Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O real valor da tecnologia

DEVER DE CLASSE

Fernando Torres (*)

É verdade que alguns cursos superiores engatinham em virtude de seu pouco tempo de existência. Não se discute a deficiência curricular e tecnológica, assim como um certo despreparo de professores. É visível aos olhos dos estudantes que as universidades brasileiras poderiam ser bem melhores, mas… a partir daí seria viável estabelecer estereótipos? E quais seriam esses padrões e em que base estariam fundados?

Aspectos relevantes passam despercebidos dos alunos. As agências de notícias e os estúdios de rádio e TV nas escolas são alguns dos pontos que, em vez de serem valorizados pelos alunos, se tornam alvos principais das críticas. As luzes faiscantes do mundo lá fora brilham mais alto, criando uma imagem fantasiosa e irreal do que realmente existe. Uma carreira fácil e sem desafios, a chefia de uma redação, um emprego garantido no Jornal Nacional ou uma vaga no Conselho Editorial da Folha são ilusões que povoam a mente dos estudantes, resultando em exigências agressivas e descomunais.

Para os que pensam assim, foi de grande valia a visita à Rádio CBN de Campinas, em meados do ano passado. Puderam ver com os próprios olhos como são este e outros afamados meios de comunicação. Com aparelhagem ultrapassada e estúdios caindo aos pedaços, a emissora deixou muito a desejar em modernização, eficiência de espaço e tecnologia. A realidade dos repórteres foge do sonhado: uma corrida exaustiva em busca de notícias e um computador 486 com Windows 3.11 (aquele do Gerenciador de Programas) para editá-las. Também deve ser citada a penúria da Rádio Antena 1, do jornal Correio Popular, ambos de Campinas, entre outras pobrezas.

"Se depender da faculdade…"

Engraçado como alguns explicaram a precariedade física de forma simplista e alienada: "Rádio é assim mesmo." Como é que se explica então que esses mesmos indivíduos gritem e batam o pé em relação à precariedade dos laboratórios dos cursos de Jornalismo? Como entender essa incoerência? Vale ressaltar que não é a qualidade do conteúdo que está em discussão, e sim o que se pode ver e tocar.

Não julgo a CBN. Também não julgo as universidades. Julgo o indivíduo. Pois está provado que mesmo com a mais reles tecnologia existe competência. (Ou agora atacaremos a qualidade da CBN?) Não é a tecnologia que deve mudar, embora ela ajude muito. É o pensamento do estudante acomodado que deve ser urgentemente reavaliado. São furados os conceitos de que o conteúdo virá correndo ao encontro do aluno e que este se tornará um brilhante profissional da noite para o dia. Destacamos a tecla "prática". Teoria, filosofia e parafernália tecnológica não transformam nenhuma criatura em jornalista.

Vale lembrar a citação de um estagiário da CBN: "Se dependermos apenas da faculdade, estamos &#%$@*" (a página não aceita esse tipo de expressão). Conclui-se que depende do aluno a eficácia e a vitória de seu curso. Tecnologia no ensino de Jornalismo é só um capítulo dessa conquista.

(*) Aluno do 2.? ano de Jornalismo do Unasp