Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

OESP

COLÔMBIA

"Ameaças levam Colômbia a oferecer TV a candidatos", copyright O Estado de S. Paulo, 16/04/02

"Um dia depois da tentativa de assassinato do favorito nas eleições presidenciais de 26 de maio na Colômbia, Alvaro Uribe, o governo colombiano propôs ontem aos candidatos a utilização dos três canais públicos de TV para diminuir o risco de novos ataques e seqüestros. Uribe – um dissidente do Partido Liberal acusado de cooperar com os paramilitares direitistas e de pregar uma política de mão de ferro contra os guerrilheiros esquerdistas – escapou ileso no domingo de um ataque com um ônibus-bomba, que deixou 3 mortos e 20 feridos, após um comício em Barranquilla.

Outra candidata presidencial, a do Partido Oxigênio Verde, Ingrid Betancourt, foi seqüestrada pela guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em fevereiro quando se dirigia a San Vicente del Caguán – na área desmilitarizada controlada pelas Farc até o rompimento do diálogo de paz entre os rebeldes e o governo – para um comício de campanha.

?Propomos a todos os candidatos mudarem a estratégia de campanha por meio de uma participação mais ampla nos três canais públicos de televisão, que lhes oferecem uma cobertura maior e menos arriscada para suas vidas?, disse o ministro do Interior, Armando Estrada. O ministro acrescentou que, caso os candidatos decidam prosseguir realizando seus comícios em praça pública, o governo reforçará seu aparato de escolta, veículos blindados e equipamentos de segurança.

O candidato que ocupa o segundo lugar nas pesquisas, Horacio Serpa, do Partido Liberal, disse acreditar que todos os aspirantes à presidência estão em risco com o aumento da intensidade do conflito armado que já dura 38 anos e, na última década, deixou cerca de 35 mil mortos.

O ataque de domingo, atribuído às Farc, se somou a outros ataques frustrados contra Uribe. Em setembro de 2001, também em Barranquilla, uma bomba explodiu durante a passagem de sua caravana, sem deixar feridos.

O candidato a vice na chapa de Uribe, Francisco Santos, declarou que o planejamento da campanha deve ser revisto. ?Imagino que muitos dos atos terão de ser transferidos para locais fechados, com muita segurança na entrada?, afirmou.

Uma pesquisa divulgada ontem, realizada antes do atentado a Uribe, indicava que ele mantinha a liderança, com 46,1% dos votos, seguido de Serpa, com 18%, e Noemí Sanín, independente, com 9,2%.

Os candidatos se reuniram ontem com o presidente colombiano, Andrés Pastrana, para discutir questões ligadas à segurança da campanha.

Pastrana – do Partido Conservador, cujo candidato presidencial renunciou para apoiar Uribe – deve se encontrar hoje, em Washington, com o presidente americano, George W. Bush. Ele pedirá a extensão da cooperação militar dos EUA contra o narcotráfico à luta contra as guerrilhas."

 

ITÁLIA

"Berlusconi ameaça jornalistas da RAI que o criticam e abre crise", copyright Folha de S. Paulo / The Independent, 20/04/02

"Apesar de ter prometido solenemente não interferir na administração da televisão pública italiana, parece que o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, não consegue deixar de fazê-lo.

O grande empresário da mídia acaba de provocar um novo e acirrado desentendimento na imprensa, ao acusar dois jornalistas e um humorista de destaque de fazerem ?uso criminoso? da emissora estatal RAI.

A família de Berlusconi já é proprietária de três redes de TV privadas nacionais, e, com o predomínio que o governo exerce sobre a RAI, o premiê já influi sobre 90% das rádios e TVs italianas.

Os comentários de Berlusconi foram feitos apenas dias depois de aliados seus na coalizão governista terem sido nomeados diretores de programação e notícias em dois dos três canais da RAI.

Os acusados pelo premiê são Enzo Bigi, nome muito respeitado do jornalismo impresso italiano e que assina uma coluna diária de comentário político, o apresentador de ?talk show? Michele Santoro, de linha esquerdista, e o humorista satírico Danielle Lutazzi.

Para Berlusconi, Bigi o desrespeita desde a campanha eleitoral do ano passado, assim como Lutazzi, que deu espaço ao autor de um livro contendo denúncias contra o premiê. Santoro, por sua vez, cantou em seu programa uma música antifascista do tempo da 2? Guerra -a coalizão de Berlusconi inclui neofascistas.

?Eles fizeram uso criminoso da televisão pública?, disse Berlusconi na Bulgária, durante visita oficial, acrescentando que, se quiserem continuar a trabalhar para a RAI, os três deveriam modificar sua atitude.

Na sexta-feira, diante das reações de furor suscitadas por sua iniciativa, o premiê negou que tivesse pedido a demissão dos três, mas a oposição já o acusa de se preparar para realizar um expurgo na RAI, eliminando qualquer fonte de dissidência política na emissora.

