INTERNET & PRIVACIDADE
"Sorria, você está na Internet!", copyright Correio Braziliense, 13/04/02
"A experiência é medonha, mas vale o susto. Vamos ao teste: pegue o nome do seu cunhado, some ao nome de solteira de sua mãe e invente um terceiro sobrenome. Supomos que o resultado seja Robson Ferreira de Almeida. A criatura que você acabou de criar está na Internet. Com sorte, e paciência, acha-se o telefone, endereço, profissão e estado civil. Não precisa ser um ás da informática para descobrir tanto sobre um personagem que você sabe que existe, mas que nunca viu na vida. Por quê? Ah, porque, mesmo sem querer, todos nós que entramos e temos acesso ao mundo da informática e da Internet estamos todos nos arquivos da rede mundial de computadores. É só procurar.
Se você – por mais desconhecido e discreto que seja – fez concurso público nos últimos cinco anos, alguma compra virtual, trabalha em empresas de grande porte ou tem o nome na lista telefônica, é batata, em jornais, não tem jeito, seus dados estão na indiscreta Internet. Se pôs o currículo na rede, tem e-mail, já participou de grupos de discussão, tentou arranjar namorado, escreveu para reclamar de qualquer coisa, sobre qualquer assunto, para qualquer pessoa, seu nome – ou pelo menos seu apelido – também estará lá. São pelo menos 10 milhões de informações novas por hora. É como se desde 1997, o início do auge da popularização da Internet, vivêssemos em um discreto e invisível Big Brother. ?O feito não é intencional, é simplesmente um registro do dia-a-dia que na maioria das vezes se mantém ativo e noutros obsoleto?, filosofa André Martheni, da Dhemin, empresa de consultoria norte-americana especializada em informática, que busca espaço no Brasil.
Mas isso muda o quê na sua vida? ?Existem pessoas que não gostam de se expor. É o direito delas. Mas, de alguma forma, a Internet acaba democratizando informações que realmente interessam só a quem as pertence. Quem quiser tem direito de reclamar?, defende Márcio Venâncio Mamede, advogado especialista em direitos autorais. Mas antes de pensar em encher o bolso por suas informações que estão, digamos, disponíveis para o mundo, o especialista lembra o fardo que será montar um processo judicial.
1. Você assinou algum documento que proibisse a divulgação de seus dados?
2. Como provar que as informações são suas e não de um homônimo?
3. Em casos de serviços públicos, como listas de aprovados em vestibulares, como impedir que a universidade divulgue o seu nome?
4. Se você participou de grupos de discussão, como não deixar que outras pessoas tenham acesso aos seus comentários?
5. Enfim, como se livrar da modernidade do mundo?
?Não é tão fácil quanto parece, nem tão assustador. Acredito que as informações oferecidas, em 90% dos casos, são básicas e não assustam ninguém?, garante o advogado Mamede. A empresária Maria da Graça discorda do especialista.
Noutro dia, há mais ou menos seis meses, pegaram os dados da moça e fizeram uma espécie de terror psicológico de arrepiar os cabelos. Maria da Graça participava de um papo, um pouco mais íntimo, com um rapaz de São Paulo. Em uma troca de e-mails, chegou a surpresa: ?Ele sabia meu nome completo, o lugar onde nasci e até meu endereço aqui em Brasília. No final, sem mais nem menos, perguntou se poderia me ligar. O problema é que nunca disse meu telefone para esse moço?, conta, revoltada.
Como ele foi capaz, audaz, inteligente o suficiente para descobrir tanto? Resposta: Google, Altavista, Yahoo, Alltheweb ou qualquer outro site de busca que toda criança sabe como funciona. Passada a raiva, Maria da Graça lembrou, assim do nada, que participava de um fórum de debates sobre cinema e teatro. Estavam ali, tão facilmente disponíveis, os dados que atraíram o fã paulistano.
