Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Otavio Frias Filho

SHOW DO MILHÃO

"Show do milhão", copyright Folha de S. Paulo, 4/01/02

"A propósito do fascismo, o marxista Walter Benjamin cunhou o termo estetização da política, derivado da verdadeira obsessão que os nazistas tinham por formas e signos (Hitler e Goebbels se consideravam, por exemplo, críticos de cinema) e de sua noção do Estado como ?obra de arte? nacional.

Foi nos anos 60 que surgiu um conceito aparentado, o da espetacularização. Apresentada no influente livro do francês Guy Debord, a idéia, hoje profética, é que a sociedade contemporânea passaria a funcionar como espetáculo, com as implicações hoje conhecidas quanto à realidade imagética, virtual etc.

Esse fenômeno parece instalado na religião, no jornalismo e até na vida privada, comprovando-se a olhos vistos em toda instância que se quiser considerar. Mas se tem uma esfera onde ele foi levado às últimas consequências é a da política. Não se trata de gostar ou não, trata-se de um impulso irreversível.

Por prosaico que seja o programa ?Show do Milhão?, do empresário e apresentador Silvio Santos, neste último domingo a atração assumia, sem disfarces, o entrelaçamento cada vez mais inevitável entre política e espetáculo. Eram profissionais da política que concorriam na gincana cultural.

Este tipo de programas de TV surgiu nos Estados Unidos logo após a Segunda Guerra, quando se estabeleceu que a formação universitária era o ideal de vida de todo americano que desejasse um futuro melhor. Nos anos 50, a televisão americana e logo mais a brasileira estariam repletas de ?quizz shows?.

É justamente quando a miragem de uma cultura universal, enciclopédica, entrava em colapso por conta da ultra-especialização do saber, que sua mitificação encontrou um formato televisivo que se mantém até hoje. Não importa definir o que são as quinquilharias dessa ?cultura?, desde que ela impressione.

No esquema tradicional, porém, uma pessoa respondia sobre os assuntos mais disparatados ou, no modelo que prosperou no Brasil nos anos 70/ 80, sobre alguma sua fixação particular: formigas ou Dona Beija. No ?Show do Milhão? o disparate chega ao extremo, o ?nível? das perguntas é sempre imprevisível.

Admitindo-se a versão da emissora de que o sorteio de questões é aleatório, o pretendente pode se confrontar com uma pergunta banal, idiota ou altamente específica. Dizem que o programa mostra o ?baixo nível? de nosso povo, mas é duvidoso que em países como os EUA os resultados sejam algo melhores.

Os políticos até que não se saíram mal, reflexo, talvez, do desnível de conhecimento formal entre pessoas ?do povo? e da ?elite?. Diversos governadores submeteram-se docilmente aos rituais de programa de auditório, com direito às humilhações de praxe. Foi cômico, mas deu o que pensar. (Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna)"

 

"Simpatia pura", copyright no. (www.no.com.br), 2/01/02

"Mãozinha mesmo foi o que Silvio Santos deu para Paulo Maluf no programa ?Show do Milhão?. Em clima de papo entre amigos na sala de estar o apresentador começou dizendo que ?por onde a gente passa, tudo que a gente vê foi o Maluf quem fêz?. Esqueceu a palavra candidato ao referir-se ao pepebista como governador ou presidente da República em 2002. Concedeu longuíssimos 6 minutos e 15 segundos para Maluf listar todas as obras realizadas em seus mandatos na prefeitura e governo estadual paulistas. Isso depois de chamar o presidente do PPB de intelectual. O candidatíssimo nem se importou de ter errado a resposta e derrubado a equipe. Saiu feliz e sorridente."

 

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"Transparência total", copyright no. (www.no.com.br), 2/01/02

"Impressionante a sinceridade do governador Marconi Perillo no programa ?Show do Milhão?. Na dúvida entre parar ou seguir arriscando os 400 mil reais já conseguidos, Perillo foi um fiasco filantrópico: ?Eu não sou de parar. Embora seja importante levar os 400 mil para as entidades, prefiro ir à luta e arriscar?. O governador goiano errou a resposta e as entidades beneficiadas perderam 200 mil reais com a bravata. Uma cuida de portadores de hanseníase, outra de idosos."