ELEIÇÕES 2002
"Ex-marqueteiro do PT põe o marketing no banco dos réus", copyright Folha de S. Paulo, 3/03/02
"O sociólogo e jornalista Chico Malfitani, 51, paulistano, foi um dos criadores, nos anos 80, da concepção moderna do que se chama hoje marketing político no Brasil. Ao comentar um dos primeiros programas feitos por ele, em 1984, o então crítico de TV Décio Pignatari chegou a dizer que o formato representava para o gênero a revolução que foi ?Beto Rockfeler? na telenovela do país.
Agora, Malfitani inicia campanha, que tem sido divulgada em palestras, contra os próprios marqueteiros, faz um ?mea culpa? e diz que os profissionais da área devem ser cobrados duramente e não virar celebridades de coluna social ou castelo de ?Caras?.
?O poder dos marqueteiros hoje é o poder de Goebbels [homem de propaganda do nazismo?. Mente-se como nunca. É tudo Big Mac?, disse. ?Falam em Duda Mendonça, Nizan Guanaes e Nelson Biondi como gênios, magos. É uma supervalorização?, afirma.
Sobra desilusão também com o PT, partido no qual iniciou a nova profissão como militante.
?Fui afastado das campanhas do PT acusado de ?despolitizante?, sem ideologia, agora o Duda Mendonça orienta o discurso do partido, escolhe o vice de Lula [sobre a polêmica acerca do senador José Alencar, do PL mineiro? e manda José Genoino [candidato do PT ao governo paulista] prometer a Rota nas ruas, para bater em pobre?, disse.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Folha – Por que resolveu, para usar uma expressão popular, ?cuspir no prato que comeu??
Chico Malfitani – A mentira chegou a um grau insuportável. A gente enganando o povo leva a uma profunda desilusão com a politica. Por isso que faço a reflexão agora. É um crime que põe em risco a própria democracia, ainda mais em um país com tradição de golpes como este. É um crime. Os marqueteiros estão ajudando a radicalizar a idéia de que todos os políticos são iguais. Porque as campanhas são as mesmas, tudo Big Mac, globalizaram tudo.
Folha – Mas teria outro jeito, já que se trata de publicidade. Não faz parte da natureza publicitária?
Malfitani – Tem como fazer um programa que não faça o povo de bobo, sem mentiras e que não seja chato. A publicidade de produtos também vende mentira, mas tem uma diferença: se eu não gostar da cerveja, eu troco por outra. Se eu não gostar das Havaianas, eu troco pela Raider. O político, não. Você vai ter de ficar os quatro anos com ele. Não tem devolução. Daí o tamanho da responsabilidade da gente. Não pode ser Pôncio Pilatos, lavar as mãos e dizer que é um trabalho como outro qualquer. Não é. É muito diferente.
Folha – Acha que seria o caso de criar um Conar (o conselho que regulamenta a publicidade de produtos) para a propaganda política?
Malfitani – Do jeito que anda a coisa, deveriam criar um organismo de controle, sim. Rigoroso. Nesse sentido é que resolvi fazer essa alerta. Outro dia, numa palestra na PUC (Pontifícia Universidade Católica), ouvia uma publicitária, que trabalha com o Nizan [Guanaes? dizer como se fazia uma campanha política.
Primeiro faz uma pesquisa, vê o que o povo quer ouvir, aí manda o candidato dizer isso e aquilo. Aí eu gritei: pára, pára, pára. Esse esquema virou uma coisa normal, ninguém mais estranha.
Folha – Em que momento você se sentiu enganando o povo?
Malfitani – Eu quando enganei -ou hipocritamente ou inocentemente-, na campanha que fiz para o Rossi [Francisco Rossi, candidato do PDT ao governo de São Paulo em 98?, eu tentei, do jeito mais mambembe que podia ser, pedir perdão pelo erro.
Tentei fazer alguma coisa. Eu fiz uma campanha dura, antimalufista para valer, com o lema ?chega de rouba mas faz? espalhado em outdoors por São Paulo, aí o candidato vai e se alia a Maluf no segundo turno. Eu fui crucificado com o Rossi no momento dessa adesão. E tinha que ser mesmo.
Folha – Qual foi a sua reação?
