Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pela culatra

CASO TIM LOPES

Heitor Reis (*)


Defende-se o silêncio sobre o genocídio, o assassinato em massa que vem sendo cometido em nome do ajuste fiscal. Defende-se o silêncio, enquanto a grande imprensa é cúmplice do saque [e do massacre] sem precedentes que o Brasil vem sofrendo. (Aloysio Biondi, em Contra o jornalismo-enganação)


Tim Lopes será lembrado como mártir, ícone e baluarte na luta contra a violência que assola o país. Mas, ao observarmos o cenário mais amplo desta categoria profissional, descrita pela pena de Aloysio Biondi, sua morte torna-se insignificante. A trucul&ececirc;ncia dos traficantes ao impedir a liberdade de expressão, uma ninharia. Infelizmente, somente percebe isso quem compara esses fatos à destruição da liberdade de expressão e o assassinato da ética que ocorre em proporção infinitamente maior nas redações dos grandes conglomerados da mídia e suas conseqüências.

É lá que se aliena a consciência de nosso povo.

É lá que são cozidas, assadas e cremadas num midiático microondas as verdadeiras informações sobre as causas da desgraça imperante no país. É lá que se impossibilita uma reação mais objetiva contra o genocídio diário de excluídos. É lá que se gera o engano para cauterizar a maioria das mentes por uma informação submissa aos interesses dos poderosos. É lá que encontraremos a razão de desconhecermos a origem real da morte física da parte mais fraca da sociedade.

Tim Lopes será um ponto de referência, pelo qual questionaremos até onde a violência de seus companheiros contra a ética, submetidos aos interesses da grande mídia e comparsas dos responsáveis pela guerra civil em que nos encontramos atualmente. Questionaríamos, se a elite não produzisse apenas inócuas e sentimentais mensagens que focalizam unicamente a parte mais superficial do problema, escondendo a substancial.

Ele, ainda que morto, ressuscitará em nossos neurônios preguiçosos e dopados pelo torpor da notícia pausterizada, alguns brilhos de consciência sobre os interesses que dominam estas gigantescas empresas da mídia, agora sujeitas oficial e legalmente ao capital estrangeiro. Ressuscitaria, se não fosse a abordagem conveniente para a classe dominante.

Ele deverá ser o nome de um projeto de lei, impedindo que os monstros da comunicação (já que os traficantes de morro, diante deste poder, são "fichinhas") tenham condições para limitar a livre expressão da verdade, demitindo ou agindo de forma mais discreta para calar os profissionais da notícia: "Nenhum jornalista poderá ser demitido, com ou sem justa causa, a não ser após processo judicial, com participação do sindicato da categoria, comprovando fato seguramente impeditivo, no que tange exclusivamente ao cumprimento de seu dever de informar".

Deveria ser, se nosso Congresso não fosse também extremamente sensível às forças da dominação e opressão nacional. Estado Plutocrático de fato. Somente assim teremos certeza de que beberemos de fonte límpida e cristalina. Ou melhor, teríamos…

Caso permaneçam as coisas como estão, jornalistas e, conseqüentemente, o povo continuarão sendo manipulados pelos interesses geralmente escusos dos grandes capitalistas, perpetuando as trevas política e social em que nos aprofundamos progressivamente.

Lembre-se que o FMI foi de uma clareza franciscana ao afirmar que leis defendendo a Argentina contra atitudes lesivas de empresas e bancos impedem investimentos externos. Trata-se de uma contundente confissão dos objetivos criminosos (e simbolicamente fálicos) destas entidades, para as quais nosso país teve escancaradas suas pernas… Perdão! Suas portas.

Ou controlamos o crime organizado, tanto em sua versão legal, quanto ilegal, as quais são duas faces de uma mesma moeda, ou seremos por elas ainda mais dominados. Escravizados… Abaixo a cleptocracia!

(*) Engenheiro civil em Belo Horizonte