PALHAÇADAS ? 1
Esporte ou espetáculo? Irrelevante. O universo da Fórmula 1 encarregou-se de assumir nome e condição circenses. O elenco inteiro ? organizadores, patrocinadores, cartolas, pilotos, mecânicos, encenadores, protagonistas, coadjuvantes, fanzocas, pagantes, comunicadores, louraças e morenaças ? todos, orgulham-se em pertencer ao exclusivo clube da champanhota e da velocidade.
Dinheiro a rodo, a roda da fama não pára. A fantasia de ser herói mistura-se ao sonho de sucesso fácil. Homens vestem-se como astronautas, garotas despem-se como na Playboy.
Uma vez por ano o circo corre o mundo tentando enganar a mesmice, fingindo uma disputa que não existe, sustentada pela badalação e pelo faz-de-conta.
Sem a mídia, o Circo F-1 seria tão trepidante quando o foram no passado os campeonatos de catch as catch can. Quem sobe ao pódio é um, ganhadores são outros.
Os “especialistas” da mídia, com raríssimas e honrosas exceções, acompanham as excursões mundiais para criar com grides e pole positions as falsas expectativas e surpresas fictícias, que jornais, rádios e televisões obrigam-se a dramatizar, glamourizar e garantir patrocínios.
Nada mudará no mundo se a F-1 acabar. Experimente-se suprimir o basquete, o futebol, o tênis, o beisebol, o iatismo, a natação, artes marciais, maratonas, críquete ou a nossa popular porrinha ? será o início da 3? Guerra Mundial.
A desmoralização do Circo F-1 não ocorreu com a marmelada protagonizada pelos parceiros Ferrari, Barrichello & Schumacher. Deu-se algumas semanas antes, no GP do Brasil, em Interlagos, quando Pelé distraiu-se e esqueceu da bandeirada final. Simbólico: no picadeiro da F-1, ganhar ou perder é formalidade.
Como no Coliseu romano, a competição da F-1 só existe quando a Morte senta-se ao volante.