Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Apenas o próprio umbigo

PÁTRIA DE CHUTEIRAS

Cláudio Weber Abramo

Encontrava-me em Quito, no Equador, quando transcorreu a última rodada das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de futebol de Seul/Tóquio.

Nunca fui fã de futebol, mas Copa do Mundo é Copa do Mundo. Confesso que, em 1970, torci pelo Brasil apesar do general Médici. Em outras copas, também torci, mas tal fervor quadrienal foi diminuindo até a Copa dos EUA, quando francamente torci pela Itália contra o valoroso esquadrão canarinho, o qual contava em suas fileiras com um sujeitinho chamado Bebeto, o qual simboliza tudo o que mais detesto no Brasil, a saber, a subserviência, o tipinho escorregadio.

[Lembro-me que, em eliminatórias para alguma Copa anterior, estavam em campo esse tal de Bebeto e um centroavante chamado Careca, os quais disputavam posição no time. Este fez três ou quatro gols no jogo. O último desses gols foi registrado por uma câmera situada atrás da meta (!) brasileira. Pois bem, Careca fez o gol de cabeça, bem junto à trave. A zoom que captou o lance mostrava o tal de Bebeto aí pela intermediária do adversário. No instante do gol, o que fez ele? Colocou ambas as mãos na cabeça, como quem diz: "xiiii….". End of story.]

Muito bem, nas presentes eliminatórias, torci freneticamente para que o Brasil não se classificasse, que fosse forçado a disputar a repescagem com a Austrália e que, nisso, fosse derrotado ignominiosamente. Quando o onze nacional perdeu da Bolívia, pensei comigo que não tinha erro: na certa a Venezuela venceria.

Não venceu, e o Brasil está de novo na Copa, o que não me diz nada. Mas não era sobre isso que queria escrever, e sim sobre o seguinte: eis-me em Quito, na noite do jogo. Naturalmente, as TVs equatorianas cobriram não esse embate, mas a peleja (!!) entre a seleção deles lá e a seleção do Chile. Jantava enquanto o jogo transcorria, e um garçom quase me inunda de molho ante um quase-gol.

Na noite seguinte, antes de dormir, zapeava os canais equatorianos (acreditem: existe coisa pior do que a TV brasileira) quando deparei com dois sujeitos que discorriam sobre a rodada. Comentavam o desempenho do time do Equador, ao que parece notável. A certa altura, chamaram o correspondente brasileiro. Aparece na tela um camarada falando um portunhol horroroso. Perguntam-lhe sobre a seleção brasileira. Resposta: uma enxurrada de lamúrias, culpas, responsabilidades. Em seguida, indagam sua opinião sobre a campanha do Equador. Aí veio a brasileirada: "Olha, não prestei atenção no Equador, não sei nada, só acompanhei o Brasil". Após longos segundos de perplexidade, um dos âncoras observou: "Os brasileiros precisam aprender a olhar para fora". Indeed.