FÓRUM DE JORNALISMO
A avaliação dos cursos de graduação tornou-se um dos principais eixos das preocupações da área acadêmica nos últimos anos, a ponto de sua simples existência ter se transformado em elemento determinante de políticas institucionais que a vêem como uma finalidade que esgota toda a dimensão do ensino. Há mesmo situações descritas em que, na obsessão em fazer com que os estudantes obtenham conceitos que possam alimentar a guerra publicitária e de reconhecimento de instituições privadas do ensino, a própria estrutura curricular acaba subvertida, com graves prejuízos para os alunos.
Na opinião dos participantes do Fórum dos Cursos de Jornalismo essa é uma compreensão equivocada do problema já que tende a ignorar a variedade de componentes que incide na formação dos estudantes e no processo de amadurecimento e implementação dos projetos pedagógicos existentes. Nesse sentido, manifestam sua preocupação com o estímulo que alguns desses procedimentos têm recebido do próprio Ministério da Educação nos últimos anos, não só porque esse fato tem significado um forte distanciamento do governo federal em relação à importância de um projeto de Universidade que seja compatível com as reais necessidades da sociedade brasileira, mas também porque reforça uma prática eminentemente mercadológica de empresas que nada têm a ver com os compromissos da educação universitária.
As discussões ocorridas tanto no âmbito de um significativo segmento estudantil quanto entre docentes de diversas instituições têm apontado para uma crítica seriamente concentrada em resultados que mais ocultam do que revelam as mazelas do ensino universitário, a exemplo do que acontece com o Exame Nacional de Cursos. Trata-se, portanto, de uma responsabilidade das áreas do conhecimento graduado o questionamento desses referenciais dos processos de avaliação, uma vez que sua concepção traduz uma perspectiva imediatista e contrária à natureza da racionalidade acadêmica.
Essa análise é especialmente pertinente ao caso dos cursos de Jornalismo, espaço já consolidado de reflexão e prática, onde os compromissos com a formação ético-profissional dos estudantes não podem se confundir com valores de ordem meramente adestradora e instrumental. Diante da importância indiscutível que os processos midiáticos e informacionais têm na sociedade contemporânea, caracterizando-se mesmo como elementos nucleares da justiça social e das práticas democráticas, reduzir a avaliação a um conjunto de elementos operacionais é um exercício que opera no sentido de desarmar os profissionais da imprensa dos instrumentos que asseguram a essência da natureza de seu trabalho.
No âmbito dessas preocupações, os participantes do Fórum dos Cursos de Jornalismo, no entanto, acreditam que a avaliação de seus procedimentos educacionais é uma atividade que deve ser permanente e necessária, não se esgotando nos instrumentos oficiais, mesmo aqueles que procuram identificar as condições efetivas em que o ensino é oferecido. Nessa constatação reside a recomendação de que os próprios cursos discutam os fundamentos de seus projetos pedagógicos através de processos que possam medir com acuidade seus compromissos com as práticas profissionais coerentes com os desafios que se apresentam para o exercício do Jornalismo em nosso país.
Todavia, é preciso rejeitar a possibilidade de que as iniciativas da auto-avaliação não se circunscrevam ao mero atendimento de exigências administrativas e oficiais, mas sejam processos decorrentes de um profundo envolvimento analítico e propositivo de alunos, professores e funcionários, que assegurem a variedade de percepções que a formação graduada em Jornalismo possa ter, sem que nenhuma das perspectivas possíveis de formação profissional assumidas pelo projeto pedagógico sofram quaisquer constrangimentos ou retaliações.
Os participantes do Fórum dos Cursos de Jornalismo sugerem ainda a criação de uma comissão que estude a viabilidade de uma avaliação articulada entre as escolas que participaram do evento, com a criação de um projeto piloto que incentive os procedimentos de análise e de reflexão em torno do ensino que oferecem aos seus alunos.