Malfitani – No dia em que aconteceu, tentei pelo menos atrapalhar o casamento, como quem grita do fundo da igreja, na hora em que o padre pergunta se alguém tem algo contra os noivos. Disse que estava arrependido, me manifestei publicamente.
Folha – Vai fazer alguma campanha este ano? Já tem acerto com algum candidato?
Malfitani – Não faço para qualquer um, como é praxe no mercado. Faria para o PT, mas o partido já fez a sua opção por Duda Mendonça. Faria para o Itamar Franco, que sempre teve posições de ataque coerente ao governo. Em São Paulo, faria uma campanha antimalufista para o Alckmin, pois sou, antes de tudo, contra o que representa Paulo Maluf.
Folha – Não acha que a sua crítica aos marqueteiros pode ser vista como esperneio de quem está fora das grandes campanhas?
Malfitani – Eu sei que todo mundo vai dizer que falo isso porque sou um frustrado, não estou fazendo a campanha do PT. Falar que não sou mocinho, que já trabalhei para o Rossi, que me sujei também. Não sou santo não, longe disso, mas chegou a hora de discutir essa coisa. É sério demais. Não pode deixar correr frouxo. Chegou no limite. É mentira demais. E tudo aceito na boa.
Ora, dizer que o povo do Maranhão vive bem, com 64% das famílias abaixo da linha da pobreza? Aí me vem o marqueteiro com uma paródia de comercial de cerveja, a número 1, para comparar à governadora. É uma gracinha.
Folha – Você sempre foi atacado pelos petistas por ter feito campanhas consideradas muito ?lights? e despolitizadas. Em 92, chegou a ser afastado, de forma não muito educada, pelo grupo de Lula da campanha de Suplicy [candidato à prefeitura paulistana?. O que acha da contratação de Duda Mendonça para a eleição deste ano?
Malfitani – Você despolitiza, faz campanha muito ?ligth?. Era o que eu ouvia. Nunca me deram uma oportunidade no PT para um campanha presidencial porque diziam que os meus programas eram ?despolitizantes? e não-ideológicos. Botar a Rota na rua é que é ?politizante?? O Duda Mendonça é que é ?politizante??
Eu falava há 15 anos atrás que forma é diferente de conteúdo e era atacado no PT. Agora o Duda Mendonça, que ajudou a aumentar os preconceitos contra o partido em São Paulo, fala e eles acham genial. Estou vendo hoje o PT babar pelo que Duda faz.
E o Lula é que é o grande homem de marketing do Duda. O que o Duda ganhou de importante recentemente? Ele fala sempre das vitórias, mas perde muito. Faz várias campanhas ao mesmo tempo em vários Estados, empregando as mesmas peças, só muda o nome do candidato.
Folha – Acha que a campanha do PT à Presidência vai ser mentirosa?
Malfitani – Se o Lula se eleger vendendo as ilusões do Duda Mendonça e não cumprir as promessas nos primeiros meses, vai fornecer à elite um combustível enorme para a sua derrubada do poder. É a dialética de uma derrota [referência ao livro homônimo do chileno Carlos Altamirano, sobre as falhas de comunicação do governo Allende].
Folha – Mas marqueteiro não é novidade no PT…
Malfitani – A Marta [Suplicy, prefeita de São Paulo? fez uma campanha ao governo do Estado, em 98, sem mentir. Em 2000 houve um certo exagero. Teve o Começar de Novo, que pregou a ilusão de que todo mundo vai ter uma chance de emprego depois dos 40 anos. Se quer lançar essas embalagens, que estipule uma meta. Diga que o Começar de Novo vai atender um certo número de pessoas. Mesmo caso foi o programa Primeiro Emprego. Vendeu a ilusão de que todo jovem vai ser empregado. Aí o cara vai lá na prefeitura, passa seis meses, não tem emprego. Vai sair dizendo que a administração é péssima."
"Pesquisa-alavanca põe institutos na berlinda", copyright Folha de S. Paulo, 3/03/02
"A sete meses das eleições, o questionamento aos institutos de pesquisa ameaça tomar a forma de nova CPI e avança do exame dos números para um debate sobre a natureza e o objetivo dos levantamentos de intenção de voto.
Desde sempre comparadas a um retrato, as pesquisas, na atual campanha, têm funcionado também como alavanca, parte de uma engrenagem que prevê exposição maciça do candidato na TV, coleta de dados subsequente para potencializar o resultado e alarde do desempenho positivo na aparição televisiva seguinte.
