Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

James Sherwood

NAOMI vs. MÍDIA

"Processo de Naomi Campbell expõe relação modelos-drogas", copyright Folha de S. Paulo / The Independent, 17/02/02

"A organização NA (Narcóticos Anônimos) ganhou uma nova garota-propaganda. A supermodelo Naomi Campbell está processando o tablóide britânico ?The Mirror?, que publicou em sua primeira página uma foto em que ela aparecia saindo de uma reunião da NA, sob a manchete ?Naomi: sou dependente de drogas?.

Ela está processando o jornal por quebra de confiança e invasão ilegítima de privacidade -não deixa de ser um argumento justo, quando se considera que a placa acima da porta dizia ?Narcóticos Anônimos?. Mas será que a revelação foi tão chocante assim?

O ?The Mirror? afirma que Naomi induziu o público ao erro quando disse ao ?Paris Match? ?nunca tomo estimulantes nem tranquilizantes?, e, depois, à apresentadora de TV americana Barbara Walters, que nunca ninguém lhe oferecera drogas. Francamente, qualquer pessoa ingênua a ponto de acreditar na possibilidade de ninguém nunca ter oferecido drogas a uma supermodelo merece continuar vivendo alegremente alheia à vida real.

As drogas e a moda são amigas de longa data. Em 1997, a morte do fotógrafo de moda Davide Sorrenti, por overdose de heroína, aos 20 anos de idade, levou a questão às manchetes dos jornais. Sua namorada, na época, era a modelo adolescente James King, e seu irmão, o modelo Mario, namorava a top model Kate Moss.

Hoje atriz, King tinha 14 anos quando primeiro lhe ofereceram heroína numa sessão de fotos de moda. ?Eu vivia cercada por drogas. Era algo que estava sempre presente. O editor, o fotógrafo, todo o mundo fumava ou injetava drogas, então era natural que eu fizesse o mesmo. Eu achava que era assim mesmo que as coisas funcionavam. Se eu injetava heroína? Não, eu cheirava.?

A heroína só teve seu momento fashion com a chegada da moda grunge, em 1993, quando Kate Moss, fotografada para a ?Vogue? britânica por Corinne Day, se tornou o rosto do ?heroin chic?.

?Eu era esquelética, com olheiras pretas debaixo dos olhos. Era assim que me queriam. Sinto náuseas quando me lembro?, diz King. ?O vício custava caro, mas eu tinha dinheiro. Quando se dá milhares de dólares a uma garota de 15 anos, ela vai comprar muitos sapatos, muitas roupas -muito de qualquer coisa que estiver curtindo no momento. As revistas escreviam barbaridades a nosso respeito, mas não paravam de nos dar trabalho?.

Entrevistada para um documentário da emissora Channel 4, em 1998, Kate Moss disse: ?Não uso mais drogas do que as outras pessoas. Não as pesadas -especialmente a heroína, depois do que aconteceu com Davide?. Essa atitude despreocupada demonstra uma sintonia muito maior com a atitude pública geral em relação às drogas do que o ?não? categórico de Naomi Campbell.

Algumas modelos afirmam que nunca viram drogas sendo consumidas no mundo da moda. ?Ouço boatos, mas nunca vi?, diz Cindy Crawford. ?Talvez eu seja ingênua?, afirma Christy Turlington. ?Experimentei drogas e álcool na escola, mas não desde que sou modelo. As pessoas não usam drogas na sala de maquiagem.?

Segundo o fotógrafo Peter Lindberg, modelos ?precisam dormir para estarem maravilhosas no dia seguinte. É impossível uma modelo fazer sucesso e usar drogas.?

Mas, como prova a carreira de Naomi Campbell, isso não é verdade. O que é impossível é uma modelo dependente de drogas ou álcool continuar fazendo sucesso por muito tempo. Uma adolescente aguenta excessos ocasionais, com poucas repercussões físicas no curto prazo, mas uma modelo de 30 e poucos anos, não.

No que diz respeito a seu envolvimento com drogas, pode-se dizer que Naomi Campbell é mais vítima do que vilã. Ela era uma colegial de 14 anos quando, em 1985, foi descoberta e fotografada para a ?Elle? britânica. A vida já é dura para qualquer adolescente dos subúrbios, mesmo sem as pressões e tentações do mundo da moda.

Um ponto a favor de Naomi é o fato de ela ter procurado a ajuda dos Narcóticos Anônimos: sejam quais forem seus outros defeitos, ela não é burra. A história da moda moderna é repleta de exemplos de modelos que não souberam agir com a mesma maturidade. A modelo dos anos 70 Gia Carangi, por exemplo, é mais conhecida hoje por ter sido dependente de heroína e morrido de Aids em 1986 do que por seu trabalho.

