Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um novo jeito de testemunhar a História

O aumento do uso da tecnologia digital, que permite que cidadãos comuns registrem imagens e as coloquem imediatamente na internet, está mudando o modo como o mundo testemunha fatos da história, afirma Kevin Sullivan [Washington Post, 18/12/06]. Eventos que antes ficavam gravados apenas na memória agora têm cada um de seus detalhes registrados em pixels e disponibilizados em segundos para todo o mundo.

A tendência é movida pela proliferação de celulares equipados com câmeras, lançados no Japão em 2000. As vendas dos aparelhos em todo o mundo atingiram 460 milhões de unidades apenas este ano e devem alcançar a marca de um bilhão em 2010, segundo analistas da indústria.

Big Brother

Com uma maior quantidade de imagens, advogados usam fotos como provas em casos contra terroristas e outros criminosos. Seguradoras também usam imagens tiradas por celulares em casos de acidentes de carro.

Estes aparelhos cada vez menores, que cabem em bolsas e bolsos, tornam o espaço privado cada vez mais público. A agência Scoopt vendeu há alguns meses imagens da atriz Michelle Rodriguez, do seriado Lost, bêbada em um bar em Nova York – as fotos foram tiradas por um celular. A modelo Kate Moss também foi vítima de câmeras indiscretas e teve fotos suas aparentemente consumindo cocaína divulgadas em todo o mundo no ano passado. Também em 2005, o príncipe Harry, filho mais novo de Charles e Diana, foi forçado a se desculpar depois que uma foto sua fantasiado de soldado nazista em uma festa foi publicada por um tablóide britânico.

Multiplicação de registros

Há 43 anos, uma única pessoa com uma câmera registrou detalhes do assassinato do presidente John F. Kennedy. Se a tecnologia de hoje existisse na época, milhares de pessoas com celulares teriam registrado o fato de todos os ângulos possíveis.

Segundo o editor da Vanity Fair, David Friend, celulares equipados com câmeras não eram comuns em 2001, nos ataques de 11 de setembro, nos EUA. O registro histórico dos eventos teria sido maior se as pessoas nas Torres Gêmeas ou nos aviões seqüestrados pudessem ter enviado fotos e vídeos. Na ocasião, diante da magnitude da tragédia, jornais e emissoras de TV começaram a pedir que o público enviasse suas fotos para acrescentar ao trabalho dos fotógrafos e cinegrafistas profissionais.

Na tsunami na Ásia no fim de 2004 o número de imagens enviadas para blogs e que rodaram o mundo já foi maior. Nos atentados no metrô de Londres, em julho do ano passado, houve uma proliferação de fotos e vídeos (alguns bem precários, é verdade) feitos com câmeras de celulares. As imagens foram dos aparelhinhos para blogs e, finalmente, o público pôde testemunhar, em páginas de jornais e programas de TV, o que viram e sentiram as pessoas que estavam no local.