Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornalistas pioneiras

AFEGANISTÃO

De manhã, a jornalista Marry Nabard Aaeen, 38 anos, trabalha na agência estatal de notícias Bakhtar separada dos colegas homens. A ela cabe cobrir "assuntos de mulher": saúde, alimentação, cultura e crianças. À tarde, Aarren reúne-se com outras quatro jornalistas numa sala minúscula para escrever Seerat, o primeiro semanário independente do Afeganistão "para mulheres feito por mulheres". Embora também procure entretê-las ? afinal, tiveram "vidas terríveis não apenas sob o Talibã, mas nos 23 anos de guerra" ?, o jornal divulga "idéias progressistas" e invade o "campo masculino", cobrindo questões sociais, política, drogas e crime.

Aaeen criou o jornal ? uma página semanal ? em dezembro, menos de um mês depois da queda do Talibã em Cabul. No final de abril, Seerat publicou sua 13? edição, de quatro páginas e tiragem de 1.000 exemplares. As mulheres não têm computadores ou máquinas: ainda escrevem à mão.

Alexandre Plichon, diretor da agência privada que ajuda a financiar o jornal, com doações dos governos americano, britânico e francês, diz que as funcionárias precisam de orientação na produção e na distribuição do semanário. "Mas, como jornalistas, são muito competentes." David Zucchino [Los Angeles Times, 9/5/02] conta que Aaeen, que já assinou editorial exigindo que acabe a lei que manda as afegãs sentarem nos fundos dos ônibus, trabalha agora na matéria que questiona por que o novo governo ainda se recusa a apresentar cantoras nas rádio e TV estatais.

PAQUISTÃO

"Como devem saber, estou na prisão de Landi Kotal. Estou bem e sendo bem tratado. Não se preocupem. Desculpem o inconveniente." Esta foi uma das duas mensagens que o repórter inglês Amardeep Bassey, preso no Paquistão sob acusação de espionagem, conseguiu fazer chegar até seu jornal, o Sunday Mercury. Um amigo foi visitá-lo no presídio em Peshawar, e trouxe os recados. No segundo, lê-se: "As condições são suportáveis porque as pessoas aqui na cadeia são boas e cuidam de mim. Desculpem por tudo isso, vocês devem estar ficando cheios de mim (brincadeira). Só temo ser o centro das atenções quando voltar. Sabem como odeio a imprensa!"

Bassey foi capturado no dia 20/5 na fronteira do Afeganistão porque não tinha visto. O Sunday Mercury negou a acusação de espionagem e disse estar fazendo o possível para libertá-lo. "Estou chocado, Amardeep é um profissional fazendo seu trabalho, e as alegações contra ele são ridículas", indigna-se David Brookes, editor do Mercury.

A União Nacional dos Jornalistas da Grã-Bretanha pede que o governo inglês assegure a libertação de Bassey e diz que ele está em "’sério perigo". O secretário-geral da entidade, Jeremy Dear, alerta: outros jornalistas têm problemas na região. A BBC [14/5/02] informa que Bassey ganhou o prêmio Jornalista Regional 2000.