O uso de influência política direta sobre a RAI não é novidade. No passado, os cargos de direção na emissora eram divididos entre os principais partidos políticos, e a cobertura feita por cada canal refletia seu respectivo patrono político.

Mas o fato de a família de Berlusconi também ser dona da principal concorrente traz a perspectiva de um quase monopólio sobre a televisão italiana.

A iniciativa de Berlusconi provocou uma repreensão mal velada do presidente Carlo Azeglio Ciampi, que disse que a autonomia editorial é elemento fundamental da democracia moderna.

?Nada pode justificar uma caça às bruxas empreendida contra jornalistas e ordenada com voz autoritária pelo proprietário da Mediaset [grupo de comunicação? e primeiro-ministro, Silvio Berlusconi?, disse o jornal ?Il Foglio?, pertencente em parte à mulher de Berlusconi."

 

"Jornalistas param, antecipando greve italiana", copyright O Estado de S. Paulo, 16/04/02

"Jornalistas e funcionários de editoras italianas paralisaram ontem jornais e agências noticiosas, antecipando-se à greve geral de um dia convocada para hoje pelas três maiores centrais sindicais, para protestar contra reformas da lei trabalhista pretendidas pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi. ?Dessa forma, não haverá jornais nesta terça-feira?, disse Sergio Cofferati, presidente da esquerdista Confederação Geral Italiana dos Trabalhadores (CGIL) – a maior central do país, com 5,4 milhões de filiados.

Os três canais de TV da estatal RAI vão exibir apenas filmes e musicais.

Cofferati acha que a maioria esmagadora dos 12 milhões de trabalhadores italianos cruzará os braços na primeira greve geral de 24 horas dos últimos 20 anos.

Basicamente o que os sindicatos estão exigindo do governo é a manutenção do artigo 18 da legislação trabalhista, que garante ao trabalhador demitido sem justa causa a reincorporação nos quadros de funcionários da empresa.

Berlusconi quer eliminar esse dispositivo por considerar que ele ?sufoca? as empresas e propõe a troca da reincorporação por indenização. Os sindicatos consideram o artigo a ?pedra angular? da legislação e rejeitam a oferta do primeiro-ministro. ?O país não tem recursos para a formação de um fundo indenizatório?, argumenta Savino Pezzota, líder da democrata-cristã Confederação Italiana Social do Trabalho (CISL) – segunda central sindical, com 4 milhões de membros.

Berlusconi exortou os líderes sindicais a retomarem o diálogo, mas deixou claro que as reformas serão mantidas ?por serem indispensáveis à adequação da legislação da Itália às dos demais parceiros do país na União Européia?.

Cofferati destacou que pode voltar à mesa de negociação com o governo, porém jamais abrirá mão do artigo 18. As lideranças sindicais acham que se a emenda passar no Parlamento, haverá uma onda incontrolável de demissões no país. ?Os trabalhadores serão os ?únicos prejudicados?, acrescentou ele, reafirmando a disposição dos sindicatos de ?derrubar? o projeto de Berlusconi – apontado como o empresário mais rico da Itália.

?Nada nem ninguém vai parar as reformas?, reafirmou o primeiro-ministro que, no entanto, se disse ?completamente aberto ao diálogo? com a classe trabalhadora. Ele chegou mesmo a se comparar à ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que impôs uma dura derrota aos poderosos sindicatos britânicos na década de 80. ?Se Berlusconi realmente quer retomar o diálogo conosco, comete um enorme erro usando Thatcher como modelo?, retrucou Cofferati. ?Esta será uma greve a favor dos direitos e contra arbitrariedade?, acrescentou o líder sindical, que no fim do mês passado reuniu cerca de 2 milhões de trabalhadores no centro de Roma para protestar contra iniciativa do governo.

Luigi Angeletti, da centrista União Italiana dos Trabalhadores (UIL), com 2 milhões de membros, assegurou que hoje serão paralisadas fábricas, comércio, bancos, escolas, serviço público e todo o sistema de transporte – aeroportos, metrôs, trens, ônibus e cargas. A Alitalia – que transporta 30 mil passageiros por dia – cancelou 271 de seus 374 vôos diários. Os serviços de saúde vão funcionar em regime de plantão.

Segundo os líderes sindicais, a paralisação é um protesto também contra a austera política econômica e em favor da adoção de uma política social mais abrante no país.

Cofferati, líder da esquerdista CGIL, marcou uma manifestação para Florença, onde vai discursar e espera reunir pelo menos 200 mil pessoas.

Pezzota, da democrata-cristã CISL, vai se dirigir aos trabalhadores em Milão, apontada como a capital econômica do país. Ele espera lotar o centro da cidade.

Angeletti, da centrista UIL, escolheu Bolonha para fazer seu pronunciamento.

Por sua vez, o presidente da Confederação das Indústrias, Antonio D?Amato, que esteve com Berlusconi, lamentou: ?Só demos pequenos passos.? Mas o líder italiano insistiu: ?A greve vai paralisar uma parte do país, mas não vai impedir meu governo de modernizá-lo.?"