Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Armando Antenore

NOTÍCIAS POPULARES

"Lendas urbanas do ?Notícias Populares?", copyright Folha de S. Paulo, 21/04/02

"?Eu aumento , mas não invento.? O capcioso lema de Nelson Rubens, o fofoqueiro da televisão, serviu muitas vezes como uma luva para o ?Notícias Populares?. O diário, velho conhecido dos paulistanos, circulou entre 1963 e 2001. Em 1965, se tornou propriedade do Grupo Folha. Com manchetes estapafúrdias, que exploravam o humor e o duplo sentido, virou um clássico do sensacionalismo. Um titã do gênero ?espreme-que-sai-sangue?.

Não raro, engolido pelas letras garrafais do ?NP?, o leitor se confundia: será que aquela reportagem, aquela foto, aquele título retratavam mesmo os fatos ou tudo não passava de ficção? A barafunda, no entanto, em vez de afugentá-lo, seduzia-o.

Quem comprava o jornal sabia (ou, pelo menos, pressentia) que participava de uma espécie de jogo. Algo do tipo: ?Onde está a realidade??. Como nos livrinhos de Wally, o personagem que se camuflava em meio às ilustrações, a verdade, no ?Notícias Populares?, se escondia atrás dos exageros, do palavreado chulo, dos truques lingüísticos. Sempre, porém, se encontrava em algum lugar. O ?NP? orgulhava-se de não mentir.

O diálogo que a publicação promovia entre o concreto e o ilusório é o principal assunto de ?Nasceu o Bebê Diabo em São Paulo?. Dirigido por Renata Druck, o documentário resgata três casos que o jornal explorou à exaustão.

O da loira fantasma (e assassina) eclodiu em 1975. No mesmo ano, também veio à tona o episódio que inspirou o nome do vídeo – a saga de um neném que teria nascido com pêlos, dois chifres e um rabicho.

Finalmente, na década de 90, pipocaram os relatos sobre a gangue do palhaço, bando de facínoras que atraía criancinhas da periferia e lhes retirava os rins, os pulmões, as córneas.

Em tom jocoso, o documentário convoca um repórter para investigar os casos e descobrir o que possuíam de real. O jornalista aceita a tarefa e sai a campo, procurando pessoas que se relacionaram direta ou indiretamente com as três histórias. Ouve colegas de profissão, ex-leitores do ?Notícias? e outros tantos anônimos.

Conclui, claro, que nada daquilo existiu. Ou melhor: que existiu apenas como boato. Um boato que o ?NP? não criou, mas que espertamente garimpou no cotidiano de São Paulo e ajudou a disseminar, com o aval entusiasmado do público.

A maior conclusão do repórter, portanto, fica implícita: a de que, na seara da imprensa sensacionalista, ninguém é inocente."

 

AUGUSTO NUNES vs. ROBERTO JEFFERSON

"Augusto Nunes aciona deputado por crime contra a honra", copyright Consultor Jurídico in Boletim Imprensa Ética, 22/04/02

"O jornalista Augusto Nunes, diretor do Jornal do Brasil que já dirigiu também O Estado de S.Paulo, o jornal Zero Hora e a revista Época está acionando criminalmente o líder do PTB na Câmara, deputado Roberto Jefferson. O deputado petebista, que se tornou famoso por andar armado, mesmo no Congresso, e que costuma ameaçar fisicamente seus desafetos, enviou um fax para a redação do JB, mostrando sua irritação com as críticas que recebeu do jornalista. No fax, Jefferson chama Nunes de ?veado debochado e acólito de aluguel?, ?escroto?, ?covarde?, ?pusilânime? e ?proxeneta?.

Augusto Nunes, depois de se certificar da autenticidade do fax, decidiu processar o deputado e deu sua resposta na edição desta segunda-feira (22/4) do JB.

Leia o texto em que o jornalista responde ao deputado:

O chilique do deputado

Com quase 150 quilos, o deputado Roberto Jefferson, no começo dos anos 90, transformou diagnósticos de obesidade mórbida em salvo-condutos para assaltar geladeiras e freezers nas casas de amigos à época poderosos, como Fernando Collor ou PC Farias. Hoje, redesenhado pela cirurgia que lhe reduziu o estômago, Jefferson jejua em endereços tão cobiçados quanto nos velhos tempos. ?Só preciso de um celular para marcar encontro com o Fernando Henrique?, diz o agora líder do PTB na Câmara. Ele também se gaba de entrar sem bater nos gabinetes do senador José Serra, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto.

