MÍDIA & TROTE
Antônio R. de Almeida Jr. e Oriowaldo Queda (*)
Qualquer consenso sobre os efeitos psicológicos e sociais da mídia está longe de existir. Seguindo as proposições de Paul Lazarsfeld [por exemplo, na publicação em conjunto com Robert Merton, Comunicação de massa, gosto popular e a organização da ação social. In: Lima, Luiz Costa, Teoria da cultura de massa, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000], muitos autores acreditam que estes efeitos são relativamente pouco importantes, e que o centro das questões está na interpretação das mensagens. Eles afirmam que, para aqueles que produzem as mensagens, não é possível controlar a interpretação que os receptores farão delas. Por este motivo, vêem com ceticismo qualquer crítica da mídia que aponte para a manipulação ou para uma influência marcante desta sobre a sociedade. No entanto, há um grupo significativo de autores que acredita que ela produz vastos efeitos sociais e psicológicos. Eles chegam mesmo a afirmar que, pela sua onipresença, ela é capaz de criar o ambiente cultural no qual estamos imersos. Embora os efeitos das mensagens não possam ser completamente controlados, não são totalmente imprevisíveis ou desconhecidos. Haveria como que uma espécie de naturalização dos valores pregados pela mídia.
Ao aceitar este segundo ponto de vista, aceitamos também que a mídia tem enorme impacto sobre a educação dos mais jovens. As crianças permanecem longos períodos escutando rádio, música, lendo revistas e jornais, jogando videogames ou navegando na internet. Mas, é a televisão que merece maior cuidado. Em pesquisa realizada na Inglaterra, verificou-se que as pessoas assistem a cerca de 25 horas/semana de televisão (O?Sullivan, Dutton & Rayner, 1998:4). Ela pode ser considerada como o principal veículo educacional da atualidade. Mas, qual o seu currículo? Qual o currículo oferecido pela mídia em geral?
Claro que a mídia é, até certo ponto, plural, refletindo as divisões de interesses e visões de mundo dos atuais donos do poder e da riqueza. Mas, a propriedade dos grandes veículos de comunicação está concentrada em poucas mãos. Não é difícil perceber que existe seleção ideológica dos profissionais de mídia. As grandes empresas e os governos também pressionam para que somente aquilo que lhes interessa, ou pelo menos aquilo de que não discordam, venha a público.
Estímulo à violência
De qualquer forma, é possível notar que a televisão e a mídia, de uma forma geral, oferecem uma pesada dieta de violência aos telespectadores. Pior ainda, em muitos casos a violência é apresentada como algo "engraçado". Ridicularizar pessoas, principalmente mulheres, negros, pobres e outras minorias, também é apresentado como algo "divertido". É freqüente que aquele que ridiculariza seja colocado numa posição de superioridade. Ele pode ser mostrado como alguém mais inteligente e ou mais bem-humorado.
A propaganda se tornou um dos mais poderosos elementos da educação ou da deseducação da população. Além de vender produtos, propõe valores, instiga estilos de vida, divulga comportamentos, nos sugere o que deve ser considerado normal e fora do normal etc. Por exemplo, pelas imagens, pode insinuar que o amor e a sexualidade são, de fato, formas de exercício de poder, como pode também insinuar que uma atitude sádica em relação ao sofrimento alheio é algo normal. Tal sofrimento pode ser colocado na condição de entretenimento ou de comédia, entre outras possibilidades.
Analisar o tratamento que a mídia tem dispensado ao trote é oportuno e relevante. Principalmente porque esta prática não tem sido tratada como verdadeiro problema. Para muitos, ele nem sequer existe e, para outros, se causa algum transtorno, é devido a excessos, e não às próprias características do fenômeno. A postura da mídia é ambígua e, em certos momentos e situações, acaba estimulando o trote.
Às vezes a imprensa acerta
Existem, por isto mesmo, vários problemas relativos à postura da mídia. Por exemplo, colégios, cursinhos e seus publicitários divulgam imagens do trote de forma irresponsável e incompatível com a promoção da cidadania. Nas propagandas, o trote é mostrado como um momento de felicidade, como símbolo do sucesso no vestibular. Os atos de violência são convertidos em momentos de alegria. Mostram-se fotos de alunos com os cabelos raspados, o corpo pintado, fazendo pedágio etc. com a maior naturalidade, sem qualquer crítica. Muitos alunos do colegial e do cursinho acabam criando uma expectativa positiva em relação ao trote. Ele passa a ser visto como uma forma válida de comemoração, como algo que deve ocorrer de uma forma ou de outra. Portanto, o resultado é uma naturalização do trote, uma naturalização da violência.
