Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Armando Nogueira

CPI, MAR DE LAMA

"No pio dos pardais", copyright O Estado de S. Paulo, 9/12/01

"Saiu a seleção brasileira da banda podre. São 17 suspeitos, a começar por Ricardo Teixeira, Eurico Miranda e Edmundo Santos Silva, Eduardo Viana, o Caixa D?Água, Eduardo Farah, Calçada, ex-presidente do Vasco.

O técnico da seleção da banda podre é Vanderlei Luxemburgo, contra quem a CPI do Senado faz pesadas denúncias por sonegação fiscal, tráfico de influência e enriquecimento ilícito. Aliás, essa é a tônica das denúncias contra a maioria dos cartolas. Enriquecimento ilícito é eufemismo da linguagem jurídica. Trocando em miúdos, isso quer dizer que os distintos meteram a mão, mesmo.

Depois de exaustivamente investigados pelo Senado, os cartolas ficam, agora, por conta do Ministério Público. O que acontecerá a todos eles, só quem sabe é a Justiça, que é quem tem poderes pra julgar e condenar.

No sentimento da opinião pública, porém, desde já, todos esses cartolas estão pendurados em veementes cartões amarelos.

Grande parte desses suspeitos de irregularidades no futebol já está na mira de todo mundo, não é de hoje. São velhos personagens de fatos, eu diria, marotos.

São os chamados fatos notórios. Aliás, a propósito da expressão, outro dia o advogado Sérgio Bermudes, com seu celebrado brilho verbal, me repetia uma deliciosa imagem da alma popular austríaca, que define, assim, fato notório:

?Fato notório é todo fato sobre o qual os pardais conversam nos beirais dos telhados…?"

 

"Doze a Zero", editorial, copyright Folha de S. Paulo, 8/12/01

"O placar soa a vitória por uma goleada que, no futebol, seria avassaladora. E no Senado também o foi. O relatório do congressista catarinense Geraldo Althoff (PFL) sobre desmandos no mais popular esporte brasileiro foi aprovado por unanimidade.

O texto do relator cita 17 pessoas envolvidas em supostas irregularidades. Entre elas estão o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira (acusado de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e apropriação indébita), o da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, e o deputado federal pelo Rio de Janeiro e dirigente de futebol Eurico Miranda (PPB).

Há duas questões envolvidas quando o assunto são os desmandos no futebol brasileiro. Uma é de ordem simbólica. O esporte atrai a atenção e as paixões de uma multidão de brasileiros, além de ser um negócio que movimenta milhões de dólares. Somadas às péssimas performances que clubes e, principalmente, a seleção vêm apresentando nos últimos tempos, as notícias sobre falcatruas aumentam a frustração do público em relação ao futebol. Corrigir a estrutura do esporte passa a ter, portanto, mais respaldo popular.

Mais importante que isso, no entanto, é a questão propriamente pública que perpassa o futebol, seja na relação paternalista que o Estado ainda mantém com clubes e federações -exemplificada no tratamento brando que têm da tributação e da fiscalização e mantida à custa da promiscuidade entre a política clubística e a institucional- seja nos casos de polícia revelados pelas CPIs, que dão a amostra da existência de verdadeiros bandos organizados sobrevivendo no futebol. E é esse arcaísmo criminoso que merece toda a atenção do Ministério Público, da Justiça e das autoridades que fazem e têm o dever de executar as leis no Brasil."

 

"Renúncias imediatas", copyright Folha de S. Paulo, 9/12/01

"A unânime aprovação do relatório da CPI do Senado foi o fato mais importante do futebol brasileiro do ano. Talvez da década. Os senadores Geraldo Althoff e Álvaro Dias e os deputados Aldo Rebelo e Sílvio Torres fizeram ótimos trabalhos.

Após as contundentes e bem documentadas denúncias, os conselheiros e os presidentes de clubes e federações não envolvidas deveriam pressionar e pedir as renúncias imediatas dos acusados. O ministro dos Esportes, Carlos Melles, já fez isso.

Os denunciados não foram condenados, irão se defender na Justiça, mas deveriam fazer isso fora de seus cargos. Perderam a credibilidade e a legitimidade. As renúncias são fundamentais para uma reorganização do futebol brasileiro.

Já que é momento de mudanças, a comissão de ?notáveis? que elaborou o calendário quadrienal precisa repensar o que fez. Todos os dirigentes de clubes concordaram com o atual regulamento do Campeonato Brasileiro. Uma competição com apenas quatro meses de duração e com único turno, porém, é lastimável.

Em todo o mundo, o campeonato nacional é por pontos corridos, turno e returno e com no mínimo oito meses de duração. No final, somam-se os pontos. É o único critério justo.

Os primeiros colocados passariam a ter o direito de jogarem outros campeonatos, como Libertadores, Copa do Brasil e Mercosul. Esses, seriam nos meios de semana, além das partidas da seleção, sem justaposição de datas.

Os finais de semana, durante dois meses, seriam reservados para os torneios estaduais ou regionais. Não sei qual seria melhor. Haveria três divisões, com no máximo 24 clubes em cada uma, com acesso e descenso. Os outros dois meses seriam para as férias e a pré-temporada.

O critério técnico tem de estar à frente do econômico. Somente assim o campeonato terá credibilidade. A médio prazo, o critério técnico seria também o mais rentável. Qualquer matemático de botequim faria um bom calendário. Basta querer!"