Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Belisa Ribeiro

JB NA RIO BRANCO

"JB está de volta à sede eterna", copyright Jornal do Brasil, 4/02/02

"Esta é a primeira edição do Jornal do Brasil concebida no que é, simultaneamente, a nova sede e a velha casa. A volta ao n? 110 da Avenida Rio Branco – num prédio construído depois da demolição do que abrigou o diário entre 1910 e 1973 – marca a conclusão de um processo de reestruturação sem precedentes na mídia impressa brasileira.

A mudança vai muito além da transferência física para o Edifício Conde Pereira Carneiro, assim batizado em homenagem ao homem que consolidou e ampliou os horizontes do JB. Nesse processo modernizador, a empresa reciclou padrões de eficiência, modificou paradigmas e adaptou-se à era digital. Ganhou solidez para preservar a independência.

?Não se consegue ser independente sem sustentação econômica. Atingido este objetivo, temos outro, que é ajudar o país a ser uma nação melhor.? A lição da diretora do jornal norte-americano Washington Post, Katharine Graham, morta em julho do ano passado, é parafraseada por Nelson Tanure, diretor da Companhia Brasileira de Multimídia, empresa que comprou, por 60 anos, o título Jornal do Brasil e controla também o JB Online e a Agência JB.

?A verdadeira independência de um jornal é fruto da viabilidade econômica da empresa. O objetivo da companhia é o resultado financeiro positivo?, diz Tanure. Ele acrescenta que, como Graham, acredita que tal conquista torna possível a um veículo interferir positivamente nos rumos da vida nacional. ?O JB vai ajudar a modernização de um país que ainda tem hábitos e posturas de colônia?, vaticina.

A reestruturação da empresa foi feita em menos de um ano, graças ao plano de recuperação conduzido pelo consultor William Coura. O JB reduziu custos em 30% e obteve um ganho de 60% em eficiência. A redução de 40% no contingente adaptou a produção à realidade do mundo pós-internet. ?Quebramos o paradigma do sempre foi assim, do não se pode mexer?, diz Coura, profissional originário da área financeira, para explicar que os cortes atingiram o objetivo da troca de quantidade por qualidade. ?Na era do conteúdo disponível, o mérito de um veículo é focar na essência e oferecer diferencial.

Isto o JB já conseguiu. É um veículo enxuto, ágil, que responde ao que quer seu público, leitores de classe A e B, mais críticos, exigentes e sem tempo a perder?, conclui. Coura admite um desvio na condução da reforma do JB. ?Existem três regras para o condutor de um plano de reestruturação?, afirma. ?Não se apaixonar pelo projeto, para que o coração não interfira na racionalidade; não formar laços de amizade, para manter a isenção; e não demorar mais do que 1 ano, já que é um processo sempre doloroso. Só consegui cumprir a última. Fiz grandes amizades e me tornei um apaixonado pelo Jornal do Brasil.?

No caso de José Antônio do Nascimento Brito, presidente do Conselho Editorial do JB, essa paixão é congênita. Ele começou no jornal aos 14 anos, como estagiário da editoria de fotografia – castigo pelas notas insatisfatórias em matemática, imposto pelo pai, Manoel Francisco do Nascimento Brito, diretor do jornal por mais de 50 anos. ?As crises que enfrentamos refletiram a história do Brasil. Foram períodos em que os problemas financeiros se misturavam à vida política, como os de perseguição duríssima, durante os governos Médici, Geisel e o início da gestão Figueiredo. Saneada, a empresa agora está com a mira no futuro e, mais uma vez, a virada acompanha a do país. O ano é essencialmente político e o JB está preparado para ser, em 2002, como sempre foi, uma voz influente na vida pública brasileira?, afirma José Antônio, especialmente animado.

Em meio às caixas de mudança, durante o fim de semana, os profissionais da Redação esbanjavam confiança nessa volta para o futuro. Manoel Borges Neto, 68 anos, começou no antigo e atual endereço, e completa amanhã exatos 33 anos de dedicação ao jornal. Com a experiência que tem a idade de Cristo, o jornalista especializado em Religião define a mudança: ?Isto é profundamente bíblico. Nasci como profissional na Rio Branco, fui transplantado para a Avenida Brasil e volto às origens. Assim é com o jornal. Revertere ad locum tuum. Volta ao teu lugar.?