Jefferson é mesmo tratado com muita deferência pelo presidente da República, saúda Serra com desembaraço de compadre e, nas visitas à corte, parece em casa. Isso tudo apesar de comandar um dos partidos da coalizão que, liderada pelo PPS e completada pelo PDT, apóia Ciro Gomes.

O candidato da ?Aliança Trabalhista? também dispensa a Jefferson cuidados de noivo. Compreende-se. Em parceria com José Carlos Martinez, presidente do partido, Jefferson controla o PTB. Por isso, é mais que um deputado: é um punhado de minutos, que a legenda usará diariamente ao longo da campanha eleitoral.

Arrogante vocacional, temperamento que se tornou ainda mais irritadiço depois da supressão das arrobas de comida com as quais se empanturrava, Jefferson costuma perder definitivamente a linha quando criticado. Na última segunda-feira, esta coluna fez uma constatação: se o senador Roberto Freire, presidente do PPS, aplicasse aos companheiros de caminho os critérios com os quais julgara o PFL, admitiria que também Jefferson pertencia ao que houve de pior no passado recente do Brasil. A reação traduziu-se no fax enviado à redação do JB em 15 de abril. Peço licença (e desculpas) aos leitores para reproduzir, sem correções gramaticais nem censura, o que é, a rigor, um retrato em três por quatro do líder do PTB:

?Augusto Nunes,

Não o contemplo com indulgência até porque você não merece. Indulgência se dá aos corajosos, lutadores ou perseguidos, não é o seu caso. Do que conheço de sua história, ela tem o enredo do ?Pistoleiro da Mídia? aquele que vive para alugar a pena de acordo com seus interesses pecuniários. Sou admirador dos homossexuais assumidos, quanto àqueles que bebem e se tornam veados por algumas horas e no dia seguinte esqueceu do que praticou não me merece respeito.

Você não conhece minha história nem a do PTB. Como um veado debochado e acólito de aluguel não tem um pingo de seriedade no que escreve. Seus leitores ignoram o verdadeiro escroto, covarde, pusilânime e proxeneta que você é.

Roberto Jefferson?.

Confrontado por repórteres deste jornal com uma cópia do fax, Jefferson confirmou a autoria do texto. Deve ter deduzido que este colunista, a exemplo de outros destinatários de mensagens semelhantes, acabaria poupando os leitores da contemplação do pântano onde o deputado gosta de chapinhar. Equivocou-se.

Confiante, repetiu as bravatas de sempre. Disse que costuma resolver polêmicas ?no braço?, proclamou-se ?ótimo atirador? e, depois de explanar sobre a coleção de armas que jura possuir, avisou: não hesitará em usá-las.

O bilhete de Jefferson tornou-o objeto de ação penal por crime contra a honra, movida pelo signatário. Não custa lembrar ao ministro da Justiça que temos um pistoleiro confesso à solta no Legislativo. Só que esse tipo de gente apenas me diverte.

O currículo do nosso ?atirador? informa que, até agora, Jefferson só matou a própria fome, usando gigantescas balas de chocolate. O texto do fax acrescenta que se trata de um assassino de vírgulas e atropelador de concordâncias.

Na coluna anterior, qualifiquei-o de representante do que houve de pior no passado. Corrijo-me: Jefferson representa o que há de mais detestável também no presente. A sorte do Brasil é que, para políticos assim, já não existe futuro."

 

LEI DA MORDAÇA

"Lei da Mordaça no Rio é revogada", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 15/04/02

"Na última sexta-feira (12/4), o Estado do Rio revogou a Lei da Mordaça imposta aos policiais. A partir de agora, a Secretaria de Segurança Pública poderá divulgar estatísticas oficiais de criminalidade para que estas possam ser utilizadas como instrumento na elaboração de medidas preventivas de segurança. Pesquisadores de instituições acadêmicas e organizações não-governamentais terão acesso aos dados.

A secretaria foi alvo de censura no governo de Anthony Garotinho, atual candidato à Presidência da República pelo PSB. Ele passou a dificultar o acesso de pesquisadores e estudiosos aos números da violência no Rio."