Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalistas palestinos são ameaçados em meio a conflito

Ameaças contra repórteres e editores palestinos se intensificaram nas últimas semanas, levando alguns deles a assumir uma postura mais discreta. As ameaças coincidem com a crescente tensão entre o Hamas, atualmente no governo, e o Fatah, partido da Autoridade Palestina.


Membros dos dois grupos rivais entraram em confronto armado mais uma vez na segunda-feira (15/5), noticia Khaled Abu Toameh [The Jerusalem Post, 15/5/06]. Um dispositivo explosivo foi detonado no norte da Faixa de Gaza, próximo à residência de um integrante do Fatah, mas ninguém ficou ferido, como informou a Rádio Israel. No domingo (14/5), ativistas do Hamas atiraram em um funcionário do Serviço de Segurança Preventiva Palestina em Gaza, e um membro do Hamas foi ferido seriamente por membros do Fatah.


Ameaças de todos os lados


Também no domingo (14/5), a revista eletrônica Donia al-Watan, com sede em Gaza, afirmou que recebeu diversas ameaças de um grupo afiliado ao Hamas. No começo do ano, homens armados não identificados atacaram os escritórios da revista. ‘Logo vamos destruir o sítio de vocês’, afirmou um grupo chamado ‘Unidade Antiterror do Hamas’ em mensagem enviada à redação. ‘Nós avisamos vocês no passado sobre publicar mentiras em seu sítio. Vamos atacar com pulso de ferro contra qualquer um que difamar nossos guerreiros’.


A ameaça é aparentemente associada a uma série de matérias e artigos anti-Hamas publicados pela Donia al-Watan nas últimas semanas. A revista também recebeu ameaças semelhantes de grupos do Fatah na Faixa de Gaza. Autoridades do Hamas negaram que o movimento estivesse por atrás das ameaças, afirmando que eles não eliminam a possibilidade de que elementos do Fatah estejam tentando provocar um conflito entre jornalistas palestinos e o Hamas.


Aziz Dweik, porta-voz do Conselho Legislativo Palestino, dominado pelo Hamas, enviou carta ao primeiro-ministro Ismail Haniyeh, pedindo a ele que inicie uma investigação sobre as ameaças contra a revista. ‘Nós pedimos a você para preservar a liberdade da mídia, que é sagrada para nós’, afirmou Dweik.


No começo do mês, o Sindicato de Jornalistas Palestinos afirmou que sete profissionais de imprensa afiliados ao Fatah na Faixa de Gaza receberam ameaças – feitas em nome do Hamas por telefone, e-mail ou fax – que alertavam que eles seriam mortos ou feridos por causa de sua cobertura jornalística. Alguns dos repórteres contaram ao Jerusalem Post que levaram a sério as últimas ameaças e pediram às forças de segurança da Autoridade Palestina para protegê-los. ‘Estamos recebendo ameaças de morte quase todo dia no último mês’, conta um repórter. ‘As ameaças vêm tanto do Hamas quanto do Fatah’.


A maior parte dos jornalistas que foi alvo da violência foi acusada de ser tendenciosa na cobertura do confronto entre Hamas e Fatah. Outros jornalistas afirmaram ter recebido ameaças de vários ramos das forças de segurança da Autoridade Palestina.


No mês passado, jornalistas de Gaza realizaram um dia de greve para protestar, em frente ao escritório do primeiro-ministro Ismail Haniyeh, contra as ameaças recebidas pelos colegas de profissão. Repórteres presentes ao local para cobrir a greve foram agredidos por policiais.


Cinegrafista ferido


Na quinta-feira (11/5) à noite, funcionários de segurança da Autoridade Palestina agrediram Bassam Abdullah, cinegrafista da Palestine TV. O ataque aconteceu quando Abdullah e outros repórteres tentavam cobrir o confronto entre policiais da Autoridade Palestina e militantes que sabotaram dezenas de estufas para plantas no ex-assentamento de Morag, no sul da Faixa de Gaza. Durante o confronto, os policiais da AP proibiram que repórteres locais e cinegrafistas entrassem na área, acusando-os de ‘incitar a violência’ contra a Autoridade Palestina, informou um dos profissionais. ‘Eles aparentemente não queriam que o mundo visse que homens armados tinham destruído as estufas’, acrescentou a testemunha.


O Sindicato dos Jornalistas Palestinos emitiu uma declaração condenando fortemente o ataque ao cinegrafista e pediu a Autoridade Palestina para iniciar uma investigação. ‘Pedimos aos nossos colegas para entrarem em contato com Abdullah a fim de expressar solidariedade a ele’, dizia a declaração. ‘Também pedimos ao Ministério Palestino da Informação para assumir suas responsabilidades e para defender a liberdade da mídia’.