Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Nascida sem liberdade de imprensa

ERITRÉIA

Organizações de monitoramento da mídia acusam o governo da Eritréia de forte repressão à imprensa. O país africano teria o maior número de jornalistas presos (12) no continentes. Em setembro, a Frente Popular para a Democracia, que está no poder, fechou os oito jornais privados que ainda existiam. Não foi formalizada acusação contra os repórteres, presos nas redações ou em casa. Alguns deles iniciaram greve de fome, o que fez com que fossem transferidos para local desconhecido.

Funcionários do governo disseram que alguns jornalistas foram presos porque seus jornais estariam sendo financiados por países estrangeiros. Outros teriam deixado de prestar serviço militar, obrigatório na Eritréia. O ataque à imprensa começou depois do destaque dado a críticas de altos funcionários ao regime. "Estávamos empurrando o governo para a democracia e encorajando-o a ratificar a Constituição, que segue numa confortável prateleira", conta um repórter que conseguiu fugir do país e não quer se identificar.

Yemane Gebread, conselheiro político do presidente Isaias Afewerki, diz que o governo só está reagindo à "qualidade e ao nível" das reportagens, que conteriam "muita difamação e calúnia". A situação seria temporária e logo os jornais poderiam reabrir sob licença.

O processo democrático é difícil na Eritréia, que só existe como país desde 1993, e desde 1998 está em guerra com a Etiópia por questões fronteiriças. Marc Lacey, do New York Times [5/5/02], conta que somente no mês passado os dois países aceitaram que uma comissão independente resolvesse suas divergências. Seid Abdihair, diretor do departamento de imprensa do governo, argumenta que a guerra obriga a certas limitações do jornalismo, mesmo em países antigos como os Estados Unidos.

ZIMBÁBUE

Três jornalistas foram detidos no Zimbábue por terem publicado matéria falsa sobre um homem que acusava partidários do governo de terem degolado sua mulher na frente das duas filhas. Após a divulgação da história, que virou manchete em diários ocidentais, o Daily News apurou que o homem era um trapaceiro; apesar de ter pedido desculpas na primeira página ao partido Zanu-PF, o jornal viu os repórteres Lloyd Mudiwa e Collin Chiwanza serem presos, ao lado de Andrew Meldrum, do Guardian britânico.

O grupo Media Monitoring Project of Zimbabwe (MMPZ) declarou que o incidente, embora deva ser "um exemplo para todos os jornalistas e organizações de mídia de que têm que arcar com a responsabilidade pública de reportar de forma justa e exata", condena as repressivas leis de mídia que determinaram a prisão dos repórteres. "Uma democracia civilizada não pode promulgar leis que reservam punição especial para profissionais da imprensa, pois isto representa uma redução inconstitucional do direito fundamental do indivíduo à liberdade de expressão ? mesmo quando o que ele disse é falso."

Lewis Machipisa [BBC, 6/5/02] informa que as acusações contra os três repórteres foram retiradas, mas o ministro da Informação, Jonathan Moyo, ordenou que todos os ministérios parem de anunciar no Daily News.