Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Romero Jucá sob os holofotes

Desde que estouraram denúncias contra o novo ministro da Previdência, Romero Jucá, após a microrreforma ministerial do governo Lula neste ano, venho me espantando com elas, porque fui tomado pela impressão de que esse político, há tanto tempo em evidência no cenário nacional, jamais tinha sido alvo de tanta atenção e de tantas críticas da imprensa, apesar de sua, digamos, vida pregressa ser rica em material para denúncias e críticas. Então decidi pesquisar sobre Romero Jucá Filho e a atenção que vem recebendo da mídia desde 1994. Por que desde 1994? Simples: decidi usar como ferramenta de pesquisa o sistema de busca da Folha de S.Paulo, que permite pesquisar o noticiário do jornal desde aquele ano.

Antes de apresentar os resultados de minha pesquisa e os métodos de que me vali para empreendê-la, quero informar ao distinto público alguns dados sobre o cacique político em questão: em 1988, o jovem Romero Jucá Filho, por indicação do general Ruben Bayma Denys, foi nomeado governador de Roraima. Durante os últimos 10 anos ele veio pulando de um partido político para outro. Em 1995, trocou o PPR (ex-Arena, hoje PP) pelo PFL e se manteve apoiando o recém-eleito governo FHC; em 1999, trocou o PFL pelo PSDB, ficando mais perto ainda do governo tucano; em 2003, mantendo a tradição que norteou sua vida política de integrar sempre bases de apoio parlamentar a governos, trocou o PSDB pelo PMDB e passou a apoiar o governo Lula. No entanto, até que virasse ministro do governo Lula jamais a mídia se preocupou tanto com ele.

Se os meios de comunicação forem chamados a se pronunciar sobre isso, certamente dirão que o fato de Jucá ter virado ministro é o que motivou essa sua exposição que temos visto. Porém, em minha pesquisa constatei que esse senhor sempre ocupou posição de destaque na política, tendo sido líder do governo FHC por muito tempo e ocupado, através dos anos, cargos importantíssimos em diversas comissões do Senado. Nunca, entretanto, suas hipotéticas estripulias geraram tanta luz e calor.

A prova desta afirmação reside na pesquisa que fiz. Decidi usar a ferramenta de busca da Folha da seguinte forma: procurei as palavras ‘Romero Jucá’, ‘denúncias’ e ‘denúncia’ ano a ano, desde 1994. Os resultados que encontrei foram os seguintes:

** 2005 – em menos de 4 meses constatei 23 ocorrências, todas relativas a denúncias contra Jucá;

** 2004 – 2 ocorrências, mas nenhuma relativa a denúncias contra Jucá;

** 2003 – 9 ocorrências, mas só uma relativa a denúncia contra a mulher de Jucá, Tereza Jucá, e o resto não era com ele;

** 2002 – 7 ocorrências, mas só 1 contra a mulher de Jucá, e o resto não era com ele;

** 2001 – 12 ocorrências, mas nenhuma relativa a denúncia contra Jucá;

** 2000 – 13 ocorrências, mas só uma denúncia contra ele. (A matéria está no pé deste texto).

** 1999 – 4 ocorrências, nenhuma relativa a denúncia contra Jucá;

** 1998 – 4 ocorrências, nenhuma relativa a denúncia contra Jucá;

** 1997 – nenhuma ocorrência;

** 1996 – 1 ocorrência relativa a denúncia contra Jucá. (A matéria está no pé deste texto)

** 1995 – 3 ocorrências, nenhuma contendo denúncia contra Jucá;

** 1994 – 2 ocorrências, contendo menções desabonadoras a Jucá que reproduzo:

‘Romero Jucá, assíduo freqüentador do noticiário de imoralidades públicas’

‘Em 1988, o jovem Romero Jucá, por indicação do general Ruben Bayma Denys, foi nomeado governador de Roraima, fechando a área ianomâmi a pesquisadores, jornalistas, médicos, testemunhas de um modo geral, abrindo-a, entretanto, aos garimpeiros (…)’.

O método de que me vali na pesquisa poderia ser questionado assim: muitas denúncias contra Jucá podem ter sido publicadas esses anos todos sem as palavras ‘denúncias’ ou ‘denúncia’. Mas, então, o que explica que em 2005 o sistema de busca da Folha tenha encontrado tantas ocorrências (23) contendo essas palavras junto com o nome Romero Jucá? As conclusões lógicas desse fato não podem ser outras além das de que em anos anteriores a este não houve movimentação sequer parecida da mídia contra Jucá e a de que enquanto o ativo político serviu a outros governos que não o de Lula sempre foi deixado em paz pela mídia. Cabe, então, questionarmos seriamente o porquê disso. E cabe, também, ficarmos atentos ao que andam dizendo os políticos do PSDB e do PFL sobre Jucá, que os serviu tanto e por tanto tempo.

Denúncia 1

Folha de S.Paulo – 31/3/2000

TCU quer ouvir Jucá sobre desvio de verba

Abnor Gondim, da Sucursal de Brasília

O Ministério Público do TCU (Tribunal de Contas da União) pediu que o senador Romero Jucá (PSDB-RR), vice-líder do governo, seja convocado a depor em processo que apura desvio de R$ 300 mil destinados em 1992 pelo extinto Ministério da Ação Social à Fundação Roraima.

Romero Jucá é relator do pedido de rolagem da dívida da Prefeitura de São Paulo na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal.

Ele é acusado de ter usado recursos públicos para equipar a fundação, que é a própria TV Caburaí, afiliada da Rede Bandeirantes em Boa Vista (RR).

Sete meses depois de ter deixado o governo do Estado em 1990, Jucá se tornou sócio da fundação, segundo documentos levantados pelo Ministério Público Federal em Roraima (…).



Denúncia 2

Folha de S.Paulo – 13/12/1996

Deputado vê privilégio a senadores

da Sucursal de Brasília

O sub-relator do Orçamento para Planejamento, Urbanismo e Integração Regional, senador Odacir Soares (PFL-RO), foi acusado ontem de não seguir as recomendações da bancada de Roraima e privilegiar os senadores Romero Jucá (PFL-RO) e Marluce Pinto (PMDB-RO) com 74% das verbas para saneamento e habitação (R$ 23,5 milhões).

Marluce e Romero são membros ativos da Comissão Mista de Orçamento e são conhecidos pela facilidade de obter recursos para projetos de seu interesse.

A denúncia foi feita pelo deputado Robério Araújo (PPB-RO) durante votação do relatório na comissão. O texto foi aprovado com a concentração de verbas nos projetos dos dois senadores. Marluce disse estar ´´tranquila´´, pois pediu verbas para a capital, que concentra 65% da população do Estado.

Jucá afirmou que não via irregularidade em obter recursos para municípios. ´´É um direito do parlamentar.´´ Segundo Soares, seu parecer foi negociado na bancada (…).

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Comerciante, São Paulo