Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Informação compartilhada

MÍDIA & GOVERNO

Quando o repórter Allan Cullison teve seu laptop seriamente danificado num acidente de caminhão no Afeganistão, a caminho de Cabul, o melhor que podia esperar era encontrar peças na capital afegã para consertá-lo. Ao negociar com comerciantes locais, Cullison foi surpreendido com a oferta de um computador encontrado na casa abandonada de alguém da al-Qaeda. Assim, por US$ 1.100, o jornalista do Wall Street Journal comprou um disco rígido e outro laptop, objetos que depois comprovou terem imenso valor jornalístico e legal, contendo no mínimo 1.750 arquivos de áudio, vídeo e texto detalhando operações da organização terrorista. Desde então, à medida que consegue traduzir e decodificar os arquivos, o jornal publica matérias dividindo as descobertas não só com os leitores, mas também com o Departamento de Defesa americano.

Antes dos atentados de 11 de setembro, tal cooperação seria no mínimo problemática, observa Felicity Barringer [The New York Times, 21/1/02]. Jornalistas costumam preservar ciumentamente suas fontes e métodos. Mas, neste novo contexto, revelar o produto da sorte e do trabalho árduo ao governo foi uma decisão relativamente fácil, disse Paul Steiger, editor administrativo do Journal. "Decidimos que era a coisa certa a fazer", contou. "Em termos morais, ficaríamos arrasados se tivéssemos retido informação que poderia salvar vidas. Em termos jornalísticos, queríamos verificar o que tínhamos."

Curiosamente, um dos arquivos encontrados detalha a missão de um agente da al-Qaeda cujos movimentos lembram os de Richard Reid, detido num avião da American Airlines, em dezembro, com explosivos no sapato. No dia 18, Reid declarou-se inocente da acusação.

Questionados sobre a decisão de dividir o achado com militares, tanto Bill Kovach, presidente do Committee of Concerned Journalists, quanto Jane Kirtley, professora de Legislação e Ética de Imprensa da Universidade de Minnesota, apoiaram o jornal. Para Kovach, há ocasiões em que o dever cívico está acima da obrigação profissional. Na opinião de Jane Kirtley, não se trata do "dilema jornalístico clássico de ter informação obtida de fonte sigilosa". "Foi uma descoberta de sorte. Para mim, isso não levanta a mesma preocupação ética." Segundo John Bussey, editor de Internacional do Journal, o caso foi discutido entre os jornalistas envolvidos. "Nenhum repórter queria estar na posição de entregar espontaneamente coisas ao governo. Mas era uma questão de segurança nacional."

 

REVISTAS AMERICANAS

A U.S. News & World Report anunciou sua nova estratégia para driblar a crise: encolher. Em vez dos tradicionais 51 exemplares ao ano, a revista planeja lançar 47, publicando edições duplas em fevereiro, julho, agosto e dezembro. A primeira edição dupla sairá nesta semana, e terá na capa a data de 28 de janeiro a 4 de fevereiro.

Para Keith J. Kelly [New York Post, 25/1/02], a decisão pode economizar custos de impressão e de envio ? uma maneira de enfrentar a recessão do mercado publicitário ?, mas ajuda pouco a U.S. News na briga por anunciantes com as líderes Time e Newsweek, que continuarão a publicar 51 edições. A New Yorker já edita 46 exemplares anuais desde a época de Tina Brown, mesma meta adotada pela New York neste ano; como em 2001, a US Weekly continua a publicar 43 edições.

Menos lançamentos

Um sinal de que o ano passado foi brutal para o setor são as estatísticas de Samir Husni, professor de Jornalismo da Universidade do Mississipi. O autodeclarado Mr. Magazine mapeia os lançamentos de revistas e as comenta, elegendo as melhores a cada ano. Os números compilados pelo professor indicam que em 2001 os lançamentos caíram 25% em relação ao ano anterior: de 874 para 702 publicações. Algumas das citadas entre as 30 mais notáveis de 2000 já deixaram de existir. The Week, revista de leitura rápida que resume as notícias da semana, publicada pela britânica Dennis Publishing, foi eleita o lançamento do ano.

Judy Hevrdejs [Chicago Tribune, 22/1/02] informa que dados da Publishers Information Bureau mostram que em 2001 as páginas de anúncio caíram 12% em relação ao ano anterior. "O declínio dos anúncios em revistas pode ser atribuído ao fato de que as edições de dezembro foram fechadas no meio de setembro", diz Ellen Oppenheim, da Magazine Publishers of America. "Os trágicos eventos dificultaram que anunciantes fechassem compromisso com a mídia."

Outra maneira encontrada pelas revistas para reduzir custos foi demitir ou aposentar pessoal. A Newsweek está oferecendo pacotes de aposentadoria a 12% de sua equipe: 85 funcionários com mais de 55 anos e no mínimo 10 de casa. Donald Graham, executivo-chefe da Washington Post Co. ? dona da revista ?, disse no mês passado que os semanários continuam "vivos e importantes para nossos leitores", apesar da "terrível" situação do mercado publicitário. Segundo a Associated Press (21/1/02), a última vez que a Newsweek ofereceu tais planos foi no meio da década de 80.