Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Rodrigo Dionisio

MTV

"MTV solta o verbo", copyright Folha de S.Paulo, 13/1/02

"O ano passado na TV foi inegavelmente de Silvio Santos e do SBT. Porém outra emissora, mais modesta, mas que também tem por nome uma sigla de três letras, teve o que comemorar. ?2001 foi o melhor ano da MTV?, diz seu diretor-geral, André Mantovani, 37. ?Tivemos ótimos resultados. Houve aumento de faturamento, audiência, lucro. Ampliamos um contato de caráter mais forte e relevante com o público.? Isso em um ano em que, em média, a audiência das emissoras caiu 9%, e o faturamento, 15% (em relação a 2000). Segundo dados revelados pelo canal, no ano passado seu ibope cresceu 24,7% entre os telespectadores de 15 a 29 anos das classes A e B (o público-alvo da MTV). Nessa ?fatia?, 60% dos telespectadores também sintonizaram o canal pelo menos uma vez por mês nesse período. Atualmente, a MTV atinge dois terços dos domicílios da Grande São Paulo e 16 milhões de residências no país. As cinco cotas de patrocínio para a sua programação de verão deste ano (e mais uma extra) foram vendidas. O faturamento da emissora no início de 2002 é 22% superior ao do começo de 2001. Mantovani diz, como exemplo, que a arrecadação da MTV é superior à da Rede TV!, emissora que, segundo reportagem da revista ?Meio & Mensagem?, aumentou seu faturamento em 300% no ano passado. ?Também, para quem vende mil passar a vender 4.000 é fácil?, ironiza o diretor da TV musical. O canal lançou ainda seu maior sucesso fonográfico, o ?Acústico Roberto Carlos?. Segundo a emissora, foram vendidas 1,5 milhão de cópias oficiais do CD até o final de 2001 (o recorde anterior era do ?Acústico Titãs?, com 1,4 milhão).

Polêmica

A MTV também ganhou visibilidade no ano passado na base da controvérsia. Para citar dois casos, a emissora realizou o primeiro programa de namoro entre homossexuais da TV (o ?Fica Comigo Gay?) e comprou briga com a Globo por causa do especial ?Acústico? com Roberto Carlos. Mantovani diz acreditar que esses fatos não foram determinantes para impulsionar a audiência do canal, mas ainda assim faz a seguinte analogia: ?Se tem uma pessoa parada na rua, olhando para o céu, logo pára outra do lado e fica olhando também. E depois outra, e outra…?. O lado ruim dessa popularidade, entretanto, é o assédio sofrido pelos apresentadores. A mais recente baixa no canal foi Marcos Mion, que saiu para comandar um programa na Bandeirantes. ?A gente não queria perdê-lo?, afirma Mantovani. Paralelamente à saída de Mion, o VJ Cazé retorna após uma experiência malsucedida na Globo. ?Foi uma volta por interesse mútuo. Ele também era alguém que a gente não queria ter perdido, mas sua saída foi tranquila.? Cazé irá comandar dois programas: um ?game show? e o ?Tome Conta do Brasil?, atração dedicada a debater questões ligadas à realidade política, social e econômica brasileira. Aliás, com a proximidade das eleições, Mantovani afirma que o principal foco da programação da MTV deste ano será a política. Mas o público da emissora se interessa por esse tipo de tema? ?Temos uma percepção interna de que o jovem não tem mais saída. Gostando ou não, vai ter de se informar sobre certas coisas?, responde o diretor.

Menos música?

Mantovani considera uma ?bobagem? a afirmação de que a MTV tem deixado a música de lado para investir em ?variedades?. ?Se fosse assim, a gente tiraria o ?M? do nome e iria fazer outra coisa.?

Com a programação do final do ano passado em mãos, ele mostra que, das 24 horas de transmissão diária, de segunda a sexta, 19 foram dedicadas a videoclipes e cinco a outros tipos de atração. Esse dado representa a divisão habitual, alterada com a programação especial de verão do canal, com mais ?variedades?.

O diretor admite que a faixa nobre da programação, quando há um maior número de TVs ligadas, realmente está ocupada por programas sem videoclipes, como ?Meninas Veneno? e ?Fica Comigo?, e que, se comparada à programação da estréia do canal, em 1990, a atual tem um número menor de clipes.

?O pessoal vê isso e diz que acabou a música na MTV. As pessoas precisam entender que aquele formato do início do canal, com o VJ fazendo uma cabeça [abertura de um bloco] e videoclipes, é limitador. Mudar era uma condição para continuar crescendo?, afirma.
Quanto à possibilidades de criar, como nos EUA e na Europa, canais ligados à MTV que só exibam videoclipes, Mantovani confirma as conversas sobre o tema entre os diretores do canal, mas diz que não há nada programado para breve.

Nova dupla já está entrosada

Luiz Alves Pereira Neto, 35, o Ferrugem, vestido como o Chucky de ?Brinquedo Assassino?, e João Gordo, 37, aparecem na tela com sacos de supermercado enfiados na cabeça. Bradam: ?MTV, poupe-me?.

A dupla assumiu quinta passada o ?Piores Clipes?, antes apresentado por Marcos Mion. E a função deles na primeira estréia da programação de 2002 da emissora é essa: além de desancar videoclipes, criticar o próprio canal.

Ferrugem e Gordo conversaram com o TV Folha sobre a parceria e comentaram a responsabilidade de substituir uma das figuras mais carismáticas da emissora no programa de maior audiência do canal (média de dois pontos em 2001, segundo o Ibope). (RD)

Vocês se encontraram no ?Gordo a Go-Go?, certo?

