Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Paulo Moreira Leite

ÉPOCA & SEQÜESTRO

"Os seqüestros e a imprensa", copyright Época, 14/1/02

"A reportagem de capa da última edição de ÉPOCA, Seqüestro, merece um minuto de reflexão. Numa prova de que o assunto interessa ao leitor, as vendas da revista deram um salto. Um bom número de cartas chegou à redação, elogiando a coragem de ÉPOCA para denunciar um crime que cresce em escala geométrica. Nem todas as reações foram favoráveis. Desgostosa com a reportagem, que destacava o seqüestro de seu principal acionista, o publicitário Washington Olivetto, a agência W/Brasil resolveu interromper dois anos de parceria comercial com ÉPOCA e a Editora Globo, que publica a revista.

Enquanto boa parte da imprensa decidiu, de uns anos para cá, adotar o silêncio diante dos seqüestros, a opinião de ÉPOCA (e das Organizações Globo) é que esse crime deve ser noticiado com o destaque e os cuidados que merece. Isso implica evitar informações que possam auxiliar os criminosos ou colocar em risco a vida da vítima. Valores pedidos ou resgates eventualmente pagos também não devem ser divulgados ? a revista lamenta que, mesmo sem envolver seqüestros em andamento, esse tipo de dado tenha saído publicado na última edição.

ÉPOCA considera que a imprensa existe, acima de tudo, para informar os cidadãos sobre fatos relevantes da vida social. Pela freqüência, os seqüestros já ameaçam tornar-se uma tragédia banal. Será o silêncio uma boa idéia?

Impossível julgar a partir de episódios isolados. A opinião das vítimas se divide, mas grande parte concorda que a divulgação é a melhor postura. Muitos especialistas, autoridades e policiais também pensam assim. Um levantamento do Disque-Denúncia, serviço de informantes anônimos do Rio de Janeiro, diz que a imprensa ajudou a resolver mais de 60% dos casos que passaram por ali.

A comparação entre Rio e São Paulo é instrutiva. Em São Paulo, os casos de seqüestro cresceram 323% em um ano, enquanto no Rio houve uma redução gigantesca. Explica-se essa melhoria pelo aperfeiçoamento da polícia fluminense, num trabalho demorado de combate à corrupção e de aprimoramento técnico. Esse progresso só foi possível a partir de uma intensa pressão da sociedade, que no mundo contemporâneo não ocorre sem a imprensa. Ao assumir uma postura vigilante e firme, os jornais e emissoras de rádio e TV do Rio tiveram um papel de relevo na mobilização contra os seqüestros. Em São Paulo, os maiores jornais silenciam sobre esse tipo de crime. A exceção é o Diário de S. Paulo. Parece difícil negar que visões diferentes sobre o papel da imprensa tenham contribuído para que se produzissem resultados diferentes no combate aos seqüestros."

 

"Agência W/Brasil rompe contrato com Época", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 8/1/02

"A agência de publicidade W/Brasil rompeu nesta terça-feira o contrato que tinha com a revista Época e o jornal O Globo, em represália à matéria de capa publicada na mais recente edição da revista, com Washington Olivetto na capa e uma matéria sobre os seqüestros em São Paulo.

Olivetto foi seqüestrado em 11 de dezembro. A polícia não está divulgando informações e a imprensa em geral está aceitando essa ?cortina de silêncio? a pedido da família e dos amigos do publicitário.

As Organizações Globo, entretanto, afirmam que estão tratando o caso dentro de suas normas para casos de seqüestro e, realmente, a matéria publicada por Época nada tem que possa causar riscos para o seqüestrado.

A W/Brasil, entretanto, reagiu de maneira emocional e divulgou uma nota de rompimento do contrato com Época.

Merval Pereira disse a Comunique-se que está surpreso com a decisão da agência de publicidade.  Época anunciou também uma nota mas, até o encerramento desta edição, não a enviou a Comunique-se."