OBSERVATÓRIO GLOBAL DA IMPRENSA
L.E.
Começou a funcionar a seção brasileira do Media Watch Global (Observatório Global da Mídia), também referido em correspondência eletrônica como Observatório Internacional da Imprensa. O artigo abaixo foi postado no grupo de discussão <brascuba@egroups.com> [Date: Fri, 17 May 2002 21:00:39?0300] e e editado pela redação do OI.
O OI saúda o surgimento de quantos observatórios da imprensa sejam possíveis ? quanto mais observadores maiores as possibilidades de intervenção social no processo de mediação da informação. Este Observatório reitera seu compromisso de manter-se como fórum independente, aberto a todos, auto-sustentado, sem vinculações políticas ou partidárias e preocupado sobretudo com o desempenho da mídia.
O Observatório da Imprensa é um projeto concebido na criação do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor) da Unicamp, em 1994. Desde abril de 1996 o OI mantém edições regulares na internet e, a partir de 1998, também responsabilizou-se pela produção de um programa semanal de TV transmitido pela rede pública de televisão. Em 2002, ano de sua consolidação institucional, o Observatório da Imprensa passa a ser gerido pelo Instituto Para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), organização da sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos, que substitui o Instituto Universidade-Empresa (Uniemp) como gestor da marca e seu abrigo legal.
OBSERVATÓRIO GLOBAL DA IMPRENSA
Carlos Tibúrcio e Marcel Gomes
Criado durante o II Fórum Social Mundial (Porto Alegre, 2002), o Media Watch Global começou a operar efetivamente na segunda-feira (13/5). Um encontro a Universidade de São Paulo com a delegação de jornalistas e intelectuais estrangeiros selou a criação do Media Watch Brasil (Observatório Global da Imprensa). Foi organizado também um comitê internacional encarregado de dirigir a ONG até sua completa legalização. Participam Roberto Sávio (IPS), Ignacio Ramonet diretor do (Le Monde Diplomatique), Jair Borin (diretor do Departamento de Jornalismo da ECA-USP), Joaquim Enesto Palhares (Agência Carta Maior), Bernardo Kuncinki (professor titular da ECA-USP e colunista da Agência Carta Maior) e Carlos Tibúrcio (membro do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial).
No dia seguinte, a delegação seguiu para Caracas, onde se juntaram a profissionais venezuelanos para organização do Media Watch Venezuela. Novas seções da ONG deverão ser criadas na Itália, Colômbia e Argentina.
Em uma de suas intervenções, Ignácio Ramonet defendeu o Media Watch como uma maneira de o cidadão comum ter acesso à crítica de imprensa, que tende a ficar restrita aos meios acadêmicos e eventos específicos, como o Fórum Social Mundial. Durante muito tempo a informação foi colocada como um quarto poder, que deveria defender os cidadãos dos abusos dos outros poderes. "A globalização econômica criou conglomerados midiáticos que tal porte que o objetivo de informar foi diluído entre outros interresses", disse. Daí que é preciso fortalecer um quinto poder, que seria representado pela sociedade civil e deveria contrabalançar os outros poderes. "É nesse contexto que o Media Watch deve ser pensado, como mais um passo do movimento popular que nasceu em Seattle e criou o Fórum Social de Porto Alegre", afirmou Ramonet.
O método de trabalho no Media Watch ainda está sendo planejado, mas o provável é que seus membros se debrucem sobre o estudo de casos polêmicos. No encontro na USP, foram discutidos possíveis temas, como a cobertura da imprensa nas próximas eleições brasileiras, a partir da insistente vinculação do nome do candidato petista à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, às oscilações das bolsas de valores, o quase monopólio dos meios italianos de comunicação mantido pelo primeiro ministro Sílvio Berlusconi, a ausência de imprensa livre na África ? além, é claro, da conivência da mídia venezuelana com a tentativa de golpe de Estado contra Hugo Chávez.
Chávez apóia
Em um gesto que demonstra a relevância do debate sobre a imprensa no atual cenário de crise institucional da Venezuela, o presidente Hugo Chávez convidou os fundadores do Observatório Global da Imprensa, para em almoço no Palácio Miraflores, sede do governo.
O encontro foi realizado na quarta-feira, 15/5, pouco depois da criação da seção venezuelana do Media Watch, que reúne jornalistas, intelectuais e membros da sociedade civil para um trabalho de monitoramento e crítica da imprensa local. Participaram da reunião jornalistas de 12 países, representando veículos como Le Monde Diplomatique e Radio France Internacional (França), El Mundo (Espanha), Il Manifesto e IPS (Itália), Página 12 (Argentina) e The Guardian (Inglaterra). Agência Carta Maior e O Pasquim 21 representaram o Brasil.
Prometendo falar pouco, Chávez fez uma saudação de cerca de uma hora aos convidados, relatou episódios do golpe de Estado e da reação popular e militar dos setores que saíram às ruas em defesa do governo. O presidente disse esperar que o Media Watch Venezuela contribua para a existência de uma imprensa livre, soberana e imparcial no país.
Não faltam fundamentos à crítica de Chávez. Durante a tentativa de golpe contra seu governo, os principais veículos de comunicação do país, tanto dos meios eletrônicos quanto impressos, adotaram um claro posicionamento favorável aos golpistas, cobrindo com destaque a rápida ascensão do líder empresarial Pedro Carmona. Analistas venezuelanos
declararam que os grupos de comunicação participaram ativamente do movimento. Quando a revolta popular exigiu o retorno de Chávez ao poder, as principais televisões decidiram não mostrar imagens da mobilização, alegando que não queriam incentivar uma possível guerra civil.
Seria inevitável que o almoço se transformasse em uma coletiva de imprensa. Respondendo a El Mundo, o presidente da Venezuela informou que seguiria no mesmo dia para a Cúpula de Madri, onde pretende buscar apoio junto a governos europeus. Il Manifesto perguntou se há risco de outra tentativa de golpe no país. Chávez afirmou que sim, não afastando a possibilidade de tentativas de homicídio contra ele, mas que não será fácil para os golpistas realizar novo ato. Primeiro, porque sofreram um revés inesperado, perderam credibilidade e estão sendo investigados por suas ações. Segundo, porque o governo está fazendo um enorme esforço para acalmar o país, convidando ou mesmo convocando todos os setores da sociedade para um novo diálogo. Em especial, estão sendo abertas negociações com grupos empresariais, meios de comunicação, igrejas, sindicatos e outros setores populares. Os empresários da mídia, porém, já anunciaram que não participarão mais das conversações conciliatórias propostas por Chávez.