CRÍTICA DIÁRIA
"No Ar", copyright Folha de S. Paulo
17/5/02 – Tudo ecumênico
A Globo mostrou Lula na cerimônia de filiação de Saturnino Braga, que deixou o PSB de Garotinho.
Coube ao glorioso Alexandre Garcia vislumbrar:
– Na mesa, à esquerda de Lula, estava o superempresário José Alencar. O senador se dispôs a ser o vice de Lula… Até Luiz Antônio de Medeiros, que era adversário de Lula, agora está aprovando a união. O presidente do PL também está animado por causa das pesquisas…
Do presidente do PL, no Jornal da Record:
– Nós vamos apoiar o PT.
Liberais e comunistas, de uma hora para outra, disputam Lula e o PT.
O PC do B também apareceu para dizer que agora está muito próximo de uma aliança com o PT, antes tratado à distância. O partido corre para ser o primeiro a apoiar o petista -e até oferece um vice. Na ironia de Alexandre Garcia:
– Liberais com socialistas, empresário com operário. Tudo ecumênico.
É a proximidade do poder.
Ao mesmo tempo, na manchete do Jornal Nacional, ?o ministro da Justiça oferece ajuda para combater a violência no Rio, mas a governadora diz que não é necessário?. É Benedita da Silva, uma das estrelas de Duda Mendonça.
Também estrela do último programa do marqueteiro, Marta Suplicy negava ontem, na Jovem Pan, a ?mudança de rumo após mais uma troca de secretariado?. E nem palavra sobre o suposto veto a Eduardo Suplicy para vice de Lula.
Por fim, tem o candidato a governador, José Genoino -em quinto numa pesquisa e prometendo reagir, ele que já ocupou o último programa, ?com a propaganda e principalmente com o palanque do Lula?.
O presidenciável se vê puxado por todos os lados.
Garotinho gastou o que parece ter sido seu último cartucho publicitário, num programa curto, para prometer salário mínimo de R$ 400.
Mais que populismo, pareceu um sinal de aflição.
Do acordo com PPS e PDT em Alagoas às entrevistas de Luiz Estevão à Record, em transmissão de futebol, os colloridos estão de volta.
Seguindo no tema, o presidente interino da República relatou que recebeu ligação do primo Fernando Collor de Mello -que teria expressado a ?honra? que é, para a família, a passagem de Marco Aurélio de Mello pelo mesmo cargo.
16/5/02 – Associação de imagem
Foi um bloco collorido como nos velhos tempos, mas de sinal trocado.
O Jornal Nacional abriu noticiando que Marco Aurélio de Mello era o presidente da República, interinamente, mas ?preferiu não ocupar a cadeira do presidente?.
Em seguida, o telejornal destacou a ?confusão na Frente Trabalhista? de Ciro Gomes, por causa do ex-presidente, primo de Marco Aurélio, Fernando Collor de Mello.
Apresentou imagens amadoras do acordo feito em Alagoas entre as legendas ligadas a Ciro e os colloridos, estando presentes um filho de Collor e o irmão de PC Farias.
Depois apresentou os desmentidos do PPS, do PDT e do próprio Ciro, que ?reagiu à associação da imagem dele com Collor?. Tanto reagiu que fugiu de uma entrevista, como mostrou o JN longamente. Ciro se levantou, dizendo:
– É só para botar confusão. Sabe que eu não vou falar não. Esse assunto não me interessa.
Parecia Collor.
– Eu e minha mãe me achamos simpático.
Era José Serra, uma semana atrás, repisando declaração que já havia dado quando do lançamento da candidatura.
Até então, uma semana atrás, o tucano se sentia desobrigado de ser simpático. Fazia ironia com quem cobrava isso dele, como o PFL.
Não mais. Os marqueteiros de Serra acham por bem, agora, alardear a pesquisa Vox Populi que levantou que 74% -e não apenas o próprio e sua mãe- consideram-no uma pessoa ?simpática?.
A última rodada de pesquisas de intenção de voto levou os tucanos todos a campo, além de alguns peemedebistas.
Eles apareceram na inauguração do escritório da campanha em Brasília, por exemplo, para dizer que ?ninguém sabe quem é? Ricardo Sérgio.
E para espalhar, como registrou a Jovem Pan, que o vice do tucano está quase escolhido -seria o presidente do Senado, o que ajudaria uma composição com o PFL.
E para repetir que ?Lula subiu como Serra subiu? quando também fez propaganda. E para lembrar que Serra terá dúzias de comerciais a partir da semana que vem.
Por azar, do lado de fora do escritório, manifestantes aguardavam, aos gritos:
– Eu, eu, eu, o mosquito não morreu.
Sem falar do cartaz que dizia ?José Serra presidengue? e foi destacado nos jornais da Band e da Record. Mas não no Jornal Nacional.
