MÍDIA EM CRISE
"Duas boas notícias para pessoal da Forbes", copyright Comunique-se, 11/1/02
"Uma boa notícia na desistência do Banco Patrimônio em continuar financiando a revista Forbes é que todos os funcionários vão receber imediatamente tudo a que têm direito. No máximo nesta terça-feira (15/1) os 20 jornalistas mais o pessoal de apoio estarão com dinheirinho suficiente para festejar o aniversário da cidadede São Paulo e brincar no carnaval. A segunda boa notícia é que o publisher da revista, Aluízio Falcão, já está conversando com cinco interessados em assumir o lugar do Patrimônio.
?A situação aqui está um breu?. Essa frase, dita por um dos 20 jornalistas da revista, resume o sentimento geral da redação diante da incerteza. Como geralmente acontece, o investidor não teve meias palavras para informar sua decisão. O representante do Banco Patrimônio (dono de 100% das ações da editora Camelot) simplesmente informou: ?Estamos desistindo já?.
Forbes tem uma circulação quinzenal média de 55 mil, dos quais 42 mil assinantes. Ninguém do mercado editorial entende como é que uma revista desse porte chega ao ponto de desistência. Desistência, porque o Patrimônio tomou a decisão na base do ?stop loss?, ou seja, cessação de prejuízos, sem querer saber de papo sobre qualquer possibilidade de equilibrar as contas.
O controlador do Patrimônio, Giampaolo Baglioni, tomou a não costumeira atitude de informar aos funcionários que o banco está disposto a ceder o controle acionário a custo zero. Com isso, o publisher Aluízio Falcão Filho caiu no mundo, em busca de novos investidores.
A possibilidade de a empresa-mãe Forbes assumir a operação no Brasil parece difícil, segundo uma fonte próxima à direção da edição brasileira, porque ela mesma não teve um ano bom em 2001. E o negócio só poderia ser feito depois de ser aprovada a emenda ao artigo 222 da Constituição.
Em dezembro passado, o Patrimônio havia vendido à Editora Peixes todos os títulos da Camelot – Gula, Viver Bem. Speak Up e Automóvel – em troca de 40 por cento da Peixes. O mercado na ocasião considerou o acordo um negócio da China. Mas a Forbes não entrou na operação."
"JB é amostra do que vem aí na imprensa", copyright Comunique-se, 8/1/02
"Foram mais de 70 demissões no Jornal do Brasil mas houve uma especialmente inesperada e dolorosa para toda a redação: a de D. Nazaré, secretária da editoria de Opinião e do veteraníssimo Wilson Figueiredo, funcionária do jornal há mais de 40 anos. Wilson sentiu-se mal e teve de ser socorrido quando soube da notícia.
Segundo definiu um dos ?sobreviventes?, o clima na redação é ?o mesmo de um campo de batalha no day after?. O ressentimento aparece em qualquer conversa, da mesma forma como o desafogo por ter escapado do corte.
Um dos editores veteranos preferiu um tom rigorosamente analítico: ?Estamos sendo pioneiros em uma grande transformação da imprensa. Não sei exatamente para onde estamos indo, mas sei que as coisas nunca mais serão como antes. Há uns 40 anos, os jornais recebiam mais de 80% das verbas publicitárias. Hoje essa fatia é de apenas 17% e novos meios de comunicação vão surgindo sem parar. Sei lá, mas os jornais estão em busca e novos rumos e os profissionais como nós vamos pagando o preço da mudança. O Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil estavam à beira da ruína, por causa de administrações desastrosas. No fundo, era isso ou o desaparecimento desses jornais.?
D. Nazaré ? Maria Nazaret da Conceição ?, 48 anos, mostrou-se supercalma.e até disse a Comunique-se que ?não guarda mágoas pela demissão?. Suas palavras mais afetuosas são dirigidas ao ex-chefe, Wilson Figueiredo. ?O Wilson é mais do que chefe. Ele é um amigo? ? disse. ?O JB é um lugar ótimo para se trabalhar. Não tenho nada de que me queixar. Só tenho lembranças boas?.
D. Nazaré já havia sido demitida do jornal em 1981 (tinha entrado em 1976), sendo readmitida cinco anos depois. Num dos passaralhos anteriores, seu nome estava no listão, mas Wilson Figueiredo conseguiu poupá-la. Ela ainda não foi procurada pela direção do jornal para fazer acordo."
"Velha novidade", copyright Comunique-se, 6/1/02
"A novidade que 2002 traz para a nossa vida – a chegada de investidores de fora do tradicional circuito das nove famílias que dominam a mídia no Bananão – mostrou, logo na primeira semana do ano, que não veio para trazer felicidade aos jornalistas, como alguns mais esperançosos chegaram a pensar. O massacre perpetrado na redação do JB no dia 3 demonstrou que o novos investidores podem mudar a administração das empresas de comunicação, mas não muito.
O sistema de administração levado para o JB por Nélson Tanure – através do Banco Fator, do qual ele é sócio-oculto-pero-no-mucho -, por exemplo, parte do princ&iacuiacute;pio que um jornal no Brasil é igual…digamos…a um estaleiro. Só que não é. Para começar, o setor de mídia não pode contar com aquela ajudinha amiga do dinheiro público, através do BNDES (graças a Deus. Imagina o sorvedouro que seria…), que sempre aparece em outras áreas.
