O título deste comentário é uma palavra que significa ‘competência, aptidão’. Assim, Proficiente é ‘aquele que executa as coisas com proficiência; é aquele que faz seu trabalho com competência’. Acho importante quem é Proficiente, tanto que coloco em maiúscula a primeira letra. Talvez devesse grafar a palavra em maiúsculas: PROFICIENTE. Até mesmo considero como um título que deveria ter o grau de PhD/DPhil (Doctor of Philosophy or Doctorate of Philosophy), talvez o de MA (Master of Arts), ou mesmo MSc (Master of Science) sem necessidade de TOEFL (Test Of English as a Foreign Language) e GPA (Graduate Point Average). Simplesmente um título que poderia ser abreviado para P (P de Proficiente).
Sou (e quem me conhece sabe disso) da cor invejada muitas vezes, um bronzeado natural, que muitos esperam alcançar ‘tomando sol’ nas praias e piscinas desse mundo, às custas, ocasionalmente, do risco de câncer de pele. Essa cor me foi concedida como bênção pela genética. De fato, esse conteúdo original meu de melanina é atributo que me foi passado através de minha bisavó, que era negra. É um privilégio, uma herança da qual me orgulho.
Mas, quero mesmo é me reportar ao ocorrido ontem, no jogo válido pela Copa Libertadores da América 2005 realizado em São Paulo, no Estádio do Morumbi. Ressalto que a equipe do São Paulo (que confrontou-se em peleja contra o Quilmes da Argentina) formou com: Rogério Ceni, José Fábio Azevedo, Edcarlos Conceição Santos e Diego Alfredo Lugano; Cícero João de Cézare, Carlos Luciano da Silva, Josué Anunciatto de Oliveira, Danilo Gabriel de Andrade (Renan Teixeira da Silva) e Jenilson Ângelo de Souza; Edinaldo Batista Libanio e Diego Tardelli Martins (Luiz Carlos Bombonato). Esse time foi dirigido pelo técnico Sr. Emerson Leão.
O atleta Edinaldo Batista Libanio (São Paulo), que foi expulso após agredir no rosto um atleta do time do Quilmes (Leandro Desábato), posteriormente prestou queixa no 34º DP (próximo ao estádio onde ocorreu o confronto) alegando haver ocorrido ‘ofensas racistas’ por parte daquele outro atleta.
Um delegado da Polícia Civil de São Paulo, Dr. Nico, resolveu (ou foi resolvido pelo DD Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo) dar voz de prisão ao atleta argentino. Daí possamos considerá-lo PROFICIENTE.
Ao se pronunciarem hoje, também considero PROFICIENTES o Dr. Marcos Antonio Vito Alvarenga (DD Presidente da Comissão de Negros e Assuntos Discriminatórios da OAB-SP), que afirmou: ‘Ele (o atleta Leandro Desábato) chamou Grafite (isso é expressão do DD Dr., na verdade trata-se do atleta Edinaldo Batista Libanio) de ‘macaco’ e ‘negrinho’ (também aqui palavras do DD Dr., que fique bem claro, quero dizer, bem definido) e mandou enfiar a banana em lugar do corpo que eu não posso repetir para vocês agora’. Logo, presume-se que dizer à imprensa ‘macaco’ e ‘negrinho’ não é ofensivo, porém esse ‘lugar do corpo’ o é. Reiteradamente acrescento que as palavras ‘macaco’ e ‘negrinho’ são da expressão do DD Dr.
Outros proficientes foram os DDs. Agnelo Queiroz (ministro do Esporte do Brasil) e Matilde Ribeiro (secretária especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República do Brasil) em nota dizendo que ‘a atitude racista do jogador argentino vai contra todos os valores de igualdade, respeito e união que o esporte promove’. Ressalto, também que a expressão ‘jogador argentino’ está presente na nota amplamente divulgada pela imprensa e somente por isso repito-a aqui.