Pior ainda, quando fatos graves ocorrem, alguns órgãos de mídia têm muita dificuldade para realizar uma cobertura minimamente correta sobre o assunto. Exploram-se aspectos superficiais do problema. Como se fosse possível, tenta-se promover uma falsa distinção entre o trote violento e a "brincadeira". Esquece-se também que a maior parte da violência do trote ocorre num contexto privado. Fora dos olhos do grande público e, portanto, em condições difíceis de apurar, dada a cumplicidade entre os praticantes. Em paralelo ao trote visível aparentemente "brando" há um trote invisível muito mais perverso. Geralmente, aquele que pratica o trote "brando" encobre e se torna cúmplice daquele que pratica o trote violento.
A própria idéia de que há um trote "brando" deve ser questionada. Será que ter o cabelo raspado, quando não se quer, é algo "brando"? Será que ter o cabelo raspado durante todo o curso de graduação, como vem acontecendo em algumas escolas, é algo "brando"? Será que ter o corpo pintado durante meses seguidos é algo "brando"? Será que ter um pincel atômico enfiado no ouvido é algo "brando"? Será que um pedágio que coloca na mesma condição alunos bem situados socialmente e mendigos é algo "brando"? Será que arrecadar dinheiro para bebedeiras é algo "brando"? Será que expor calouros ao risco de atropelamento é algo "brando"?
Claro, em alguns momentos a mídia acerta, e faz críticas contundentes ao trote, como nos artigos "Vagabundagem universitária começa no trote" (Folha de S. Paulo, 25/2/97), "A covardia do trote" (Folha, 18/02/98), "Trote e selvageria" (Folha, 5/2/98), "A punição do trote" (Folha, 7/3/98), "Trotes: o afogamento do espírito" (Folha, 22/4/99), "Escárnio, ironias e videoteipe" (Veja, 7/7/99), "Tolerância zero, o remédio para o trote" (Veja, 21/4/99). Mas, logo em seguida, comete deslizes como nos artigos "Trote e brutalidade" (O Estado de S. Paulo, 23/4/99), "Até pais participam do trote na USP" (Estado, 19/2/02).
Perguntas não-respondidas
O fato é que nenhuma lista deste tipo poderia fazer justiça aos veículos de imprensa. No livro O calvário dos carecas, Glauco Mattoso reconhece que o jornal Estado de S. Paulo tem travado uma extensa luta contra o trote, enquanto pelas referências acima este jornal aparece com dois artigos classificados como cobertura incorreta. O mesmo ocorre com relação à revista Época, à Rede Globo e ao jornal Folha de S. Paulo, dos quais alguns equívocos serão mostrados abaixo. Em alguns momentos, estes veículos de comunicação têm produzido matérias corretas sobre o trote para, logo em seguida, voltarem a mostrar complacência. Acontece o mesmo em outros veículos, não citados aqui.
O problema é que existe uma enorme ambigüidade em relação ao assunto. Pouca gente é capaz de discernir o adequado do inadequado. Muitas vezes, o repúdio ao trote mostrado nos editoriais não é coerente com o conteúdo das reportagens sobre o trote. Há também colunistas regulares e contribuições individuais que acabam abordando o assunto com maior ou menor propriedade. Há também matérias que tratam do assunto indiretamente, como uma da Folha de S. Paulo que será abordada neste artigo, e as propagandas que utilizam imagens do trote. Nestes dois últimos casos, em geral, os problemas são sérios e as distorções da linha editorial são grandes. Outras vezes, os próprios editoriais deslizam e acabam aceitando parte do trote como brincadeira.
Na realidade, falta pesquisa científica e investigação jornalística séria. Há muito mais a descobrir do que aquilo que aparece na mídia. Há instituições de ensino onde o trote é severo faz tempo, sem que quase nada seja publicado a respeito. As publicações se concentram em torno de feridos e mortos, deixando de lado a violência cotidiana e menos espetacular de certas práticas do trote.
No entanto, se bem investigada, esta violência cotidiana e não espetacular talvez se revele tão grave quanto aquela que produz feridos e mortos. Seria necessário responder com precisão a perguntas como: quais são os custos psicológicos e sociais da exposição de jovens às atividades do trote? Quais os prejuízos acadêmicos que o trote causa? Em função dele há desistência de alunos, reprovações, notas mais baixas? Que tipo de imaginação social este trote estimula? Há relações entre trote e autoritarismo? Quem são as vítimas mais freqüentes do trote? O trote é uma forma de exclusão social? Em outras palavras, os mais afetados são os socialmente mais fracos, os pobres, as mulheres, os negros e outras minorias? Quais as relações entre trote e preconceito? Quais os efeitos do trote na formação moral dos alunos? Quem são os principais "trotistas" entre os alunos? E entre os professores? Que tipo de mentalidade o trote revela? Quais são os mitos que os "trotistas" pregam para justificar seus atos? Os ingressantes são realmente livres para aceitar o trote? A aceitação do trote se assemelha à aceitação da escravidão e, por isso, deveria ser proibida, como é proibida a aceitação desta?