João Gordo: A gente já tinha se trombado na balada antes disso.

Ferrugem: Sempre tive simpatia pelo Gordo, gosto de música. Depois do programa, foi um espanto o número de pessoas que me pararam na rua. Aí pintou a oportunidade. A gente combina.

João Gordo: A gente tá virando amigo.

Uma eventual comparação com Mion preocupa vocês?

João Gordo: No começo eu fiquei meio assim. Não queria ser estepe de ?playba?, pegar sopinha do Marcos ?Miau?. O cara é gente boa, mas ele é um ?boyzinho?, atorzinho; eu sou um maloqueiro, vocalista de uma banda de rock.

Ferrugem: E ainda tem a audiência, que assistia ao programa por causa dele.

Mas também tem o público que vai ver por causa do João…

João Gordo:Que, se bobear, é maior do que o do Mion. Já falo logo: ?Não gostou? Muda para a Band?. (risos)

Além do visual, que é o mais óbvio, vocês tem carreiras opostas. O João sempre foi vocalista de uma banda underground e começou a ganhar destaque na TV…

João Gordo: Mas nunca quis estar onde eu estou. Tipo, não reclamo, mas não foi algo planejado. E, se bobear, sou o maior da MTV, comando os dois programas mais vistos da emissora.

Já o Ferrugem se tornou celebridade nacional muito cedo e depois sumiu.

Ferrugem: Eu comecei com sete anos e explodi cedo mesmo. Devo ter sido a primeira celebridade instantânea da TV brasileira. Trabalhei com os melhores.

João Gordo: É, a gente tem histórias completamente opostas, mesmo.

Ferrugem, por que você deixou a TV?

Ferrugem: Durante um período de férias dos Trapalhões, fui fazer um tratamento nos EUA [Ferrugem sofreu uma lesão ao nascer que impediu seu crescimento; aos 21 anos, tinha 1,30 m de altura?. Vivi lá por oito anos e consegui crescer 30 cm, o que é difícil para a idade que eu tinha. Mas nunca me esqueceram. Ainda hoje me param na rua e dizem: ?Você foi um ícone da minha infância?.

João Gordo: (rindo) Pô, ícone da minha infância? Isso deve ter uns 50 anos.

Ferrugem: Pô, Gordo, eu tenho 35.

João Gordo: Com essa cara? Esse moleque é um tiozinho. E o pior é que eu só consigo chamá-lo de moleque. (risos)

Como vai ser criticar a programação?

João Gordo: Realmente odeio tudo e todos. Toda a música que veio depois da era do videoclipe eu nem escuto. MPB, rock nacional, essas coisas.

Ferrugem: Eu também só ouço coisas dos anos 70…

João Gordo: Não falei? A TV do cara ainda deve ser com válvula. (cantando) ?Ortopé, Ortopé, tão bonitinho?. (risos)"

"Gordo com Ferrugem", copyright Jornal do Brasil, 13/1/02

"A tarefa da MTV não era fácil: substituir o nome que mais se destacou em sua programação nos últimos tempos. Sabendo que não bastaria trocar Marcos Mion por outro engraçadinho qualquer no comando do Piores clipes do mundo, o canal tomou uma sábia decisão: mudou tudo. A nova versão do programa, que estreou, ao vivo, na noite de quinta, é totalmente diferente do formato que consagrou Mion. Aliás, uma das maiores preocupações demonstrada durante o programa foi deixar claro que a Era Mion tinha chegado ao fim, com certo ressentimento até. E não havia ningu&eacueacute;m na casa melhor que João Gordo para a missão de atacar o novo desafeto.

Para enterrar o exagerado Mion, a produção ressuscitou Fudêncio, boneco criado pelo próprio João Gordo para acompanhá-lo no extinto Garganta e torcicolo, da MTV. O personagem foi mostrado caçando e matando o elefante de pelúcia que Mion usava para apresentar o programa. Outra providência foi queimar uma fita que, supostamente, tinha o clipe de Green hair, de Supla. Segundo João Gordo, Supla não seria mais mostrado no Piores clipes, por ser ?cria do Mion?.

Chuck – Como parceiro, Gordo contou com Ferrugem, ícone televisivo da década de 80, que aparecia ainda garoto nos humorísticos da Globo. Ferrugem surgiu vestido de Chuck, personagem do filme Brinquedo assassino. Boa piada, mas Ferrugem não foi bem aproveitado.

João Gordo ficou à vontade. É o nome certo para uma produção que não prima pelo capricho. Se muitas coisas derem errado, como aconteceu e deve acontecer com freqüência, estão perdoadas. É melhor para o clima Perdidos na noite, programa que era apresentado por Faustão na Band, ou pelo ?falecido Fausto Silva?, como bem disse Gordo.

A produção falhou em alguns momentos, como quando tentou em vão falar com Supla por telefone. E a coisa ficou bem confusa na hora de comentar, ao lado de Gabriel, o Pensador, alguns momentos embaraçosos do cantor. João Gordo e equipe não souberam parar a fita nos pontos certos. A idéia de falar mal dos próprios programas da MTV e colocar na linha os telespectadores para criticar os clipes junto com Gordo funcionou, ainda que ele não tenha a mesma desenvoltura que Mion para dissecar detalhes ridículos. O programa não deve ter a mesma repercussão de antes, mas não deixa de ser uma boa atração para o público da MTV."