Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Experiência americana

LE MONDE & NYT

"Somos todos americanos", proclamou o editorial do Le Monde após o 11 de setembro. Naquela semana, o prestigiado jornal francês reproduziu uma página inteira de artigos do New York Times, em inglês.

O tempo de solidariedade passou, mas o diário está de volta como suplemento semanal de 12 páginas do Le Monde. O publisher Jean-Marie Colombani aposta na capacidade de leitores franceses lerem notícias em inglês ? que é, afinal, língua franca da União Européia. Se o projeto vingar, pode ser copiado por outros jornais europeus: o espanhol El País, o italiano Reppublica e o alemão Suddeutsche Zeitung estão observando a reação dos leitores para decidir se vão investir na publicação de um suplemento semelhante.

Christina White [BusinessWeek Online, 12/4/02] conta que muitos franceses já estão familiarizados com o NYT, pois alguns artigos são reproduzidos no International Herald Tribune, diário internacional que controla junto com o Washington Post. IHT, no entanto, ainda é visto como um jornal americano expressando opiniões ianques. Como parte do Le Monde, o Times cria um atalho para entrar num mercado ainda inconquistado. Além do mais, tem a chance de atingir um público mais amplo e jovem que o do IHT: um terço dos dois milhões de leitores do jornal francês tem menos de 35 anos, uma geração que cresceu com a cultura americana.

Se o suplemento for bem-sucedido, pode até atrapalhar o concorrente IHT na competição por publicidade. O publisher Peter Goldmark hesita ao discutir a idéia. "É uma experiência, e portanto é duro dizer quais são as implicações no momento."

DIVERSIDADE NAS REDAÇÕES

Há 25 anos, a Sociedade Americana de Editores de Jornais (Asne) realiza um censo para atestar a presença de minorias nas redações de todo o país, e ver se estes veículos são tão diversos quanto as comunidades que cobrem. Os resultados, no entanto, têm feito editores questionar se o objetivo é alcançável.

No ano passado, o setor teve um aumento total de quatro representantes de minorias, ainda assim porque, com a recessão, mais jornalistas brancos aceitaram planos de demissão voluntária, aumentando a porcentagem de minorias para 12% (comparado aos 31% da população americana). Quase metade dos diários americanos não emprega nenhum repórter, editor ou fotógrafo não-branco.

Os editores oferecem muitas razões para a dificuldade de aumentar a diversidade, como o tamanho de jornal (quanto menor, mais complicado atrair bons profissionais destes grupos) e circunstância (veículos de regiões com alta porcentagem de minorias teriam que atingir um número maior). Mas o problema da paridade, revela Bill Dedman [The Boston Globe, 11/4/02], é mais afetado pela companhia que controla o jornal. Algumas das 10 maiores cadeias de jornais ? Knight-Ridder, Gannett e Advance (Newhouse) ? estão a dois terços de alcançar a mesma porcentagem observada na comunidade. Outros, na metade do caminho: Tribune, Dow Jones e The New York Times Co. Já Hearst e Media-News estão bem abaixo da metade.

Apenas nove dos 100 maiores diários estão em paridade, como o Globe. Mas mesmo estes não conseguem se aproximar da diversidade da comunidade principal. 18% da equipe do Globe é formada por minorias, numa área de circulação em que esta porcentagem é 16%; a cidade de Boston, no entanto, é 51% não-branca.

Enquanto uns defendem a paridade, afirmando que melhora a cobertura e aumenta a credibilidade, o jornalista William McGowan argumenta que, embora bem-intencionada, a "cruzada pela diversidade" nasceu de uma ortodoxia liberal que favorece reportagens sobre imigração, Aids e educação bilíngüe. "Depois de 25 anos tentando, a indústria de jornais precisa se dar um descanso, dizer, isto não é importante, e se concentrar em fazer uma cobertura verdadeira e precisa, que não está fazendo agora", opina.

Mas as redações estão longe de ser diversas. Outro problema apontado pelos editores é a falta de jornalistas qualificados; quando estes aparecem, logo deixam jornais menores em busca de melhores salários e oportunidades. No momento, 27% dos estudantes de comunicação são minorias, o suficiente para dobrar o número atual em cinco anos e atender a demandas, mas muitos não vão para o jornalismo impresso. Um programa do Freedom Forum procura justamente mudar esta situação, oferecendo a 50 jornalistas de minorias US$ 20 mil extras por dois anos de trabalho num jornal menor. De acordo com as regras, 1.310 diários poderiam se inscrever, mas até agora apenas 46 apareceram.