Máfias profissionais
Para a mídia, seria necessário debater: quais são as posturas adequadas no tratamento do trote? Como utilizar imagens do trote em veículos de grande circulação? Quais os efeitos das imagens atualmente em uso sobre os adolescentes? Como fazer publicidade de colégios, de cursinhos e de produtos para universitários sem mostrar o trote como algo natural e alegre? Quais outras imagens poderiam ser empregadas para representar a entrada na universidade? Como fazer campanhas publicitárias de combate ao trote? Como noticiar o trote sem cair na ambigüidade?
Muitas vezes, na cobertura da mídia, fica a impressão de que a violência espetacular é um raio num céu azul. Coisa de um ou outro pervertido. Fato isolado. Não se desvenda suficientemente a relação entre trote visível e invisível. Não se desvenda a relação entre a violência cotidiana e a que produz feridos e mortos. Há muito mais a revelar.
Alguns dirigentes universitários também foram "trotistas" durante sua graduação, e não vêem maiores males no trote. Ao contrário, sentem-se favorecidos por sua existência. Sentem que os alunos "trotistas", que precisam de cobertura para atuar, são aliados na luta pelo poder na universidade. Apesar dos méritos acadêmicos que possam deter, às vezes falta-lhes sensibilidade e formação humanística. Por isso, tendem a encobrir a violência existente nas unidades sob sua administração. Em alguns casos, no exercício de suas atividades cotidianas nos campi, acabam se aliando aos "trotistas". O que queremos dizer é que os dirigentes das universidades precisam manter fortes vínculos com o corpo discente. Não apenas para os assuntos propriamente acadêmicos, mas também para a elaboração de atividades extra-curriculares (atividades culturais, de extensão, congressos etc.). Em certos campi, são alunos "trotistas" que ocupam as órgãos de representação discente, com o apoio e orientação dos "trotistas" que chegaram à docência e mesmo ao topo da hierarquia universitária.
O trote pode ser entendido como uma porta de entrada para formas perversas de corporativismo. Espécies de "máfias profissionais" recrutam participantes no trote. Maus profissionais são premiados por sua submissão ao trote, enquanto bons profissionais acabam excluídos por terem resistido. Talvez, por isso, o trote seja tão persistente. Mas os ataques à prática não se dirigem aos alvos corretos. Ao atacar o trote, devemos ter sempre em conta que os alunos são apenas soldados de uma hierarquia que conta também com generais.
Brincadeira "divertida"
Em muitos casos, o trote funciona como um tipo de teste moral ou de falta de moral. Aqueles que são dotados de princípios éticos e humanos mais arraigados, e por isso não querem se submeter ao trote, acabam sofrendo processos de exclusão profissional mais ou menos violentos. É como se as corporações de "trotistas" não quisessem os profissionais éticos. Talvez porque eles sejam perigosos. Talvez sua honestidade e ética possam pôr em risco os ganhos ilícitos de alguns. Mas, tal tipo de consideração e de investigação raramente aparece na mídia. O que se vê, em muitos casos, são argumentos banais e sem nenhuma profundidade.
Atualmente, a Rede Globo está retratando a vida na universidade na novela Coração de estudante". Nessa novela, houve várias cenas de trote e da relação dos ingressantes com os "veteranos". A violência das cenas pode ser constatada pela foto publicada pela Folha de S. Paulo, no dia 24 de fevereiro de 2002, no TV Folha, página 7.
Na foto, podemos ver uma garrafa de bebida nas mãos de um estudante ao fundo. Em muitas ocasiões, no trote, o consumo de álcool é imposto aos alunos ingressantes. Certamente, este consumo está na raiz de muitas violências cometidas. Durante seus cursos universitários, muitos alunos consolidam tendências anteriores ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas ou ingressam nesta forma de vício.
Nesta foto, a Folha de S. Paulo mostra o trote como algo muito divertido. Tudo parece uma brincadeira. Nela, o "calouro" está imobilizado, com os braços e pernas presos por outros estudantes. O "calouro" tem no rosto uma expressão entre a dor e o prazer. Situação característica do masoquismo/sadismo. Em relação ao trote, não se leva a sério o problema do masoquismo/sadismo. Por que a vítima se submete? Por que reproduz o mesmo comportamento no ano seguinte?