?Mantendo a analogia do retrato, é como fotografar várias modelos privilegiando o melhor ângulo de uma delas?, diz Mauro Francisco Paulino, 41, diretor-geral do Datafolha. Para o sociólogo, o que alguns institutos fizeram depois de programas dos pré-candidatos Roseana Sarney (PFL) e Anthony Garotinho (PSB) ?é uma deturpação do instrumento representado pelas pesquisas?.
Embora frise que os levantamentos do Ibope, encomendados pela Confederação Nacional da Indústria, foram agendados há mais de ano e portanto não obedecem a conveniências partidárias, o presidente-executivo do grupo discorda de Paulino.
?Se formos pensar assim, estariam impedidas as pesquisas da semana passada, porque pegaram toda a mídia do lançamento de José Serra?, afirma Carlos Augusto Montenegro, 48. ?O pré-candidato do PSDB terá um programa na quarta-feira. Tenho certeza absoluta de que sua campanha providenciará pesquisa em seguida.?
No centro da discussão sobre calendário está o Sensus, um dos primeiros institutos a detectar o crescimento de Roseana. ?Não acredito muito nessa versão estritamente marqueteira da pesquisa?, diz Ricardo Guedes, 52, diretor da empresa de Belo Horizonte. ?Desta vez, entramos em campo logo depois de o Serra lançar sua candidatura. Teve uma exposição de mídia enorme e subiu apenas dois pontos percentuais.?
Guedes considera ?absurdo? atribuir a proximidade de datas entre programas da governadora do Maranhão e pesquisas do Sensus ao fato de que a contratante do levantamento é a Confederação Nacional dos Transportes, cujo presidente, Clesio Andrade, dirige também o PFL de Minas.
Lembra que há mais semelhanças do que diferenças entre os números dos institutos. ?O Datafolha confirmou nosso resultado.?
?Num mundo ideal, a pesquisa teria de neutralizar efeitos conjunturais para ser o mais equilibrada possível?, opina o sociólogo Marcos Coimbra, 51, diretor do Vox Populi, outro instituto de Belo Horizonte.
?Agora, esse mundo ideal não existe no caso de empresas que atuam comercialmente. Se você for contratado para ir a campo no dia seguinte ao programa do Serra, você vai, a menos que seja um instituto que em eleições só trabalhe para a imprensa, como é o caso do Datafolha.?
Corrida de cavalos
A situação descrita por Coimbra é outro item da lista de explicações cobradas dos institutos. No entender de Paulino, há conflito de interesses em prestar serviços simultaneamente para políticos e veículos de comunicação. ?Quando você atende um cliente, torna-se parceiro. Imagino que os funcionários de instituto que trabalhe para uma campanha de alguma forma se envolvam com ela.?
Outro problema, segundo o diretor-geral do Datafolha, são as datas dos campos, especialmente quando a campanha se aproxima do final. ?Como fica o instituto que faz pesquisa para consumo interno de um candidato e no mesmo dia tem de fazer outra para ser divulgada??, pergunta. ?Usa a mesma? Faz duas no mesmo dia? E se o resultado não for exatamente igual, o que é o mais provável devido à margem de erro??
Coimbra pensa de outra forma. ?Quase sempre, pesquisas para candidato e para veículo são diferentes?, explica. ?Hoje, a aferição de intenção de voto está disponível para todo mundo. O que as campanhas querem são levantamentos, qualitativos ou mesmo quantitativos, com um outro tipo de questionário, que tem muito mais relação com possibilidades, alternativas, percepções do eleitorado. Não é a corrida de cavalos.?
O diretor do Vox Populi acredita, no entanto, que a tendência no médio prazo é a especialização. O trabalho para candidatos passaria a ser feito por empresas menores, que usam facilidades operacionais terceirizadas.
?Assim como é tendência que cada empresa venha a trabalhar com um só partido, como ocorre em outros países?, acrescenta.
Seleção natural
O público desconfia das pesquisas, diz pesquisa. Segundo divulgou o Datafolha no final do ano passado, 39% dos eleitores acham que elas não são confiáveis -em 1994, 23% pensavam assim. Cresceu também o percentual dos que culpam os institutos pelo que consideram manipulação dos dados. Eram 16% antes. Hoje, com 30% das menções, as empresas aparecem no topo das queixas, à frente dos políticos.