‘Mata-mata’ geral
O locutor (ou seja lá o que for) cidadão brasileiro conhecido como Galvão Bueno há anos fomenta publicamente discriminação verbal contra ‘los hermanos de La Plata’. Basta que vejam e ouçam os VTs de jogos da Seleção Brasileira ou clubes brasileiros contra argentinos ‘narrados’ pelo dito cidadão. Não me recordo de qualquer ação do Judiciário, do Itamaraty ou de qualquer outra autoridade para coibir isso.
O jogo de futebol tem um linguajar próprio e somente quem o tenha praticado, quer no amador ou no profissional, sabe perfeitamente disso.
O linguajar próprio não é particular do futebol. Há o ‘informatiquês’, o ‘economês’ e por aí vai. Mas, no que tange o futebol, tanto é verdadeiro o vocabulário próprio que quando se fala ‘confronto’, ‘embate’ ou ‘peleja’ não se está referindo a uma guerra. Tampouco quando se diz que o ‘artilheiro’ ‘atira’ não se quer dizer que vai usar uma ‘arma de fogo’. Se se diz que determinado jogador ‘mandou uma bomba’ em direção à ‘defesa adversária’ não significa tratar-se de um terrorista. Todo mundo sabe disso? Se não sabe, deveria sabê-lo. Além do mais, ‘mata-mata’ (knock out round) não é coisa de policiais atirando a esmo num subúrbio. E ‘match’ (luta, competição) não é rixa de traficantes rivais. Deveria ser creditado como impossível confundir uma coisa com a outra. Mas, sob a luz dos holofotes, as coisas parecem estar se confundindo. Até porque tem muita gente que quer se autopromover.
Na primeira dividida…
Grafite é apelido? Ou seria uma ofensa? A partir dos fatos ocorridos pós-partida algumas atitudes devem ser tomadas:
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Quando o Fluminense jogar, se um locutor (ou o que quer que o valha) referir-se a determinado jogador deveria nominá-lo como ‘Afrodescendente Casagrande’…**
Quando o Santos jogar e for entrar o zagueiro que fez a final de 2002 do Campeonato Brasileiro deveria chamá-lo de ‘Afrodescendente’…**
O jogador do Palmeiras, alcunhado de ‘Magrão’ (a imprensa é que o chama assim, fique bem claro que não sou eu) pode sentir-se ofendido se não for chamado de Márcio Rodrigues…**
Nos seriados e filmes americanos que forem transmitidos pela TV (sinal aberto ou pago), quando houver a expressão ‘branquelo’ ou ‘branco azedo’ deveríamos processar não só a transmissora, como o estúdio que gravou e também o artista que pronunciou tal expressão racista…**
Embora minha mulher me chame de ‘Nego’ ou ‘Neguinho’ desde os tempos de namoro (há cerca de 32 anos), na próxima vez que utilizar essa expressão eu a processarei…**
Quando estiver eu na presença de meu primo (e amigo) Flávio e sua mulher há 20 anos (Helena) chamá-lo de ‘Preto’ ou ‘Pretinho’ eu chamarei algum Proficiente…Evidente, na sanidade, que há exageros em determinadas atitudes e leniência em outras das autoridades. Ocorrem, muitas das vezes, arbitrariedades. Tanto é verdade isso que o TJ de São Paulo mantém presa uma jovem que roubou um xampu, e isso há 11 meses, sendo que ela foi agredida por outras presas, tendo seqüelas no olho direito e no lado direito da face.
Eficiência, ou melhor, proficiência deve ser louvada. Até mesmo no título: como símbolo elejo o P. Dessa forma refiro-me ao ministro como P. Agnelo Queiroz e à secretária como P. Matilde Ribeiro. Do mesmo modo o Dr. P. Marcos Antonio Vito Alvarenga. Quanto ao Dr. Nico, um abraço!
Aliás o Dr. Nico não deve jogar futebol, porque na primeira dividida deve dizer ‘vou te prender porque sou autoridade policial’.
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Poeta, São Paulo