Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Lições de inveja e prepotência

LINGÜÍSTICA & LINGÜISTAS

Nilson Lage (*)

A inveja e a prepotência acadêmica são motivadores fantásticos. O popular professor Pasquale não é uma sumidade, muito pelo contrário. Mas o Sr. Bagno, que o ridiculariza e tangencia normas éticas, confundindo crítica e insulto, obedece, linha após linha, palavra após palavra, à gramática do professor Pasquale [veja remissão abaixo].

Por que, se é indiferente, o Sr. Bagno não escreve digo de que o Pasquale está errado, que nós semos inteligentes, a gente podemos dar um jeito na língua, Maria foi comprar um rolo de papel para limpar os baixos ? essas e milhares de outras formas legítimas da apregoada heresia gramatical das massas? Por que não aceita em suas bancas de mestrado e doutorado teses escritas assim, não admite aulas ministradas assim, não lê jornais escritos assim, não ouve noticiários falados assim ? nem na Globo, nem na CNN, nem na TV5, nem na RTPi, nem na NHK? Por que se submete à ignorância que atribui ao pobre do Pasquale ? que, na verdade, está ficando rico, e esse é o problema?

Das duas uma: ou o Sr. Bagno quer que a língua vernácula seja privilégio de um pequeníssimo grupo, do qual, ele, naturalmente, faz parte; ou pretende que partilhemos, como língua de cultura, neste mundo globalizado, o inglês científico ? uma espécie de latim vulgar dos novos tempos.

Claro que a pesquisa científica nada tem com regras consensuais adotadas numa sociedade para o intercâmbio dos discursos técnicos, científicos, informativos e da maioria dos textos literários. E a correção de mil definições ou normalizaçoes erradas não impede que, no mesmo sistema, haja centenas de milhares de outras aplicáveis e corretas.

Na verdade, não há outro procedimento didático que não a indicação das formas preferíveis. Dos modelos científicos ? Saussure, C. S. Peirce, Frege, Strawson, Austin, Grice, Sperber… ? não há como derivar critérios de qualidade.

Naturalmente, o Sr. Bagno tem ? desculpem-me o trocadilho, não resisto ? uma banheira cheia de títulos para jogar na cara dos outros.

O chato é que eu também tenho alguns. No entanto, trabalho modestamente na aplicação da Lingüística à teoria do Jornalismo. E, porque não sou pedante (a etimologia dessa palavra conduz ao francês pedant, mestre-escola), não invejo o sucesso do Sílvio Santos, da Sandy e do Júnior nem do professor Pasquale.

E tenho mais uma longa experiência que o Sr Bagno não diz ter ? mais de 35 anos editando veículos de comunicação, onde se luta bravamente para tentar manter o padrão exigido no idioma. E outros 30 anos, em parte coincidentes, tentando ensinar a estudantes de Jornalismo tudo que a prepotência de falsos revolucionários rejeita, principalmente no ensino público, que pouco se lixa para a sobrevivência dos alunos no mercado de trabalho.

Naturalmente, o Sr. Bagno deve ser um jovem, e provavelmente também um cidadão do mundo, pela maneira como despreza velhos mestres e instituições nacionais. Mas eu diria que é, princiapalmente, bobo.

(*) Jornalista, professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina, doutor em Lingüística pela UFRJ

 

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