J. A. GIANNOTTI
Alberto Dines
Estamos diante de uma situação em que a nuance é extremamente relevante. E os intelectuais estão se comportando cada vez mais como jornalistas. Ou seja, deveriam substituir o fígado pelo rigor e a paciência do conceito. [José Artur Giannotti, entrevistado pela Folha de S. Paulo, 30/12/01]
Não foi um texto longo mas estava bem escrito, o repórter reportando em vez de limitar-se ao registro frio do pingue-pongue. Não tratou propriamente da mídia ou mediadores mas nas quatro serenas linhas em que esses aparecem ficam em situação lamentável:
** Jornalistas são colocados, teoricamente, com antípodas dos intelectuais embora estes, hoje em dia, já não se mostrem capazes de perceber a relevância das nuances.
** Portanto, também os jornalistas são considerados como incapazes de perceber sutilezas. Isso é grave: como a função da imprensa contemporânea apóia-se na sua capacidade de analisar, somar, dimensionar e referenciar conclui-se que está longe de atender suas obrigações mais elementares.
** Ao aderir aos paradigmas jornalísticos, os intelectuais passam a vocalizar apenas suas indignações ou humores (representados pela menção ao fígado), incapazes de usar a função cerebral ou racional.
** Nivelados por baixo, intelectuais e jornalistas passam a fazer parte do mesmo coro ? deixando a imprensa órfã de qualquer rigor, incapaz de conceitos elaborados com paciência.
É óbvio que para o filósofo existem exceções, caso contrário não expressaria tão temerária sentença numa entrevista de fim de ano. Mas a constatação não chega a surpreender ? é exatamente isso que este Observatório vem dizendo há muito tempo.
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