?Em parte?, avalia Paulino, ?o questionamento é resultado da importância que a pesquisa adquiriu no processo eleitoral.? Mas ele vê outros dois motivos para o ceticismo. ?O primeiro é que ainda falta transparência em mostrar os limites do instrumento?, diz. ?O segundo é a atitude de alguns institutos. Na medida em que seus dirigentes dão declarações emocionais, apostando neste ou naquele candidato, prejudicam a imagem de todos.?
Para Guedes, a questão da credibilidade se resolve numa espécie de seleção natural: ?Os institutos são julgados a cada eleição. Quem acerta, fica; quem erra, sai?.
Coimbra acha que o problema não é específico dos institutos -?faz parte da desconfiança genérica e difusa da população em relação a tudo o que diz respeito ao sistema político?- nem do Brasil -?existe um questionamento internacional, paralelo ao aumento da utilização de pesquisas como insumo do jornalismo?.
Ele cita estudo segundo o qual 70% da cobertura da eleição presidencial de 2000 nos EUA foi movida a pesquisas. Aqui, imagina, mapeamento desse gênero chegaria a conclusão semelhante.
?O Ibope tem um índice de acerto de 96%?, reage Montenegro diante de perguntas sobre este ou aquele resultado polêmico. ?Talvez já tenhamos feito umas 10 mil pesquisas, com 70 mil ou 80 mil prognósticos, um para cada candidato. Não é só saber quanto teve o vencedor ou quem foi para o segundo turno. Mas o eleitor e grande parte da imprensa não estão interessados em todos esses números.?
As declarações de Coimbra e Montenegro mostram que os institutos não estão dispostos a carregar o ônus sem dividi-lo com a responsável pela reverberação das pesquisas. ?A maioria da imprensa se acomodou em esperar por elas e perguntar aos políticos o que acham dos resultados?, afirma o dirigente do Ibope.
?São excessivos o destaque e a centimetragem dados a isso?, opina o diretor do Vox. Nas contas de Coimbra, a primeira rodada de pesquisas desta sucessão presidencial foi feita em março de 1999, dois meses depois da posse de FHC para o segundo mandato. ?Nós todos estamos pesquisando esta eleição há mais de três anos.?
Paulino vê com preocupação ?a necessidade da mídia de encontrar notícia a cada pesquisa?.
Curvas parecidas
À desconfiança do público se junta a tentativa de ressuscitar no Senado a CPI das pesquisas -a anterior, mista, surgiu na esteira da eleição de 1998 e não prosperou. O novo pedido, do senador Sebastião Rocha (PDT-AP), baseia-se em ?indícios de manipulação? nos levantamentos feitos em seis municípios no pleito de 2000.
Rocha considera que seria oportuno investigar o trabalho dos institutos ?antes de uma eleição e não depois?.
Os institutos olham de lado. ?A tentativa anterior teve caráter mais vindicativo do que investigativo?, diz Coimbra. Para Guedes, ?nada havia de concreto?.
Paulino acha que a CPI poderia representar boa oportunidade para esclarecer uma série de dúvidas que a sociedade tem em relação às pesquisas, desde não fosse usada ?como instrumento político para criar constrangimentos à divulgação de resultados?.
Para Marcus Fiegueiredo, pesquisador do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), há mais ?ciumeira? do que substância nas queixas dos políticos. ?As curvas das pesquisas têm sido parecidas. Não tem aparecido tanta discrepância.?
Colaboraram VINICIUS PRECIOSO, da Redação, e a Sucursal de Brasília
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"?Ainda falta transparência?", copyright Folha de S. Paulo, 3/03/02
"Folha – É possível atender simultaneamente veículos e políticos?
Mauro Paulino – Possível é, muita gente faz. Mas, na minha experiência, não vejo como fazer. Quando você atende um cliente, torna-se parceiro.
Pesquisa feita para candidato visa identificar problemas e o que fazer para conquistar o eleitor. Pesquisa jornalística tem o intuito de informar o público. Os funcionários do Datafolha são treinados para ter espírito jornalístico. Imagino que os de um instituto que trabalhe para uma campanha de alguma forma se envolvam com ela.
