JORNALISMO CULTURAL
Silas Corrêa Leite (*)
Parafraseando uma grande citação clássica, mesmo se eventualmente não concordasse com alguma circunstancial posição que o visionário ecologista e promotor cultural de renome, o jornalista Paulino Rolim de Moura, defendesse, exemplificasse ou conduzisse criticamente sob determinado viés ou enfoque técnico-político, no entanto, confesso que defenderia até a morte o direito que ele tem de se pronunciar, até de livre expressão (prevista na Constituição), não apenas (e também) como titular fundador do primeiro tablóide tupiniquim de vanguarda sob a ótica da ecologia e de denúncias importantes e verdadeiras, O Trombone, como também pela experiência de fazer-se valer da vox populi para expressar seu desprezo, sua mágoa, sua transparente revolta contra os maus brasileiros que vêm afundando cada vez mais o nosso tal berço esplêndido eternamente à espera de ser um país de um futuro que nunca chega para os fracos & oprimidos, a maioria absoluta da carente população e sua periférica "sociedade anônima".
Quando a Folha de S.Paulo, tido como um dos melhores e mais democráticos jornais do Brasil, publicou, ao fim de um ano passado aí, uma lista dos 10 melhores livros, trabalhos ou o que quer que fosse da literatura poética mundial, estranhou-me sobremaneira a ausência de mais nomes de ilustres brasileiros talentosos dentro do próprio processo histórico como um todo.
Afinal, não devemos ser xenófobos, mas também não temos que assinar assim, aleatoriamente, embaixo do que prega grande parte da mídia nacional ou internacional, sempre bancada por agiotas do acumulativo e inumano capital estrangeiro, exóticos emboabas interesseiros que bobamente repetimos como se fôssemos macacos-amebas nessa continental terra brasilis.
A tchurma da Folha
Já não chega sermos dopados com a horrenda music comercial (pastiche) americana de terceira categoria, os filmecos de ufanismos e agressões prepotentes (violência generalizada), as guerras sazonais para desviar entreveros sexuais no salão oval de um ex-presidente depravado, e ainda temos que agüentar nomes que mal nutrem o ratar tantã de nossos consumidores do alheio, a qualquer custo, a qualquer preço?
Pois, nessa época dos Melhores, dos Tais do Milênio, novamente o jornalista idôneo e lúcido, Paulino Rolim de Moura, põe o dedo na ferida da desvalorização da cultura brasileira, entregue que estamos hoje à mesmice online de um neoesoterismo fora de propósito maior do que o lucro puro e simples.
E nesse famoso tablóide denominado O Trombone, Paulino Rolim de Moura, ferino mas verdadeiro, ao seu estilo, seu famoso modus operandi (vanguarda é transparência é outra coisa), senta a pua em cima dos tais "melhores" só porque alguém quer, não porque realmente é ou deveria ser. Onde já se viu? Esqueceu, a Folha de S.Paulo, poetas como João Cabral de Melo Neto, Hilda Hilst, Jorge de Lima, Vinícius de Morais, Carlos Nejar, Manoel de Barros, sóoacute; para citar alguns, de passagem, claro. E lá estava apenas e tão somente o esplêndido Carlos Drumond de Andrade. Pergunto: e os outros?
A poesia brasileira, quer queiram, quer não, faz séculos que está entre as melhores do mundo. Coloquem-na em confronto com Brecht, Neruda, Pessoa, Maiakovski, Rilke, Ezra Pound, Whitman, Yeats, Garcia Lorca, José Martí, e verão que lá estamos nós, se não num eventual (por época, tipo, estilo, montante, crista da onda, luzes da ribalta etc.) num empate técnico, quando não dando de 10 a zero.
Por que esse puxar o caroço arigó (e jeca) para o hambúrguer de minhocas dos outros? Parece coisa de babaquara com o pé na cozinha de um nhenhenhém janota, boçal e paquidérmico. Para dizer o mínimo.
Se a poesia brasileira é uma das melhores do mundo, que bonito é passar-se por pseudo- erudito, fazendo citações em inglês prosaico, francês arcaico, enquanto nossos "gerentes editoriais" (sic) desprezam livraços de autores nacionais, inclusive premiados ou mesmo com trabalhos elogiados e expostos no exterior, no Primeiro Mundo. Cada editora chinfrim de país periférico tem o seu "avaliador" editorial que merece? Deve ser isso.
A literatura brasileira, salvo honrosas exceções (e óbvios ululantes), hoje vive de panelinhas. A Folha é apenas uma delas? Só publica a tchurma da casa, a trupe atrelada de mala e cuia. Mas existe ainda muita luz além desse túnel, na periferia sociedade anônima, por exemplo, que é a arte marginal, ritmos & blues, underground, como se diz.
Globo, carioquismo de embuste
Em São Paulo a João Scortecci Editora vem lançando autores novos a honestos a preços módicos e parcelados. A Editora Ciência do Acidente também arrebenta espaço sério pelaí. No Rio de Janeiro, a Sette Letras, o jornal Blocos (ótimo!); no Sul, a Editora Grafite, e no Paraná teve um brilho passageiro (será que ainda resiste?) a Lagarto Editores. Poetas do calibre de Castro Alves, Guilherme de Almeida e Paulo Bonfim foram esquecidos. Então a lista dos "10 mais" não era séria? Até porque muita poesia dita moderna nem chega a ser poesia.