Cronologia do trote
Sabe-se que o trote envolve sadismo. Até aqueles que defendem, na mídia, algumas de suas formas admitem isso. Como podemos perceber na entrevista com Içami Tiba para a revista Época de 1/3/99, página 43:
"Época: É bom existir este ritual [trote]?
Tiba: Sim, é bom. É aquele momento no qual o calouro fica como que embriagado pela euforia e faz coisas que normalmente não faria. Já o veterano extravasa suas neuroses e, em certos casos, chega até a dar vazão ao sadismo."
Este trecho é um exemplo da cobertura ambígua da mídia. Em meio ao choque causado pela morte do estudante de Medicina da USP Edison Tsung Chi Hsueh, a Época ouve um autor de livros de psicologia também descendente de "asiáticos", que dá uma declaração favorável ao trote e ao sadismo que este implica. Uma defesa nada sutil do trote e, como se queria estabelecer claramente, "sem preconceitos".
Geralmente, as escolas de Jornalismo e outras ligadas ao ramo de comunicação promovem uma formação humanística forte. Este tipo de escola tende a ter um trote "mais leve". Talvez por isso, muitas vezes, os profissionais de mídia encarem o trote como um problema menor e relativamente inofensivo. Seria bom que estes profissionais fizessem uma reflexão séria sobre os problemas do trote. Eles vêm de longa data e as soluções apresentadas como novidades já resultaram em fracassos no passado.
O quadro apresentado a seguir não tem nenhuma pretensão de esgotar os eventos relacionados ao trote. Ao contrário, sabemos que a maior parte das vítimas do trote não chega a virar notícia. Nossos arquivos sobre o trote também estão longe de ser completos. Ele pode ser considerado um ponto de partida para maiores investigações
Pequena cronologia do trote
29/3/1831 ? Morte de Francisco da Cunha e Meneses com uma facada e bengaladas por Joaquim Serapião de Carvalho, em Recife.
1850 ? Reação ao trote dos alunos de primeiro ano da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Intervenção do subdelegado da Sé.
1861 ? Espancamento do aluno de 5? ano Stockler de Lima, que tentava proteger seu irmão. Entre outros responsáveis estão Theophilo Carlos Benedito Ottoni (filho do futuro governador de Minas Gerais) e Manoel Ferraz de Campos Salles (futuro presidente da República). Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, São Paulo.
1862 ? Devido aos incidentes do ano anterior, não houve trote na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
1874 ? O futuro senador Pinheiro Machado (1? ano) é esbofeteado por Joaquim Ferreira Velloso (2? ano), na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
9/9/1878 ? Resistência dos alunos de 1? ano à extensão do período de trote; a polícia é obrigada a intervir. Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
1881 ? Fundação do Clube Antitrote 9 de Setembro, por Raul Pompéia (autor de O Ateneu). Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
1965 ? Portaria do reitor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) proibindo o trote.
1968 ? Universidade do Paraná proíbe o trote.
1970 ? Calouro do interior de São Paulo fica cego devido aos ferimentos provocados por ácido que lhe jogaram no rosto.
1971 ? Reitoria do Mackenzie proíbe o trote. A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco institui o "trote cultural".
1972 ? A Escola de Comunicação e Artes da USP institui a doação de livros à biblioteca. Mackenzie institui o "trote verde", com plantio de árvores.
1975 ? Mais de 50 alunos de 1? ano são queimados com cal e acabam no Pronto Socorro Municipal. Faculdade de Engenharia, Universidade Federal do Paraná.
3/3/1980 ? Por se recusar a deixar cortar o cabelo, Carlos Alberto Souza (1? ano) é espancado por Nelson Tadeu Cancellara. Após uma semana de coma, o calouro morreu. O "veterano" foi condenado a cinco anos de reclusão. Universidade de Mogi das Cruzes, SP.
3/3/1980 ? Erivan Silva Melo, de 12 anos, matriculado na 5? série, morre após passar por um "garrafão" ("corredor polonês"). Escola Polivalente de Conceição do Almeida, BA.
1980 ? Calouro amarrado a trilhos de trem morre de enfarte. Academia Militar do Realengo, Rio.
2/1990 ? Luciane Mendes da Silva Andrade, de 22 anos, precisa raspar todo o cabelo após ser pintada com tinta acrílica e cola. Por este motivo, teve problemas com a filha e com o trabalho. Como compensação, a escola concedeu-lhe bolsa de estudos durante um período. Organização Santamarense de Educação e Cultura (OSEC), SP.