"O capítulo da Avenida Brasil", copyright Jornal do Brasil, 4/02/02

"A mudança da Avenida Rio Branco para a Avenida Brasil, 500, foi uma das causas da crise econômica que o JB começou a enfrentar nos anos 70. O prédio é um marco histórico da arquitetura moderna no país. Mas foi conceituado para um tipo de jornal baseado ainda na linotipia, que tinha seus dias contados. Além disso, a direção da empresa dava como certa a conquista de concessão para abrir uma emissora de TV. Como o JB foi preterido em favor de outros grupos, acabou abrindo espaços ociosos e transformando a nova sede num prédio superdimensionado.

A volta da Redação ao Centro da cidade reflete uma tendência mundial – a presença dos jornais em meio à pulsação dos conglomerados urbanos. As últimas unidades a deixar a Avenida Brasil serão as emissoras de rádio, que não poderão se juntar aos demais departamentos do JB no 110 da Rio Branco, porque o novo endereço não tem vista para o Sumaré. Mas também estarão localizadas no Centro da cidade.

O prédio da Avenida Brasil tem sido cogitado, por sua localização privilegiada – situa-se bem na entrada do Rio – como sede de shopping centers e mesmo de hospitais. Mas o inquilino mais provável, até agora, é o Detran. Paralelamente à mudança de casa, o Jornal do Brasil aposta em tecnologia. O novo sistema editorial, Good News, começou a ser instalado e estará funcionando integralmente até o fim de abril. O programa de gestão de circulação fica pronto até junho.

Outras novidades são a busca de maior integração das empresas do grupo, visando à consolidação do conceito multimídia e de parcerias. A Rádio JB FM já apresenta o programa ?Painel JB?, em dois horários, das 7h às 9h e das 17h às 19h, mixando música, notícias e a participação de jornalistas e colunistas do JB. O jornal prepara uma série de transformações que contribuirão para mantê-lo, como vem ocorrendo há tantas décadas, na vanguarda da imprensa brasileira."

 

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"Aos 110, no mesmo 110", copyright Jornal do Brasil, 4/02/02

"O Dr. Brito foi preso! A manchete explosiva não chegou a ser publicada. Mas em 1971, no regime do AI-5, Manoel Francisco do Nascimento Brito foi mesmo chamado à Polícia Federal para explicar por que o Jornal do Brasil publicara a lista de presos políticos que seriam trocados pelo embaixador da Alemanha, seqüestrado no Rio de Janeiro.

Ao responder que o acesso aos nomes era segredo profissional, ouviu do delegado que dormiria no xadrez. A ameaça não se consumou. Mas serviu para que o diretor do jornal sublinhasse, mais uma vez, o jeito JB de ser. ?Agora vou lhe contar quem deu a informação, só para mostrar como são as coisas?, disse Brito ao policial. E revelou a fonte: o ministro da Justiça. O Jornal do Brasil, que veio ao mundo em 1891 publicando um manifesto monarquista três anos depois da Proclamação da República, nunca teve medo de, decidido a ser isento e ousado, parecer ?do contra?. Por isso mesmo, conquistou o respeito dos leitores e a confiança das fontes.

O prédio para onde o jornal retornou foi um marco na história e na geografia da cidade. Ao ser inaugurado, era o maior da América do Sul e uma relíquia arquitetônica da Avenida Rio Branco – que, inaugurada em 1905 com o nome de Avenida Central, mudou hábitos e costumes. Roubou da Rua do Ouvidor e do Boulevard 28 de Setembro parte da alta burguesia e atraiu o comércio, além de vários outros jornais. Construída em bloco até o quinto andar, começava a se estreitar a partir do sexto, formando a base de uma torre. Havia um relógio e uma sirene que anunciava o lançamento de edições extras. Em seu lugar foi construído o Edifício Conde Pereira Carneiro, com 41 andares.

A redação do Jornal do Brasil ocupa agora o 12? e o 13? andares. O Departamento Comercial está no 29? e a área industrial, no 19?. As sirenes foram substituídas pelo toque no botão e o clique do mouse. A integração entre o jornal e os outros veículos de comunicação do grupo torna as notícias acessíveis, em tempo real, através do JB Online e, em boletins ao longo da programação diária, nas rádios Cidade e JB FM. A Agência JB foi a primeira no Brasil a introduzir conteúdo jornalístico na internet em tempo real."