A modelo Imam, mulher de David Bowie, conta: ?Já fiz tudo: sexo, drogas e rock?n?roll. Hoje, faço rock?n?roll e um pouco de sexo, mas as drogas deixei para trás?. (Tradução de Clara Allain)"

 

CASO DANIEL PEARL

"Suspeito por sequestro de Pearl é preso e diz que repórter está vivo", copyright Folha de S. Paulo, 13/02/02

"A polícia paquistanesa prendeu ontem o xeque Ahmed Omar Saeed, 29, o principal suspeito pelo sequestro do jornalista americano Daniel Pearl. Segundo a polícia, o militante islâmico nascido no Reino Unido afirmou que o repórter ainda está vivo.

O chefe da polícia de Karachi, Tariq Jamil, disse que o xeque Omar, como é conhecido, foi preso em Lahore e seria levado a Karachi para mais interrogatórios.

?Durante a investigação inicial, ele disse que Pearl estava vivo e em Karachi?, afirmou Jamil.

Pearl, 38, repórter do ?Wall Street Journal?, desapareceu em Karachi em 23 de janeiro enquanto tentava contatar grupos radicais islâmicos e investigar ligações entre Richard Reid, que tentou detonar explosivos escondidos nos sapatos num vôo Paris-Miami em dezembro, e a rede Al Qaeda, de Osama bin Laden.

O xeque Omar foi preso na Índia em 1994, acusado de sequestrar quatro turistas, e libertado em 1999, com dois outros militantes islâmicos, em troca de 155 reféns em um avião sequestrado e levado a Candahar (Afeganistão).

A polícia indiana o acusa de ter transferido US$ 100 mil a Mohammad Atta, um dos sequestradores dos aviões usados nos atentados de 11 de setembro nos EUA.

Omar, filho de um comerciante de roupas de Wanstead ( leste de Londres), estudou na prestigiosa London School of Economics.

Sua prisão conta pontos a favor do presidente paquistanês, Pervez Musharraf, que chegaria ontem aos EUA para uma visita oficial.

A Índia, que declarou achar ?suspeita? a coincidência de datas, pediu a extradição do xeque. ?Parece um pouco suspeito que ele tenha sido preso um dia antes de Musharraf se encontrar com [o presidente dos EUA, George W.? Bush?, disse o ministro-assistente das Relações Exteriores da Índia Omar Abdullah. ?Gostaríamos que ele fosse entregue à Índia.?

Afeganistão

Yunus Qanooni, ministro interino do Interior do Afeganistão, em entrevista publicada ontem no jornal ?Asharq al Awsat?, disse que membros ?influentes? dos serviços de inteligência paquistaneses estão ?protegendo Bin Laden e o mulá Omar, ocultando seus movimentos e abrigando líderes do Taleban e da Al Qaeda?.

Khalid Pashtoon, assessor do governador de Candahar, Gul Agha Sherzai, disse ontem que 15 líderes do Taleban estavam negociando sua rendição."

"Jornalista está morto, segundo réu confesso", copyright Folha de S. Paulo, 15/02/02

"O jornalista americano Daniel Pearl, sequestrado no Paquistão no mês passado, estaria morto, segundo disse ontem o autor confesso do crime, xeque Omar Saeed Sheikh. Mas o jornal ?The Wall Street Journal?, para o qual Pearl trabalha como correspondente, acredita que ele ainda está vivo. Sheikh, de origem britânica, fez a declaração ao ser ouvido pela primeira vez num tribunal. Ele não deu detalhes de como Pearl teria sido morto. No dia anterior, segundo a polícia, ele havia dito que o jornalista ainda estava vivo."

"Repórter está morto, diz seqüestrador", copyright O Estado de S. Paulo, 15/02/02

"O militante islâmico Ahmed Omar Saeed confessou ontem ser responsável pelo seqüestro do jornalista americano Daniel Pearl e disse acreditar que ele esteja morto. O governo paquistanês, contudo, desestimou as declarações de Saeed – conhecido como xeque Omar -, lembrando que no dia anterior ele havia dito que Pearl ainda estava vivo.

Apesar das declarações do xeque Omar e do silêncio dos seqüestradores, o Wall Street Journal, para o qual Pearl trabalha, manifestou a esperança de que ele esteja vivo. A mulher de Pearl, Marianne, grávida de seis meses, fez um novo apelo pela libertação do marido.

O xeque Omar, nascido na Grã-Bretanha, apareceu ontem em um tribunal pela primeira vez e disse que o seqüestro de Pearl três semanas atrás foi em protesto contra a guerra no Afeganistão. Não disse quando ou como como ou quando o repórter de 38 anos foi morto. ?Não quero me defender neste caso.

Eu fiz isso?, disse Omar calmamente. ?Até onde sei, ele está morto?, declarou. ?Certo ou errado, tive minhas razões. Acho que meu país não deveria atender às necessidades da América.?"