Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ivan Angelo

SAIA JUSTA

"Uma agradável conversa entre mulheres", copyright Jornal da Tarde, 20/04/02

"?Saia Justa? – o mundo sob um olhar feminino. Nos áureos tempos da TV Cultura, havia um programa justamente com esse nome, ?Olhar Feminino?. Durou pouco. Era amplo, mas não soube se descolar daquela pauta de revista feminina; na verdade, o programa era quase uma ?Cláudia? televisiva. O ?Saia Justa?, lançado agora pelo canal GNT (no ar todas as quartas-feiras, às 21h), tem pouca pré-produção, aposta no improviso, na visão de mundo de quatro mulheres de sucesso reunidas para… para fazer o que as mulheres gostam e fazem melhor do que os homens: conversar. Não discutir, nem debater: conversar. Uma não quer convencer a outra de coisa nenhuma – o que seria um jeito masculino de conversar, o jeito masculino de ter uma opinião. O assunto em si é que seduz a mulher, ser contemporânea dele é tudo o que ela quer.

O nome do programa limita um pouco, empurra o telespectador para a expectativa de que elas vão falar mal de alguém, contar fofocas como nos programas vespertinos. Mas é um nome que, nesse começo, serve para dar um rumo ao programa, não deixá-lo à deriva. Com o tempo, talvez vire apenas um nome.

As quatro mulheres – jornalista Mônica Waldvogel, atriz Marisa Orth, escritora Fernanda Young e cantora Rita Lee – estão na delas. A intenção, claro, não era reinterpretar o mundo, senão teriam chamado as filósofas Marilena Chauí e Olgária Matos. É um programa para quem gosta do jeito das mulheres, ri com elas, pisca com elas, é capaz de certa cumplicidade com o mundo delas.

Rita Lee disse que estava ali ?pela farra?: ?Desde o colégio não tenho contato com garotas.? Tratou as viagens da sua vida de artista com humor: ?Põe a véia na estrada, tira a véia da estrada.? Usava uma camiseta com um painel de vulvas, chamou a atenção para elas e disse candidamente que havia comprado numa loja punk. Escandalizou as outras quando disse sobre Roseana Sarney: ?Eu acho que ela é sexualmente fria.? Fernanda Young exclamou em primeiro-plano, deliciada e chocada por ter ?a véia? ido tão longe: ?Rita!? Ela mesma definiu Roseana como ?micão?.

Fernanda é co-autora, junto com o marido, dos textos de ?Os Normais?, da Rede Globo. Aproveitou para falar do programa: ?Me realiza ideologicamente.? Havia intenção nisso; quem for falar do programa tem de levar em conta essa palavra, ?ideologicamente?. Como quem diz: aquilo não é um besteirol. E disse mais: ?Tem uma qualidade de humor que prova que o brasileiro não é burro.? Significa: se fosse, o programa não teria vingado. Falou um texto seu que discute as contradições desse conceito: mulher moderna. ?A mulher moderna está cansada de não ser moderna.? Marisa e Mônica transplantaram a contradição para a vida prática.

Enfim: o programa promete. No começo, quando vieram com astrologia, temi. Astrologia introduz uma suspeita de leviandade, embora muita gente não ache. Abre espaço para quem diz: não levo a sério gente que leva horóscopo a sério. Depois, a conversa se ampliou, falaram de muita coisa interessante e atual, com um múltiplo olhar feminino. Foi bom, considerando o nervosismo da estréia. Pelo menos, segundo Rita Lee, ninguém falou galera, com certeza, a nível de, ou tá tendo, vou estar fazendo etc.

Vamos nos acostumando

Quem assistiu ao jogo-treino da Seleção contra Portugal e se incomodou com as falhas do trabalho da Globo pode ir se acostumando: vai ser assim. Até os 15 minutos de jogo, locutor e comentaristas não haviam ainda falado no isolamento de Ronaldo lá na frente. Galvão contava casos e falava do andamento de jogos-treinos de outras seleções, como se fosse importantíssimo àquela altura. Só aos 18 minutos, mais atento, ele diz que não havia ?nenhuma espécie de entrosamento? na equipe, já dando sinais de desespero na voz. Justamente na hora em que começa a haver algum entendimento entre os armadores e o ataque. Aos 21 minutos, o velho Ronaldo ressurge, e Galvão reassume seu posto de torcedor número um. Cometíamos mais faltas do que os portugueses, mas aos 32 minutos Galvão se indigna: ?Batem por trás, batem de todo jeito? – xenofobia com direito a microfone. Cafu, que não defende bem e cruza mal, como sempre é tolerado pela equipe da Globo, sabe-se lá por quê. Vez por outra, a tal tevê interativa entra atrapalhando a imagem, justo onde a bola está. Já imaginaram isso num jogo para valer, nervoso?