3/1990 ? George Araguaia Parreira Mattos, de 23 anos, morre de enfarte ao fugir do trote. Fundação de Ensino Superior de Rio Verde, GO.
2/1991 ? Confundido com calouro do ensino médio, Júlio César de Oliveira, de 16 anos, aluno da 8? série, morre após receber três tesouradas. Fundação Instituto Tecnológico de Osasco, SP.
4/1991 ? Márcio Aciolly denuncia tortura de 30 horas. Universidade Federal da Bahia.
1991 ? Abrão da Silva Lemos é amarrado pelos pulsos e arrastado até sangrar. UFMS.
4/1992 ? Alexandre Spencer Vasconcelos, de 20 anos, é expulso da PUC-Campinas. A vítima de suas agressões, José Ribeiro Pinto, de 23 anos, sofreu fratura na mandíbula, o que lhe provocou amnésia.
1992 ? Roberto Alcântara de Oliveira é hospitalizado após ser espancado por três "veteranos". Curso de Educação Física da Faculdade Maria Tereza, Niterói, RJ.
3/1993 ? Após ter um peso de sete quilos amarrado aos genitais, Ugo Boattini Jr., de 19 anos, abandona o Curso de Engenharia da Unesp, Guaratinguetá, SP.
2/1994 ? Em Campinas, SP, 20 alunos de 1? ano são queimados com nitrato de prata. Escola Técnica Conselheiro Antônio Prado.
7/3/1994 ? Sara Colombini desiste do curso devido ao trote na Unimep, Piracicaba, SP.
2/1997 ? Felipe Marques Barbieri, de 15 anos, é internado com queimaduras de 2? grau provocadas por produtos químicos.
12/1997 ? A Unicamp proíbe o trote.
1997 ? Durante horas, calouros permanecem amarrados a postes e são obrigados a engolir álcool puro. Faculdade de Medicina da Unesp. Flávia Renata Rufino, de 18 anos, é levada ao hospital por intoxicação, após ser pintada e ter uma reação alérgica. Faculdade de Direito da Unimep, Piracicaba, SP.
16/2/1998 ? Cinco alunos do 1? ano são hospitalizados após serem obrigados a ingerir aguardente. Geociências da USP
2/9/1998 ? A psicóloga Maria Regina Barbosa denuncia que aluno suicidou-se em julho do ano anterior devido ao trote. O presidente da Comissão de Recepção aos ingressantes denuncia ausência de apoio da diretoria a medidas contra o trote. Esalq, USP.
1998 ? Dois estudantes e um médico residente atearam fogo a um aluno de 1? ano que dormia. Medicina de Sorocaba. Nove veteranos são punidos por algemar calouros e fazê-los comer grama. Unicamp.
22/2/1999 ? Devido ao trote, Edison Tsung Chi Hsueh morre afogado na Associação Atlética do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz. Faculdade de Medicina da USP.
2/1999 ? Eric Morita é espancado por não concordar com o trote. Zootécnica da Universidade de Marília, SP.
27/4/99 ? A Universidade de São Paulo proíbe o trote.
28/4/99 ? Cerca de 150 "calouros" e "veteranos" brigam, deixando seis alunos de primeiro ano feridos. São utilizadas bombas pelos "veteranos". Faculdade de Engenharia da Uerj, Rio.
30/4/1999 ? Luciana Gomes de Araújo e Flávio Moreira de Oliveira são punidos com 10 dias de suspensão por promoverem festa onde ocorreu trote violento. Uerj.
5/5/1999 ? Alunos fazem protesto em frente à diretoria para exigir que o ginásio de esportes seja cedido para o Baile do Bicho. EsalqUSP.
1999 ? Alunos abrem um hidrante e inundam a biblioteca de Filosofia, comprometendo muitos livros raros e caros. Unicamp.
7/2/2002 ? Por se recusar a deixar cortar o cabelo, Felipe Andrade Castro Carvalho Matos recebe uma tesourada no abdômen. Faculdade de Comunicação da Unisantos.
Fontes
Mattoso, Glauco (1985). O calvário dos carecas. São Paulo, EMW Editores.
O Estado de S. Paulo; Folha de S.Paulo; Correio Popular (Campinas); Jornal de Piracicaba; Todo Dia (Americana), Jornal da PUC-MG, Jornal da UNESP, Jornal da UFMS. Época; Veja.
(*) Professores do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq ? USP. E-mail: <almeidaj@esalq.usp.br>