FÓRMULA 1
Nadja Grecov (*)
O Grande Prêmio da Áustria de Fórmula 1, disputado em 12/5, foi marcado pela intensa reação que seu desfecho causou não só no público e nos bastidores da categoria, mas também na mídia em todo o mundo. O brasileiro Rubens Barrichello estava para conquistar sua segunda vitória em quase dez temporadas na F-1, mas terá de esperar uma outra oportunidade. A três voltas do final, sua equipe, a mítica Ferrari, ordenou-lhe que deixasse seu companheiro Michael Schumacher passar e vencer pela quinta vez em seis provas. Rubinho cumpriu a ordem a poucos metros da linha de chegada, evidenciando que só não ganhou por causa do jogo de equipe arquitetado pela escuderia italiana. Schumacher, que busca o pentacampeonato este ano, lidera o certame com 54 pontos enquanto o brasileiro ocupa a quarta colocação, com 12 pontos. Com a manobra da Ferrari, a vantagem entre o alemão e o vice-líder, Juan Pablo Montoya, subiu de 21 para 27 pontos. O colombiano da Williams foi o terceiro colocado na polêmica prova austríaca.
As demonstrações de revolta e de desaprovação começaram logo após o final da corrida. Pela primeira vez em 682 GPs realizados nos mais de 50 anos da Fórmula 1, os vencedores foram vaiados pelo público presente no circuito, não obstante a cena armada por Schumacher. O alemão cedeu o primeiro lugar do pódio e seu troféu a Barrichello, considerado o "vencedor moral".
As palavras de Cléber Machado, jornalista que narrou a prova pela Rede Globo, foram as primeiras a expressar o desapontamento causado pela ordem da Ferrari, pelo menos para os brasileiros que acompanhavam pela televisão: "Barrichello vai vencer a corrida! Hoje sim! Hoje sim!! Hoje nããoooooo…". A Globo, aliás, mostrou ao vivo uma parte da entrevista coletiva feita após a prova com os três primeiros colocados, coisa que não faz habitualmente. Afinal, o que diriam Michael Schumacher e Rubens Barrichello sobre tudo aquilo?
Nos sites nacionais, predominou nas manchetes e matérias feitas logo após o GP da Áustria um tom extremamente emocional, de frustração e indignação. "Ferrari rouba vitória de Barrichello" (UOL <www.uol.com.br>) e "Marmelada na Áustria dá vitória a Schumacher" (Warm Up <www.warmup.com.br>, um dos maiores sites especializados em automobilismo do Brasil) são exemplos do que se escreveu sobre o final da corrida. Já os sites internacionais foram mais comedidos. O britânico Autosport (<http://www.autosport.com/>), da principal revista sobre o esporte do mundo, estampou um imparcial "Rubens dá passagem a Schuey"; o site do Gazzetta dello Sport <www.gazzetta.it>, maior diário esportivo da Itália, tinha como manchete "Presente de Barrichello a Schumacher".
Durante a semana, não só sites e revistas especializados mas também jornais como Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo exploraram o assunto. Isto ocorreu também na imprensa internacional, que não seguiu a imparcialidade demonstrada nos sites em um primeiro momento. O repúdio ao ato da esquadra de Maranello foi quase unânime em todo o mundo. "Farsa" e "vergonha" foram palavras que pontuaram matérias, reportagens e colunas sobre o assunto. Sobraram críticas a Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari, a Jean Todt, diretor esportivo, a Ross Brawn, o estrategista, e a Schumacher. A manchete do Gazzetta dello Sport no dia seguinte à corrida foi clara: "Ferrari estraga tudo". A Racing, principal revista brasileira sobre automobilismo, escreveu em sua capa "Scuderia Farsante" ? e cravou no título da reportagem "A Ferrari envergonhou o esporte". Já em relação a Barrichello, as opiniões se dividiram. Alguns o criticaram também, como o L?Unità ? que estampou "Rubens, pago para perder" ?, mas alguns elogiaram a postura do brasileiro, principalmente no Brasil.
Exageros foram cometidos aos montes pela imprensa. O jornal inglês Daily Mirror, por exemplo, declarou "O Fim da Fórmula 1". Ora, não foi a primeira vez que um lance polêmico aconteceu em um GP, e não será a última. Reportagens nos mais diversos veículos dedicaram-se a colher opiniões de pilotos, ex-pilotos, dirigentes e todo o tipo de fonte que tivesse algum envolvimento com o esporte. Até o suposto parecer de Enzo Ferrari, o falecido fundador da equipe, foi dado por seu filho Piero, vice-presidente da empresa ? segundo ele, o lendário Comendador aprovaria a decisão da equipe.
A mídia aproveitou para dissecar a carreira dos dois pilotos da Ferrari, as relações entre eles e com a equipe, e suas declarações sobre o ocorrido na Áustria. Muitas análises foram produzidas, com diferentes conclusões, e surgiram as mais diversas especulações sobre os motivos e as conseqüências da "marmelada" ferrarista.
A repercussão do final do GP da Áustria foi grande no mundo todo. Nem vitórias polêmicas ou acidentes duvidosos costumam ter tanto espaço e dar margem a tamanha movimentação na mídia. Com uma certa ousadia, pode-se dizer que nem o fato de Romário não ter sido convocado para a Copa do Mundo gerou tanta discussão e estardalhaço no Brasil quanto o resultado da prova de domingo, 12/5.
Se houve todo esse escândalo com a decisão da Ferrari, imagine se a equipe cumpre o que vem ameaçando e repete a ordem no tradicional Grande Prêmio de Mônaco, que será disputado no dia 26, ou em qualquer uma das onze etapas que faltam para o final da temporada.
(*) Estudante de Jornalismo da PUC-SP