VENEZUELA, O DAY AFTER
Archimedes Lazzeri (*)
Sei que deveria estar escrevendo diretamente a uma parcela da imprensa que ficou seduzida pela figura do empresário golpista da Venezuela. Uma parcela que, distante dos fatos, se apressou em tirar conclusões que fortalecessem os seus interesses eleitorais locais.
Tentando se aproveitar do momento apontaram, corretamente, os desvios e o caudilhismo de Chávez, mas pecaram por ansiedade, ao vestir no golpista Carmona o manto de democrata, logo rasgado com os atos de fechamento do Congresso e da Corte Suprema.
Essa euforia pode ser percebida nas manchetes estampadas nos principais veículos de comunicação, que anunciavam uma "renúncia", meramente especulativa, sem qualquer indício ou fato comprovado. Outros se arriscaram a fazer comparações pasteurizadas de toda a América Latina, tomando os acontecimentos de Argentina, Peru, Equador, Colômbia, Paraguai e Venezuela para, ao anunciar e alardear sobre os riscos da volta do populismo, aterrorizar a população mais desinformada que se prepara para votar nas próximas eleições.
Não dá para jogar sobre as oposições, como desejam estes senhores, a pecha da irresponsabilidade e do discurso fácil que levará, inevitavelmente, o Brasil ao mesmo caminho desses países vizinhos. O discurso fácil elegeu no Brasil um demagogo, nas eleições de 1989, e esse presidente eleito sofreu processo de impedimento do seu mandato, com ampla participação popular e organizado pelas oposições que o levaram a julgamento no Congresso Nacional, retirando-o do cargo sem qualquer golpe ou quartelada.
O Brasil, neste caso, é um exemplo para o mundo, porque tem uma oposição organizada, com base social e acima de tudo responsável. Aliás, mais responsável que a elite do poder, que muito pouco tem feito para diminuir as diferenças sociais, que continua favorecendo a acumulação da riqueza por parte de uma pequena parcela da população e o acelerado endividamento do país.
O risco da América Latina, portanto, não está nas suas oposições, mas naqueles setores da elite que não abrem mão do seu status quo. Também na atitude de certos setores da imprensa que se embananam com a política, como no recente episódio envolvendo Chávez.
Mas é injusto não destacar a importância do jornalismo sério, investigativo e interpretativo, que ouve todos os lados, que confronta opiniões e que ganha credibilidade em amplos setores da sociedade brasileira ao dar ao cidadão o direito de formar sua própria opinião: uma imprensa que contribui para o fortalecimento da democracia, como é o caso da CBN, apesar do senhor Arnaldo Jabor e de suas bananadas.
(*) Assessor de formação de professores, pós-graduando em Educação, com formação em Ciências Sociais e Processos Industriais