Folha – Quando feita em data escolhida a dedo para potencializar resultados, a pesquisa não deixa de ser retrato para se tornar alavanca de candidatos?
Paulino – É uma deturpação do instrumento. Pesquisa é um meio de coleta de informação. Se passarmos a fazê-la pensando no momento ideal para que o resultado tenha a maior repercussão possível, estaremos deturpando o objetivo.
Folha – Pesquisa Datafolha diz que o eleitor não confia em pesquisa. Por quê?
Paulino – Em parte, o questionamento é resultado da importância que a pesquisa adquiriu no processo eleitoral. Mas a desconfiança tem fundamento, por dois motivos. O primeiro é que ainda falta, à maioria dos institutos, transparência em mostrar os limites do instrumento, que não permite a precisão cobrada pelo público e pela imprensa. O segundo é a atitude de alguns institutos. À medida que seus dirigentes dão declarações emocionais, apostando neste ou naquele candidato, prejudicam a imagem de todos."
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"?Mesmo na TV, Enéas daria 2%?", copyright Folha de S. Paulo, 3/03/02
"Folha – Se a pesquisa é um retrato, coletar dados após expor o candidato na TV não equivale a escolher seu melhor ângulo em prejuízo dos concorrentes?
Carlos Augusto Montenegro – Essa é uma discussão. Agora, se formos pensar assim, estariam impedidas as pesquisas da semana passada, porque pegaram toda a mídia do lançamento de José Serra. Ele terá um programa na quarta. Tenho certeza de que sua campanha fará pesquisa em seguida.
A televisão, sozinha, não explica o crescimento da candidata do PFL. As pessoas têm respostas muito simplistas. ?Roseana? Mulher. Garotinho? Evangélico.? Experimente pôr o Enéas uma hora na TV com Nizan Guanaes. Vai dar 2%.
Folha – Por que a desconfiança em relação às pesquisas?
Montenegro – O Ibope tem um índice de acerto de 96%. Talvez já tenhamos feito umas 10 mil pesquisas, com 70 mil ou 80 mil prognósticos, um para cada candidato. Não é só saber quanto teve o vencedor ou quem foi para o segundo turno. Mas o eleitor e grande parte da imprensa não estão interessados em todos esses números.
Folha – Então a culpa é dos jornalistas?
Montenegro – A maioria da imprensa se acomodou em esperar as pesquisas e perguntar aos políticos o que acham dos resultados.
Muito se fala a respeito da influência das pesquisas. Sobre o eleitor, a meu ver, ela é mínima. Serve como uma informação, e olhe lá. Mas a influência é brutal sobre empresários, coligações, cabos eleitorais e a mídia, que se pauta pelos números para definir o espaço de cada candidato na cobertura."
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"?Somos julgados por resultados?", copyright Folha de S. Paulo, 3/03/02
"Folha – A pesquisa Sensus, uma das primeiras a detectar a subida de Roseana Sarney, é paga pela Confederação Nacional dos Transportes, cujo presidente dirige o PFL de Minas.
Ricardo Guedes – Classifico como absurda a suspeita de manipulação do levantamento por ser o Clesio Andrade do partido da governadora. Veja por exemplo a pesquisa mais recente. Os números são os mesmos do Datafolha. A cada eleição, os institutos são julgados por seus resultados. Quem acerta fica; quem erra sai.
Folha – Em mais de uma ocasião, o campo da pesquisa Sensus foi feito logo depois dos programas de TV de Roseana. Tal prática não interfere nos resultados?
Guedes – Não acredito muito nessa visão estritamente marqueteira da pesquisa. O candidato, para subir, precisa ter algum tipo de substância. Vale lembrar que, desta vez, entramos em campo logo depois de José Serra lançar sua candidatura e obter enorme exposição na mídia. Ocorre que ele subiu apenas dois pontos percentuais.
Folha – Em 2001, o Sensus recebeu críticas por um questionário em que o entrevistado, além de declarar intenção de voto, opinava sobre temas como o escândalo do jogo do bicho no Rio Grande do Sul e o racionamento. O sr. concorda com a avaliação de que tais perguntas, incômodas respectivamente para o PT e para o governo federal, induziriam à preferência por Roseana?
Guedes – No referido questionário, as questões conjunturais vêm depois das eleitorais. E, assim como aconteceu agora, o Datafolha confirmou os nossos resultados."
