poder fazê-lo.
Segundo reportagem de Michael Kamber e Tim Arango [The New York Times, 26/7/08], jornalistas afirmam que agora está mais difícil de acompanhar tropas no Iraque em missões de combate do que nos primeiros anos da guerra, principalmente após as novas regras instituídas em 2007 para os jornalistas que acompanham as tropas americanas. E apesar de as fotos de americanos mortos não serem proibidas dentro dessas regras, o caso de Miller evidencia o que parece ser uma realidade ao Iraque: atos como os do fotógrafo podem resultar em expulsão da cobertura da guerra.
‘É censura pura’, disse Miller. ‘Tirei as fotos de algo que eles não gostaram, e eles me tiraram de lá. Ao decidir o que posso ou não documentar, não vejo uma definição mais clara de censura’.
A marinha negou que estivesse tentando impor limites à mídia e alegou que Miller quebrou regulamentos do sistema de incorporação da imprensa às tropas. ‘Especificamente, Miller deu a nossos inimigos uma idéia de quão efetivo foi seu ataque’, disse o tenente-coronel Chris Hughes, porta-voz da marinha americana.
Pouca cobertura
Organizações noticiosas afirmam que esse tipo de restrição é um dos fatores que explicam a queda na cobertura da guerra, além do perigo, alto custo de manter uma equipe de imprensa no Iraque e diminuição do interesse dos americanos em seguir a guerra. Recentemente contou-se apenas meia dúzia de fotógrafos ocidentais cobrindo uma guerra em que 150 mil soldados estão engajados.
No caso de Miller, um oficial militar em Bagdá disse que uma avaliação inicial indica que ele não violou as regras e que o fotógrafo ainda estava credenciado para trabalhar no Iraque, mas que nenhuma unidade militar o aceitaria.
Quando um homem-bomba detonou seu colete matando 20 pessoas, incluindo três marines, Miller foi um dos primeiros a chegar ao local. Suas fotos mostram cenas de horror, com partes de corpos espalhadas pelo chão. Ele fotografou por 10 minutos até ser escoltado para fora da cena.
‘A total falta de respeito de Miller a esses soldados, seus amigos e suas famílias é vergonhosa’, disse um capitão no Iraque. ‘Como explicamos a seus filhos ou familiares essas imagens perturbadoras poucos dias após ter ocorrido a explosão fatal?’
Miller, que voltou aos EUA em 9/7, ficou surpreso com a atenção e furor que suas imagens causaram. ‘O fato de que essas imagens – que são apenas fotografias de algo que acontece todos os dias pelo país – terem causado tamanho choque entre as pessoas, mostra que, seja lá o que estejam fazendo para impor limites na publicação desse tipo de foto, está funcionando’.