No dia seguinte, Sérgio Noronha analisava direitinho o jogo no ?Bom Dia Brasil?, exaltava o Brasil do primeiro tempo, as atuações de Ronaldinho, Ronaldo e Rivaldo, e aí o comentarista Maurício Torres interveio especulando se não haveria problema de jogarmos com Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho, que atuam na mesma posição. Ora, meu Deus, se o time foi melhor com os dois juntos, por que haveria problema?"

"GNT reúne comadres com Q.I. em ?Saia Justa?", copyright Folha de S. Paulo, 17/04/02

"O programa Saia Justa, que estréia hoje no canal GNT, é acima de tudo um grande encontro de comadres. Mas comadres inteligentes e com estilo, diga-se de passagem. Para encabeçar esse ?tricô? com Q.I., a emissora recrutou quatro mulheres, que são nomes de destaque em suas respectivas áreas de trabalho: a jornalista Mônica Waldvogel, a roqueira Rita Lee, a atriz Marisa Orth e a escritora Fernanda Young.

Uma vez por semana, elas discutirão, ao vivo, não só assuntos ditos do universo feminino, como moda e beleza, por exemplo, mas também se pautarão a partir de temas da atualidade. Filosofia, política, bolsa de valores, arquitetura, educação, entre outras vertentes, poderão perfeitamente nortear o bate-papo do quarteto, que se caracteriza pelas diferenças. Diferenças de idade, de carreira e de opiniões.

?São mulheres inteligentes, interessantes, profissionais, bem resolvidas, capazes de se sustentar sozinhas, mas que gostam da companhia dos homens?, descreve, com entusiasmo, a produtora-executiva do programa, Suzana Villas Boas. ?Elas têm comportamento feminino, com habilidade de mudar rapidamente de assunto, de conversar com entusiasmo sobre cada um deles e de usar o corpo na hora de falar.?

Segundo Suzana, apenas Mônica Waldvogel era presença definitiva desde o início do projeto. Além de participar ativamente dos debates, a jornalista terá a função de ?mediadora? das conversas. Já as demais participantes vieram de uma longa lista de nomes. Mas no final das contas, a química entre Marisa, Mônica, Rita e Fernanda, de acordo com a produtora, não poderia ser mais perfeita. ?Até então, elas não se conheciam, apesar de uma acompanhar o trabalho da outra?, conta. O primeiro contato entre o quarteto se deu num recente show de Rita Lee, mais especificamente no camarim da cantora. ?Elas estão muito interessadas, muito curiosas umas pelas outras?, alegra-se Suzana.

Para ela, Saia Justa não deve se segmentar entre o público feminino. ?É um programa para mulheres que, atualmente, não conseguem se enxergar na televisão brasileira, mas também para os homens, que cada dia mais querem saber como essa mulherada pensa.? As quatro participantes endossam essa tese. ?A mulher não é exatamente bem representada na TV?, comenta Marisa Orth, que diz sentir falta, em especial, de programas voltados para a faixa etária dos 30 anos. ?O Saia Justa trará algo novo. Nós falamos bastante e isso é bom.?

Co-autora de sucessos na telinha, como Os Normais e Comédia da Vida Privada, a escritora Fernanda Young acredita que o programa é uma oportunidade para se dedicar a assuntos pertinentes ao universo feminino. Para ela, a relação com as novas colegas está ?deliciosa?. ?Somos diferentes, atuando em áreas diferentes?, pondera. ?Ninguém quer provar nada para ninguém. Eu sou a melhor Fernanda Young que tem, a Marisa Orth é a melhor Marisa Orth que existe e assim por diante.?

Bem-humorada como sempre, Rita Lee brinca afirmando que foi escolhida pela GNT para entrar no time por ser mais um rosto bonito. ?Eu, como elas, uma mulher à beira de um ataque de nervos, achei muita simpática a proposta do programa?, diz. ?Vou ficar olhando essas mulheres inteligentes falarem.? Cercada por homens a maior parte do dia – marido, filhos e integrantes da banda -, a roqueira garante que será ótimo passar algum tempo em companhia só de mulheres.

Em meio a essas mulheres de personalidade forte, está a não menos atuante Mônica Waldvogel, que usará sua experiência para dirigir as discussões. ?A idéia é que o papo role à vontade, mas um programa ao vivo precisa de uma ordem?, explica. ?Vamos prolongar alguns assuntos mais interessantes e diminuir outros.? Sob a direção de Ric Ostrower, Saia Justa inicialmente trará alguns quadros, como Saia Justa da Semana, citando o momento mais constrangedor de destaque nos noticiários, e Compra da Semana, com prestações de serviço."