E, muita poesia rotulada (mal-rotulada?) de neoconcretista ou coisa que o valha nem prosa poética chega a ser, pois até mesmo funde uma bronca (e reles, ignóbil, vil) antipoesia propriamente dita.
É por isso que, hoje, parafraseando uma adágio antigo, dizemos que um país como o Brasil se faz "com fome e gringos?" E as privatizações-roubo? E a prostituição infantil e política (liberal)? E a corrupção endêmica institucionalizada em todos os níveis? E o Estado propositadamente falido (na verdade sempre foi privado)? E as Riquezas Injustas (São Lucas), Riquezas Impunes (Millôr Fernandes)? E o neoliberalismo-câncer que só globaliza a miséria absoluta, quando a tal "modernização" apenas provoca insanas demissões e, com isso, as ações ganham preço alto no mercado?
Que raio de capitalhordismo selvagem e amoral é esse? O Futuro ao FMI pertence.
Pior: e as músicas escolhidas pela Rede Globo (engodando-nos com seu open doping ? lavagem cerebral) como se as melhores? Uma vergonha. Esqueceram ? tiveram a coragem de excluir ? de Trem das Onze (Adoniram), Como nossos pais (um hino-poema de uma geração, de Belchior), Casa no campo (de Zé Rodrix e parceiros), Nas asas da Panair (de Milton Nascimento), Romaria (Renato Teixeira), Que as crianças cantem livres (Taiguara), As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos), Se eu quiser falar com Deus (um belíssimo spiritual do talentoso Gilberto Gil), No tempo dos quintais (Sivuca e companhia), Gente humilde (Canhoto, Vinícius e Chico Buarque), O índio (um achado lítero-filosofal de Caetano Veloso), A banda (de Chico Buarque de Holanda), Viola enluarada e tantos outros sucessos, apelando a direção global (plim-plim) ao carioquismo de embuste, ridículo, rigor "formol", pseudo-modernoso…
Mil muros de negligências
E lá vem uma nova lista dos Dez Mais Craques de Futebol, e aí vão engolir tipinhos como Edmundo, o Animal, o inconseqüente baixinho Romário e, com certeza ? com tantos outros disparates ? alguns zé-manés. E ainda tivemos de, mesmo que de forma temporária (olha a lama!), conviver com o ? salve-se quem puder ? sorriso de lagarto do Roberto Campos na Academia de Luto, quero dizer, de Letras. Charles de Gaulle tinha realmente razão. E o restinho de um "brazyl" continua nada sério, ainda. Fome e progresso? Que Deus tenha piedade de nós.
Concordo em gênero, número e grau com o brasileiríssimo Paulino Rolim de Moura, cutucando onça globalizadamente servil e estúpida com vara curta, brigando com oligopólios da chamada "mídia atrelada", pois, sabemos muito bem (somos politizados para tanto?) que foi ela, a suspeita mídia, quem elegeu Collor e FHC (um Fernandinho janota sem partido e um outro Fernandinho boçal com seu tucanato murista cheio de covas,), enquanto também ? e mostrando a cara da incompetência ética (ou sem visão social-plural-comunitária) ? publica artigos pamonhas (…) de Paulo Maluf, o maior corrupto do Brasil desde 1500 que, em qualquer país do mundo estaria preso (no país de origem de sua famiglia teria as duas mãos cortadas), e aqui tem espaço livre, e estranhos "arquivamentos" de demoradíssimos (sic) processos por intermédio de um desembargador no mínimo suspeito. Vade Retro.
Assim, parabenizo O Trombone e Paulino Rolim de Moura. Como poeta é todo aquele que respira pelo fio da navalha da criação (feito antena da época, para citar Rimbaud), que ele continue ativo, dinâmico e verdadeiro, sendo um lutador contra tantas erranças de falsas sabenças, apontando O Trombone para os que pensam que pensam, os que acham que são o que não.
Se a verdadeira cultura brasileira sobrevive a duras penas é porque existem guerreiros como ele, sem ligações espúrias com falsos mecenas, com falsos "artistas" de panelas, em terras de Tiazinhas, Feiticeiras, "bunda-music", Hebes-Amebas, Timóteos e Hildebrandos-Nayas de ninho de escorpiões espúrios. Em terra de cego, quem tem olho monta literatura neoconsumista? Deve ser isso.
Eu, por mim, prefiro Pixinguinha a Reginaldo Rossi, Manuel Bandeira a emboabas tirados da cartola pouco humana do Tio Sam, com seus mil muros de negligências sociais, embustes financeiros e domínios improbos já notadamente em começo de declínio.
E sai de baixo.
(*) Poeta, integrante da União Brasileira de Escritores. Sites: <www.poetasilas.hpg.com.br> e <www.silaspoeta2222.kit.net>