Em segundo lugar, só TV dá lucro consistente em mídia na Botocúndia. Jornal e revista em país que fica em último lugar em teste internacional de leitura não pode ser considerado fonte de lucro certo – às vezes dá; às vezes não dá; algumas vezes empata. Tudo bem para os donos das empresas, já que eles têm negócios paralelos muito rentáveis. Os jornais e revistas servem mesmo para eles obterem algo que dinheiro só dá se houver em enorme quantidade: poder.
Nélson Tanure sabe muito bem como funciona o sistema e estava – e pelo que se sabe ainda está – pronto para utilizá-lo durante algum tempo em proveito próprio (pelo menos até a próxima eleição). Só que aí entrou a ?Maldição de São Cristóvão?. Reza a lenda que, no terreno onde se ergue o JB, foi enterrado um mega-sapo que faz fracassar qualquer plano empresarial por lá. Pelo que se vê agora, o superbatráquio voltou a atacar, pois os espertos rapazes do Fator parecem não ter olhado direito os números apresentados por José Antônio Nascimento Brito, superestimaram a capacidade arrecadadora do JB e viram-se diante de um baita prejuízo mensal, que chegaria à casa de R$ 1 milhão mensais.
O poder da maldição é tão grande que Tanure e seus garotos não fizeram nem o óbvio em seu tratando de negócios: não determinaram, de saída, um orçamento para cada setor da empresa (redação no meio). Houve então aquela enxurrada de contratações (algumas milionárias), cujo ciclo se encerrou melancolicamente no dia 3. Assim, ao fim e ao cabo, parece que – com ou sem investidores, brasileiros ou gringos – vamos continuar vivendo como sempre por aqui: de maneira instável, sempre sujeitos aos trovões e aos relâmpagos da incerteza.
Picadinho
Sadismo – Se houve algo de diferente neste episódio das demissões no JB foi o alto grau de sadismo do processo: os jornalistas foram torturados durante um mês, lentamente, até o último momento, pela incerteza do número de demitidos e de quem seria degolado. Imagino que Natal e Ano Novo passaram os colegas do JB sabendo que poderiam estar na lista de demissão. Se houvesse um mínimo de decência, os cortes seriam executados logo depois de decididos, poupando tanta gente da angústia. Mas preferiu-se utilizar a mão-de-obra dos já marcados para a demissão na cobertura das Festas. Realmente muito bonito…
Beiço? – A única ?vantagem? nesta tortura seria a de que os demitidos após 1? de janeiro teriam direito a receber as verbas rescisórias com o acréscimo do índice acordado na negociação de 2002, por terem sido mandados embora no período de 30 dias anterior à data-base da categoria (1? de fevereiro). Mas o reajuste salarial deverá ser zero ou próximo a isso e quem disse que o JB pretende pagar as verbas rescisórias corretamente? Tem gente que ainda não recebeu antigas dívidas, apesar de todas as promessas… E aqueles que eram PJ e não tinham ainda assinado o contrato, como é que ficam?
Cabeça no chão – E Highlander decidiu cortar o próprio pescoço…
Adesão – Parece que O Dia gostou do sistema do JB: são esperadas outras (não muitas) demissões nesta semana. Vamos ver.
No lucro – Diante deste panorama, o pessoal do Globo até que pode se considerar privilegiado: não vai pintar aquele contracheque extra em janeiro com a participação nos lucros, mas pelo menos não estão previstas demissões. O amargor fica por conta do fato que a redação atingiu todas as metas propostas em 2001 e a grana não vai pintar. Enfim…
E agora? ? O que as Organizações Globo vão fazer proteger a colega Cristina Guimarães da vingança dos traficantes? É bacana mandar a gente subir morro para conseguir uns pontinhos no Ibope, botar algum político malcomportado na linha e um ou outro prêmio de jornalismo, mas e na hora que o bicho pega, como é que fica? E o pessoal da Repórteres Sem Fronteira, Gilberto, não vai se mexer não?
?Deseseperar jamais…? – O ano começou mal, mas vamos manter a nossa cabeça erguida, certo? Portanto espero todo mundo na escolha do samba do Imprensa Que Eu Gamo, dias 22, no Far Up (Cobal de Botafogo), a partir das 20 horas, com consumação de R$ 10,00. Quem quiser concorrer, pode mandar email para Rita Fernandes (rita@viahiper.com.br), mas é bom ser rápido porque o número de inscrições será limitado a oito.
Resolução (I) – Este ano, envidarei todos os esforços para pôr a coluna da rede aos domingos, como era na outra encarnação.
Mais do mesmo – Quem quiser receber atualizações e outras mumunhas durante a semana, pode assinar o e-devezemquandário Coleguinhas Por Mail. Basta mandar emeio para cpm@coleguinhas.jor.br.
Barriga!
Estava lá na manchete de uma das páginas do Cidade do JB, na quinta-feira, dia do massacre: ?Morte de Cássia abre inquérito?.
Tudo bem que da Morte ninguém escapa, mas juro que não sabia que ?a indesejada das gentes? agora era também autoridade judiciária para instaurar inquérito…"