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"?Imprensa se faz de ingênua?", copyright Folha de S. Paulo, 3/03/02
"Folha – Há pesquisa em excesso na cobertura jornalística das eleições?
Marcos Coimbra – Quando não há pesquisa, a imprensa não sabe o que fazer, que é o caso, por exemplo, das eleições para o Congresso. É óbvio que ela merece muito mais atenção do que recebe dos jornais. Minha avaliação independe dos interesses comerciais do setor, até porque a divulgação de resultados tem pouco efeito sobre a receita dos institutos. A maior parte das pesquisas é feita para consumo interno dos clientes.
Folha – É correto fazer pesquisa em condições destinadas a potencializar o desempenho de um candidato?
Coimbra – Em um mundo ideal, é claro que não. A pesquisa teria de neutralizar efeitos conjunturais para ser o mais equilibrada possível. Mas esse mundo não existe no caso de empresas que atuam comercialmente. Se você for contratado para ir a campo um dia depois do programa do Serra, você vai. O que tem de ficar claro, e aí entra muito o papel da imprensa, é a particularidade do momento. E o impacto dessas espertezas evapora quando a campanha se aproxima do final. Não se ganha nem se perde eleição por causa disso.
Folha – A pesquisa é mais que instrumento de informação?
Coimbra – É instrumento de informação e de marketing. O candidato não contrata pesquisa só para saber como está, mas para agir politicamente, arregimentar apoios, tirar de adversários. Não se pode ser ingênuo para o uso mercadológico da informação. Às vezes a imprensa se faz de ingênua. Trata como grande notícia o que foi feito para dar aquele resultado."
"Maia acusa governo, Serra e revista ?Época?", copyright Folha de S. Paulo, 4/03/02
"O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), acha que a ação da PF teve o dedo de José Serra, do Planalto e da revista ?Época?: ?Todos nós achamos que se trata da KGBnização da política no Brasil?, disse Maia, citando a polícia política da ex-URSS.
Para ele, o episódio prejudica o PSDB: ?Vai fortalecer a Roseana e acelerar a desintegração do Serra?. Ele acha que PSDB e PFL ainda podem se unir, desde que Serra desista de disputar: ?Mais do que nunca a candidatura do Serra soçobrou, agora desmoralizada pela manipulação PF-PSDB-?Época?, e em maio vai ter que se retirar?.
Para o prefeito, a revista foi informada da ação por membros de governo, pois divulgou antes do final da operação. ?O que há de estranho é no sábado a ?Época? já ter outdoors em São Paulo e na noite de sexta seu site já ter a matéria, antes de a polícia sair do escritório da empresa. Uma revista nacional não faria isso sem o respaldo de uma autoridade política.?
A direção da ?Época? informou que ficou sabendo da operação na empresa Lunus pouco antes das 20h da última sexta-feira. A partir das informações obtidas pela sucursal de Brasília e pela redação da revista em São Paulo, o assunto virou capa por volta das 22h. Até aquele momento, a capa seria uma matéria que traria Roseana Sarney e Leila Diniz."
"Diretor da revista ?Época? rebate prefeito", copyright Folha de S. Paulo, 5/03/02
"O diretor de redação da revista ?Época?, Paulo Moreira Leite, rebateu a acusação do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (PFL), divulgada ontem pela Folha, de que a publicação teria recebido de integrantes do governo informações sobre a ação da Polícia Federal.
Maia havia dito que a revista, que pertence às Organizações Globo, divulgara a ação da PF em seu site antes de a operação acabar, na sexta-feira, além de ter espalhado por São Paulo outdoors no sábado. Segundo Moreira Leite, a revista soube da presença da PF no escritório da Lunus na noite de sexta.
?A revista já estava praticamente fechada, a capa já fora definida -o assunto era feminismo- e rodava na gráfica?, afirmou, em nota enviada à Folha.
De acordo com Moreira Leite, a decisão de mudar a capa foi tomada em questão de minutos. O texto da reportagem teria ficado pronto às 3h de sábado e teria sido colocado no site apenas às 13h do mesmo dia.
Devido à mudança da capa, os outdoors teriam sido colados bem depois das 6h de sábado, hora em que normalmente, segundo Moreira Leite, a colagem se inicia."