Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Nova invasão de privacidade

E-MAIL PORNÔ NA GM


"E-mail pornográfico provoca 33 demissões na GM

A foto foi enviada pela filial do Brasil aos Estados Unidos. A direção da montadora, em São Caetano do Sul, no ABC paulista, não quis comentar o assunto.

S&atildeatilde;o Paulo ? Há duas semanas uma funcionária da General Motors dos Estados Unidos recebeu, via correio eletrônico, uma daquelas mensagens que normalmente chegam aos usuários da internet enviada não se sabe por quem, que conseguiu o endereço não se sabe como. Era uma foto pornográfica. A funcionária procurou a chefia, que determinou uma investigação para apurar responsabilidades. A bomba virtual estourou na terça-feira na filial do grupo em São Caetano do Sul, no ABC paulista. Ao todo, 33 funcionários foram demitidos e 111 receberam advertência por escrito. Depois da constatação de que a mensagem partiu da rede da unidade brasileira, a GM do Brasil, com apoio da EDS, a prestadora de serviços de internet, rastreou os terminais dos funcionários e identificou o envolvimento de alguns deles com a produção, aquisição, distribuição e retenção de material pornográfico, obsceno ou considerado violento.(…) Agência Estado"


Esta é uma questão muito complicada. Mas não vejo com bons olhos empresas monitorarem de alguma forma o conteúdo da correspondência (seja eletrônica ou não) de seus funcionários. É um abuso que não deveria ser permitido. O argumento é que os funcionários usam o e-mail para fins ilícitos ou prejudiciais à imagem da empresa ? mesmo tendo sido o e-mail anônimo e não-vinculado ao nome da empresa.

Não vejo muita diferença entre esta situação e a violação de um armário pessoal trancado a chave, sob a alegação, por exemplo, de que um determinado funcionário ali guardaria drogas. Não é porque se é um empregado que se deva abrir mão das prerrogativas de cidadão. Hoje é o e-mail (que, no meu entender, é gravíssimo), amanhã o armário pessoal, depois sua pasta e um belo dia o cidadão não terá direito a mais nenhuma espécie de privacidade, sendo controlado integralmente pelos "superiores" (ser superior hierarquicamente não dá direito a violações).

Sem muito esforço pode-se imaginar, a partir do episódio, uma série de efeitos absurdos dessa atitude: a empresa demitir todos os funcionários que detectar que votarão em determinado candidato (o candidato não ideal para a empresa); demissão do empregado que troca correspondência com críticas à empresa etc..

A conta de e-mail que a empresa põe à disposição do empregado traz benefícios a seu serviço e pode ser usada por ele da forma que bem entender, respondendo à Justiça por eventuais crimes que vier a cometer por e-mail (no dia em que forem, caracterizados estes crimes). É como a conta no banco que várias instituições abrem para seus funcionários, para depósito do salário. Abriram a conta, mas não podem ter acesso aos dados. A conta está em nome do empregado e é protegida pelo sigilo bancário ? assim como o e-mail deve ser protegido pelo mesmo sigilo que vale para a correspondência tradicional.

Talvez a falta de empregos leve as pessoas a se submeterem a tais humilhações. O fato é que estamos voltando no tempo, à época da escravidão, e jogando fora toda a luta pelos diretos trabalhistas. O patrão não é dono do empregado. Ele está contratando seus serviços, não comprando você. Nem sua intimidade ou privacidade.