?Não acredito que casos semelhantes se repitam com tanta freqüência?, aposta André Martheni, consultor da Dhemin Informática. O ?doutor em redes? lembra que, muitas vezes, informações disponíveis significam encontros inesquecíveis.
Martheni destaca o lado positivo dessa, digamos, invasão de privacidade proporcionada pela Internet e lembra que por meio de sites de busca é possível encontrar parentes desaparecidos, ex-colegas de escola, recuperar o paradeiro de alguém que mudou de e-mail, de provedor e esqueceu de avisar aquele velho companheiro que vive do outro lado do Atlântico, fazer novos amigos além da linha do Equador e até, quem sabe casar.
Maria da Graça, a moça que procurava um conforto no anonimato da tela de 15 polegadas, há tempos desistiu de entender a Internet. Ela tem medo de que um psicopata-louco-sem-juízo-e-de-carne-osso invada sua casa. Tanto fez Maria que até para dar contar sua história ao Correio preferiu usar um nome de fantasia. Um nome comum, igual a outros milhões de Marias que estão na Internet. Fácil fácil de achar.
A propósito..
O que descobrimos sobre o fictício Robson Ferreira de Almeida do início da matéria, aquele que tem o nome do seu cunhado, o sobrenome da sua mãe e o terceiro nome inventado…
Ele tem um homônimo que passou no vestibular para economia na Universidade Federal do Pará
Mora em Belém, a capital paraense
Participou de uma discussão sobre os professores do Instituto Brasileiro Brasil Estados Unidos (Ibeu)
Esteve no Rio de Janeiro em fevereiro de 1998, provavelmente para passar o carnaval
Proteja sua identidade
Evite colocar dados verdadeiros em listas de discussão ou cadastros de e-mails gratuitos, do tipo hotmail, zipmail ou bol. Também não facilite na hora de colocar uma dica de senha. Funciona assim: quando se faz um cadastro para um serviço de e-mail, geralmente pede-se que você faça uma pergunta que rapidamente dê conta de sua senha. É uma dica, algo bem simples. Faça uma pergunta qualquer, mas sapeque uma resposta bem difícil.
Procure somente empresas sérias e de grande porte para fazer compras pela Internet. Lembre-se: ali irão seus dados pessoais, especialmente o número de cartão de crédito.
Você adora um sururu e acredita que os grupos de discussão são o máximo? Se quiser discrição, mais uma vez evite colocar dados verdadeiros. Prefira apelidos.
Só coloque seu currículo na Internet em sites que peçam algum tipo de senha para acesso imediato."
"Justiça dos EUA já investiga venda de cadastros pelos portais de web", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 12/04/02
"A Internet – a mais livre de todas as mídias – entrou no radar da Justiça americana porque há sérias suspeitas de que essa liberdade esteja virando um produto comercial indesejado. Isso tem a ver com o lixo eletrônico – junk mail ou spam – que aqui também no Brasil começa a entulhar o seu computador, contra a sua vontade.
O que se percebeu, nos EUA, é que, para turbinar seus ainda tímidos negócios, alguns mega-portais como Yahoo mudaram, por baixo do pano, as suas políticas de privacidade e passaram a vender, indiscriminadamente, os mailing lists de milhões e milhões de usuários – não só seus endereços virtuais, mas também os reais, número de telefones e até dados de um cadastro pessoal supostamente reservado.
A Excite, outro populoso portal da web, nos Estados Unidos, andou às portas da falência e só se salvou porque os novos donos adotaram a prática da venda de mailing lists. Na prática, o que ocorreu com os usuários é que eles passaram a ser bombardeados em seus computadores por ofertas de produtos – e levam até dois meses para conseguir se livrar definitivamente da correspondência indesejada.
Os mais irritados vão direto aos tribunais. E, como a Internet ainda não tem uma jurisprudência firmada, é bem possível que as primeiras decisões de juízes de primeira instância acabem definindo todo o futuro da rede."