14/5/02 ? Terrorismo
Lula já fala em fragilidade da democracia brasileira.
Fragilidade que se manifestaria a cada eleição. Ou a cada campanha em que é alvo de ?terrorismo barato?, expressão dele para a vinculação das suas chances crescentes de vitória à queda na Bolsa etc.
– Um absurdo.
Era ele, na Jovem Pan. Absurdo ou não, em conversa com correspondentes estrangeiros, Lula tratou de vestir o terno novo, garantindo estabilidade e pagamento da dívida.
O terrorismo retórico que assustou Lula explodiu logo cedo, num diálogo do presidente do Banco Central com o Bom Dia Brasil. Primeira pergunta da Globo:
– O governo considera que os programas dos outros pré-candidatos são tão bons ou tranquilizadores quanto o do candidato do governo?
E Armínio Fraga, no Bom Dia e no Jornal Nacional:
– Não está claro que seja assim… Minha leitura tem a ver com a sensação de dúvida sobre se as coisas continuarão no caminho certo… Os fundamentos da economia brasileira estão bem e no caminho certo, mas isso pode mudar. É essa dúvida que paira no ar.
Ele não parou por aí. Mais Fraga, em campanha:
– O receio que paira no ar, hoje no mundo, tem a ver com a experiência atual na Argentina e não é de que haverá um rompimento imediato. O medo é que se entre numa trajetória onde se vão dando pequenos passos na direção errada. Aí, um belo dia, você acorda e se dá conta de onde está.
Na Argentina -era o que ele queria dizer. Daí a pergunta da Globo, explícita:
– Há risco de o Brasil se transformar num caso como o da Argentina?
– O risco é remoto, mas sempre existe esse risco.
Fosse propaganda eleitoral e a retórica do presidente do Banco Central seria enquadrada como parte de um esforço de demonização de Lula.
Demonização de que também fez uso José Serra, com destaque no mesmo JN -depois de Lula, editado com som grosseiro e em close, prometer demitir Fraga. De Serra:
– É preciso manter a casa arrumada se não o Brasil vira Argentina.
O alvo de Fraga era Lula, em parte. Em outra parte, era o PFL, responsável pelo ?caos? do Congresso, que retarda ?coisas importantes das quais depende o futuro do país?.
No caso do PFL, o terror teve efeito imediato. Como destacou o JN, o relator da CPMF no Senado, o pefelista Bernardo Cabral, já ?vai antecipar? o calendário de votação.
13/5/02 ? Bem na fotografia
– Deus está ajudando.
Era Lula, comentando as datas do primeiro e do segundo turno, por coincidência, também as datas oficial e real de seu aniversário.
Mas obviamente não era só às datas que o petista se referia. Ele tratava das pesquisas, que o apontam em crescimento sem fim aparente.
No caso da presente rodada, as pesquisas refletem o programa dirigido por Duda Mendonça, semana passada. É ele o deus que está ajudando Lula.
Que o diga até o casal presidencial. O relato foi feito por Franklin Martins:
– Até no Palácio da Alvorada fez sucesso o programa do PT. Dona Ruth ficou especialmente emocionada quando Lula chorou ao lembrar-se da morte da primeira mulher. É bom deixar claro que a primeira-dama continua uma serrista convicta, mas mesmo assim tirou o chapéu para o trabalho de Duda Mendonça. Fernando Henrique foi mais contido, mas também achou que Lula ficou muito bem na fotografia.
Também os pesquisadores encontraram na propaganda de TV a explicação para o crescimento do petista. Segundo o diretor do Vox Populi, por exemplo, ?a TV é a dieta calórica? dos pré-candidatos:
– Ele ganha peso. Ele aparece nos comerciais falando do que quer, sempre instruído por publicitários e sem contestação. O efeito é imediato.
Este ano eleitoral é o primeiro em que os partidos têm direito a comerciais, daí, segundo o pesquisador, tal ?superexposição? do pré-candidato.
Daí Roseana Sarney ter subido, ela que foi primeiro à TV, no ano passado. Depois Garotinho. Agora Lula e, em menor proporção, José Serra.
Serra que ainda pode ter esperanças, já que atuará em comerciais por duas semanas, a partir a partir da próxima. E comerciais de Nizan Guanaes.
Para além de Duda Mendonça, é bom registrar que Lula está subindo ao mesmo tempo em que o Partido dos Trabalhadores deixa os sem-terra politicamente isolados, à própria sorte, tanto na prisão de José Rainha quanto no julgamento de Eldorado do Carajás.
Na cobertura do Pará, não se vê menção ao PT.
FHC, ao vivo na Globo News e depois nos telejornais, editado, se juntou a Pedro Malan e Armínio Fraga no ataque terrorista ao PFL, para obter a aprovação da CPMF.
No início da noite, ?os líderes do PFL? cederam e anunciaram que o Senado deve aprovar o imposto em três semanas.